A quem iremos

Sábado da terceira semana da páscoa. Mais um sábado chegou e nós seguimos nas nossas trilhas da história. Com muitas limitações. A pandemia ainda nos assusta e mete muito medo. Muitas pessoas sendo infectadas e outras morrendo. Fomos impactados nesta semana com a morte de uma jovem mãe (Roseane). Estava grávida de 5 meses e o bebê estava morto dentro de si. Mãe e filho partiram para a casa do Pai. Misericórdia, Senhor! Até quando? Como rezamos no salmo: “Esteja sobre nós o teu amor, assim como está em ti a nossa esperança”. (Sl 33,22)
Uma doença cruel e desumana, que nos isola das pessoas que mais amamos. As pessoas são internadas para o tratamento e a partir de então, não veem mais os seus e nem eles a ela. Ficamos a mercê dos boletins médicos a cada dia, vendo o quadro se agravar. Num dos depoimentos de uma destas pacientes, ela relata em vídeo antes de vir a óbito, a sua frustração de não ter conhecido a sua neta que acabara de nascer de sua filha mais nova, principalmente porque ela já vinha tentando engravidar há vários anos. Como é triste esta situação!
No dia de hoje a liturgia encerra o capitulo sexto do evangelho da comunidade joanina. Nele, Jesus continua o seu dialogo com os seus seguidores e seguidoras, preparando-os para a continuidade do trabalho que cada um e cada uma teria pela frente, no anúncio e, sobretudo, no testemunho da Boa Nova. Jesus falando sobre o Pão da Vida, que é Ele mesmo que se dá como alimento para as nossas vidas. Todavia, as palavras de Jesus são duras demais para algumas daquelas pessoas. Tanto que, a partir daquele momento, “muitos o abandonaram e não mais andavam com ele”. (Jo 6,66).,
O nosso compromisso com Deus se dá inicialmente no plano individual. A opção por segui-lo ou não é de cada pessoa. A adesão ao Projeto de Deus requer uma resposta individualizada, muito embora a concretização dela se dá no envolvimento com a caminhada dos irmãos e irmãs na história. Nenhum de nós assume a sua fé no seguimento de Jesus para se isolar no seu mundinho particular, mas no sentido de construir o Reino de Justiça, igualdade e fraternidade aqui e agora. A relação com Deus pressupõe inevitavelmente a relação com os irmãos. Portanto, o desafio é de ser como Jesus. Anunciar o Reino e denunciar o anti-Reino.
Diante daqueles que abandonaram a luta e desistiram da caminhada com Jesus, Ele mesmo se vira para os que permaneceram firmes e os questiona se eles também queriam fazer o mesmo caminho daqueles primeiros. Como sempre, a reação de Pedro é paradigmática. Representando os demais, com toda a sua simplicidade ele conclui: “A quem iremos, nós Senhor? Só Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos” (Jo 6,68-69). Com esta atitude, há uma demonstração clara de que estão mais abertos à ação do Espírito santo de Deus sobre as suas vidas. A luta continua!
Nós também temos motivos de sobra para não continuar na luta. A noite escura da história nos desanima por vezes. Vamos perdendo aos poucos a vontade de lutar, principalmente diante de tantas frustrações. Estamos vivendo um dos piores momentos de nossa história republicana. Contudo, é nestas horas que precisamos unir as nossas forças. Além da certeza de contar com esta presença inefável do próprio Jesus, que Pedro, no texto de hoje, resumiu em poucas palavras, façamos nossa uma das frases ditas pelo monge tibetano Dalai Lama: “É durante as fases de maior adversidade que surgem as grandes oportunidades”
Somos ou queremos ser seguidores e seguidoras deste Jesus de Nazaré. Temos muitos desafios pela frente e não é esta a hora de pensar em desistir e abandonar a luta. Ele é um conosco e caminha a nossa caminhada. Ele se faz pão que nos alimenta em nossa jornada pela vida. Todas as vezes que, em comunidade, caminhamos e comungamos deste pão que é Jesus, sentimos revitalizados, renovando o nosso compromisso. O ponto alto da celebração eucarística é quando o celebrante, através da “epiclese” (Vem do grego, epi-kaleo (chamar sobre); em latim, in-vocare), invoca a Deus para que envie o seu Espírito Santo e transforme as coisas, as pessoas e também “abençoe”, “santifique”, “transforme” o pão e o vinho, no corpo e sangue d’Ele. Comungar deste pão é estar sempre pronto a ser pão, ser Jesus na vida das pessoas, afinal só Ele tem palavras de vida plena.