Jesus, o Pão Eucarístico

 

Quinta feira da terceira semana da páscoa de Jesus, o Cristo Ressuscitado. Ele vive e quer que todos nós também vivamos na perspectiva de sua presença em nós. Ele fazendo conosco a história acontecer. Não estamos sós, mas Deus se faz presente em nós, através da “epifania”, ou seja, a manifestação plena de Deus na pessoa de Jesus, o Messias enviado, encarnado na história humana, fazendo-se um conosco ate o fim dos tempos. Não um Deus distante e nas alturas, concepção presente no Antigo Testamento, mas inserido nas contradições da história humana.

Rezei hoje a oração do silêncio. Meus inquilinos desta vez não se fizeram presentes. Talvez por causa do clima de chuva que pairava sobre o tempo. Meu coração fechou sobre si mesmo, contemplando esta sintonia entre o humano e as demais criaturas presentes na natureza. Aqui e acolá, um cântico distante de algum pássaro, anunciando a chegada de mais um dia. Deus mesmo colocando em cada um deles suas características peculiares. Neste sentido, os indígenas sabem melhor do que nós apreciar o que cada um destes seres tem a nos oferecer como dádiva do Criador.

Busquei na minha oração matinal, seguir na mesma toada de Jesus que mais uma vez diz aos seus seguidores que Ele é o Pão da vida. (Jo 6,48) O Filho de Deus se dando como alimento para aqueles que o desejam segui-lo mais de perto. Jesus o pão descido do céu. O pão eucarístico que possibilita alimentar-nos para seguir em frente, sendo um com Ele na missão de anunciar o “querigma”, que nada mais que a Boa Nova (Evangelho) de Deus. A mensagem clara e objetiva de Deus que enviou o seu Filho para que todos, indistintamente, tenhamos vida em plenitude. (Jo 10,10).

Jesus se apresenta como aquele que veio diretamente de Deus para dar a vida definitiva às pessoas. Evidentemente que os seus adversários não admitiram em hipótese alguma que alguém, ainda mais vindo de Nazaré na Galileia, pudesse ter esta origem divina, da qual falava Jesus e que nem pudesse dar a vida definitiva. Seus adversários fizeram de tudo para desqualificar esta mensagem de Jesus (querigma), por mais que Ele afirmasse que a vida definitiva se encontrava justamente na condição humana d’Ele (carne). Vida definitiva que começa quando as pessoas, comprometendo-se com Jesus, aceitam a própria condição humana e vivem em favor dos outros.

Jesus sendo eucarístico para os seus. Se lá na quinta feira santa, Ele quis celebrar com eles a Eucaristia, instituindo-a, aqui, Ele está também se fazendo eucarístico, sendo pão para saciar a fome das pessoas e também alimento substancial, para dar continuidade na missão de anunciar e dar testemunho do Cristo Ressuscitado, vivo no meio de nós. Todas as vezes que participamos desta eucaristia, estamos realizando o memorial do calvário: Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. E ao celebrar esta memória, devemos nos tornar também “Crísticos” e “Eucarísticos” para as pessoas que conosco vivem a convivência diária.

Ah se compreendêssemos a dimensão exata da Eucaristia! Ficaríamos com medo de participar efetivamente dela. Comungar é tornar-se um perigo, como cantamos numa das nossas canções no momento da comunhão. Aqueles e aquelas que, de fato, comungam do projeto de Deus, revelado em Jesus, seriamos os incomodados e incomodaríamos. Desta forma, não são as muitas participações na eucaristia que nos coloca em sintonia com Jesus e seu projeto, mas o comprometimento com aquilo Ele quer significar, estando em nosso meio. De repente as muitas eucaristias podem transformar-nos em autenticas “papa hóstias”, sem nos envolvermos com a perspectiva do Reino.

Jesus o pão vivo descido do céu. O mundo está faminto de pão. Pão que se ramifica nas mais variadas formas: fome de alimento; fome de justiça; fome de emprego; fome de moradia; fome de saúde; fome de bem estar social… Como bem expressou o livro do Deuteronômio: “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca do Senhor” (Dt 8,3) Num de seus livros, o frade dominicano Frei Betto, assim também expressava: Não é só de pão que temos fome. Como diz o poeta cubano Roberto Retamar, a fome de pão é saciável, é fruto da justiça; voraz e insaciável é a fome de beleza – essa compulsiva atração que sentimos pela transcendência”. (Fome de pão e de beleza, Editora Siciliano, 1990)

Embevecidos pelo “querigma” (Boa Nova) e alimentados com o pão da vida que é Jesus, sejamos “Crísticos” e “Eucarísticos”, construindo o Reino de Deus entre nós, como sempre desejou Jesus. E, a exemplo do padre jesuíta, teólogo, filósofo e paleontólogo francês Teilhard de Chardin, possamos “cristificar” todo universo, como desejo incontido de Deus, de transformar tudo em “outro Cristo”, a partir de cada um de nós, que nos alimentamos d’Ele. Sejamos instrumentos da vontade de Deus!