Unidade na diversidade

Terça feira da quarta semana da páscoa do Ressuscitado. Ele vive e está no meio de nós. É um conosco. Deus se revela plenamente no Filho e vem fazer morada em nós. Já não estamos sós, mas Ele se faz um conosco. O crucificado é o Ressuscitado. O mártir Jesus venceu a morte. Para desespero de seus opositores, a aristocracia judaica, que via, a cada dia, o movimento de Jesus ganhar forma e corpo na pessoa de seus seguidores. A história humana ganha um novo fôlego, uma nova etapa.

Aproveitando do distanciamento social, estou relendo uma das pérolas que tenho na minha humilde biblioteca. Tomei às mãos o livro de Teilhard de Chardin (1881-1955), “O Fenômeno Humano”. Obra publicada em 1955, pela Editora Cultrix. Nesta sua obra prima, Chardin descreve para nós uma verdadeira História do Universo, desde o Nada até o Todo do futuro, quando ocorrerá o Alfa e Omega, segundo ele, com a “Cristicação do Universo”. Uma cristologia que somente poderia sair desta mente brilhante deste padre Jesuíta francês, que muito me marcou desde os tempos do curso de filosofia pela PUC de Campinas nos idos de 1979 a 1982. Recomendo a leitura.
Depois do espetáculo proporcionado pela lua de ontem, prateando o Araguaia, o sol trouxe o dia entre nuvens. O sol trazer o dia é ótimo! Na realidade, é assim que os povos indígenas concebem cada amanhecer. Segundo eles, se o sol não vai buscar o dia, o dia não vem até nós. Entre uma e outra nuvem, o astro rei se fez presente, desta vez dourando o mesmo rio. Também outro espetáculo a parte. Observando esta Teofania, que é a manifestação visível do próprio Deus, impossível não pensar que por detrás de tudo, está o Criador. Lembrando que a palavra teofania tem origem na combinação de duas palavras gregas, theos, que significa “Deus”, e phainein, que significa “mostrar” ou “manifestar”. Portanto, literalmente teofania significa a “manifestação de Deus” através da lua e do sol no caso.

Se para o povo semita do Antigo Testamento, Deus se manifestava de forma “filosófica”: “Eu Sou aquele que Sou”. (Ex 3,14), com a Encarnação do Verbo, Deus se faz plenamente na pessoa de Jesus. Um Deus presente na história humana em carne e osso. Jesus, o Deus Filho, o verdadeiro e total Dom do Pai, é o único que pode falar de Deus Pai, porque comunica o amor e a fidelidade do Deus que dá a vida às pessoas. Numa profunda intimidade com Deus, Jesus se revela a Imagem do Pai, e o Pai se vê totalmente no Filho, ambos num eterno diálogo e mútua comunicação.

“Eu e o Pai somos um” (Jo 10, 30), garante Jesus diante das autoridades judaicas. Jesus é o mistério “indizível”, que não dá para traduzir em palavras, em discursos teológicos. Nesta compreensão, Jesus, é o Verbo (Palavra de Deus). Ele é a luz que brilha nas trevas e ilumina a consciência de todo ser humano. Luz esta que nos conduzirá ao Deus que é amor e fidelidade. Um Deus que é fiel ao que prometeu. Ou seja, através de Jesus, Deus conduzirá a humanidade para onde ela jamais teria pensado: partilhar a própria vida e felicidade de Deus. É para esta finalidade que a Palavra se fez pessoa humana e veio estabelecer a sua morada neste mundo.

Jesus demonstra profunda intimidade sincrônica entre Ele e Deus. Mediante tal intimidade, percebemos que a humanidade já não está mais condenada a caminhar cegamente, guiando-se por pequenas luzes no meio das trevas, por pequenas manifestações de Deus, mas pelo próprio Jesus. Manifestação total de Deus. “Jesus que é a luz que veio para tornar filhos de Deus todos os viventes. Um só é o Filho, porém, todos podem tornar-se bem mais do que filhos adotivos: nasceram de Deus. Esta á a comunicação de Jesus que as autoridades judaicas resistiram em querer acreditar que fosse verdade. Estavam apegados ainda aquilo que Deus havia manifestado em Moisés. Deus tinha dado uma lei por meio de Moisés. E todos os judeus achavam que essa lei era o maior presente de Deus. Na realidade, era bem mais o que Deus tinha reservado para todos. Jesus é o Deus Filho, o verdadeiro e total Dom do Pai, é o único que pode falar de Deus, porque comunica o amor e a fidelidade do Deus que dá a vida à todos e todas. Que tenhamos esta mesma intimidade, senão com Deus Pai, pelo na pessoa do Deus Filho, que se fez um de nós!