O caminho de esperançamento

 

Sexta feira da quarta semana da páscoa. O último “sextar” do mês. O mês chegou ao fim. Abril se despede e maio vem chegando. Se abril foi o mês das lutas pela terra e pelos direitos dos povos originários, maio vem nos trazendo nossas mães e, dentre elas, a Mãe de todos nós: Maria de Nazaré. Mulher forte e destemida que nos ajuda a compreender melhor a participação ‘sine qua non’ “delas” no projeto soteriológico de Deus para a humanidade. Em tempo, Soteriologia é uma palavra formada a partir de dois termos gregos (Soterios(, que significa “salvação” e (logos), que significa “palavra”, “princípio”. Desta forma, a soteriologia é o estudo da salvação humana pensada pelo próprio Deus para a humanidade.

Rezei nesta manhã, contemplando “o caminho” que temos percorrido neste ano e meio de nossas vidas. Um caminho diferente, sem dúvida, que nenhum de nós imaginava que fossemos trilhar. Nesta trajetória, as incertezas falam mais alto. Ainda não conseguimos vislumbrar o que pode vir a ser à nossa frente. A humanidade inteira se pergunta onde tudo isso irá chegar. Certo é que precisamos caminhar, construindo a nossa história de vida, cuidando de nós, cuidando dos outros, olhando sempre para a nossa Mãe Terra que está cansada de nossa presença por aqui, de tanto que a maltratamos nestes últimos tempos.

No evangelho de hoje, Jesus anuncia a si mesmo como “O Caminho”. Fiquei pensando neste caminho ao qual Jesus se reporta. Não se trata de qualquer caminho, mas o caminho. Trilhar este caminho é ir de encontro à sua proposta, fazendo um com Ele na perspectiva de almejar o Reino desejado por Deus para os seus. Um caminho difícil de ser trilhado, pois exige de cada qual que trilha este caminho, coerência, fidelidade e compromisso às mesmas causas de Jesus. Não se trata de um caminhar isoladamente, cada qual fazendo o seu caminho desconexo, mas em comunidade. Sabendo de antemão que a comunidade que segue Jesus, não caminha para o fracasso, pois a meta é a vida. Jesus não apresenta uma utopia distante, mas convida a percorrer um caminho historicamente concreto. Inspirada nos sinais que Jesus realizou, a comunidade criará novos sinais dentro do mundo, abrindo espaços de esperança e vida fraterna.

Falar de caminho e, sobretudo, de esperança, é falar de Paulo Freire (1921-1997), que neste ano, comemoramos o centenário de seu nascimento. Este grande educador, patrono da educação brasileira, pela Lei nº 12.612/2020, fez uma caminhada, extremamente significativa, pelos meandros da educação brasileira, ajudando-nos a pensar uma educação que não fosse bancária, mas libertadora. Freire soube entender a proposta de Jesus, pois sempre pensou a educação como mecanismo de libertação do oprimido. Segundo ele, cada educador precisa trilhar o caminho de uma pedagogia libertária e libertadora, no intuito de levar o oprimido a perceber as causas de sua opressão/exploração, diante do sistema, uma vez que, “Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor”.

A palavra esperança sempre esteve no horizonte de sua proposta educacional. Mas uma esperança diferente daquela que estamos acostumados a referendá-la. Na sua concepção, a palavra esperança que vem do verbo esperar não é propriamente esperança. É simplesmente uma espera passiva. Para o seu lugar, ele nos traz a palavra “esperançar”, que é se levantar. Esperançar é ir atrás, conquistar. Esperançar é construir, edificar. Esperançar é não desistir nunca, jamais! Esperançar é, antes de tudo, levar adiante as convicções. Esperançar é juntar-se com as outras pessoas e fazer acontecer diferente, de outro modo possível.

Juntando a ideia de Paulo Freire, com a proposta de caminho ao qual Jesus se coloca, temos a incumbência de fazer acontecer o Reino de Deus, esperançando na encarnação do verbo que veio fazer a caminhada conosco. Não estamos sós e nem abandonados à própria sorte. Cabe-nos seguir adiante e não ficarmos esperando cair do céu um milagre, como se fosse um passe de mágica, mas construindo juntos, acreditando sempre que juntos somos fortes, ainda mais com Ele no meio de nós. Quando fazemos a caminhada juntos, sentimos que os desafios e obstáculos da trajetória se tornam mais fáceis de serem superados. Neste sentido, vale lembrar de uma das frases atribuídas a grande poetisa goiana, Cora Coralina, que assim dizia: “O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher.” Que a semeadura e a colheita, ao longo da caminhada, nos fortaleça cada vez mais, para não cairmos na tentação de querer caminhar sozinhos! Esperançando sempre no caminho que é Ele caminhando conosco.