A Pessoa do Espírito Santo e a Esperança Cristã

Na Liturgia deste Domingo, Solenidade de Pentecostes, veremos, na 1a Leitura (At 2, 1-11), Salmo 103 (104), na 2ª Leitura (1Cor 12, 3b-7.12-13) e no Evangelho (Jo 20, 19-23), a vinda do Espírito Santo de forma pública, festa da Aliança, festa da entrega da Lei de Deus, escrita não mais na pedra, mas no coração de cada um de nós.

Nos Evangelhos, vemos o Espírito Santo tomando conta de Jesus; agora, toma conta da Igreja. Nasce a Igreja. Agora é hora de ela evangelizar, isto é, é hora de cada um de nós cumprir a missão que nos foi confiada.

No Antigo Testamento, o Espírito Santo se manifestava em uns e outros, mas agora se manifesta em todos nós, como nos diz o Catecismo da Igreja Católica:

“O Espírito Santo, pela sua graça, é o primeiro no despertar da nossa fé e na vida nova que consiste em conhecer o Pai e Aquele que Ele enviou, Jesus Cristo. No entanto, Ele é o último na revelação das Pessoas da Santíssima Trindade. São Gregório de Nazianzo, ‘o Teólogo’, explica esta progressão pela pedagogia da ‘condescendência’ divina: o Antigo Testamento proclamava manifestamente o Pai e mais obscuramente o Filho. O Novo manifestou o Filho e fez entrever a divindade do Espírito. Agora, porém, o próprio Espírito vive conosco e manifesta-se a nós mais abertamente. Com efeito, quando ainda não se confessava a divindade do Pai, não era prudente proclamar abertamente o Filho: e quando a divindade do Filho ainda não era admitida, não era prudente acrescentar o Espírito Santo como um fardo suplementar, para empregar uma expressão um tanto ousada […] É por avanços e progressões ‘de glória em glória’ que a luz da Trindade brilhará em mais esplendorosas claridades” (CIC, 683).

No Antigo Testamento, Deus falava pelo fogo; agora, desce sobre cada um de nós: “Apareceu-lhes então uma espécie de línguas de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles” (At 2, 3).

O Espírito Santo vem restabelecer a unidade, reparar a confusão de línguas (Babel) pela prática da caridade, linguagem que o outro entende: “ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar em línguas… e cada um os ouvia falar na sua própria língua”. Com nosso testemunho de amor e unidade, realizamos o desejo de Jesus: “Que todos sejam um, para que o mundo creia em seu Reino”.

A experiência de Pentecostes, manifestação do Espírito Santo, é uma narração simbólica da efusão, derramamento, força transformadora que acontece, também, em nós, quando fazemos a experiência forte de Deus em nossa vida. Geralmente, muitas pessoas, também hoje, expressam com muitos sinais psicológicos esse acontecimento espiritual: choram, desmaiam, oram em línguas, acontecem curas, enfim, irrompem em um jeito novo de viver o batismo, provocado por essa experiência vivida no Espírito Santo.

Jesus Cristo foi o nosso consolador, defensor, advogado, Primeiro Paráclito; agora, Ele nos manda o Outro Paráclito para continuar nos protegendo.

Na 2ª Leitura da Carta de Paulo aos Coríntios, a Palavra de Deus nos diz que cada um de nós é um dom, para o bem de toda humanidade. Quantas pessoas contribuíram para que Deus chegasse a nossa vida. Se hoje temos esperança e temos algum mérito, é por que alguém nos ajudou e a graça de Deus veio em nosso socorro. Então, cheios dos dons do Espírito Santo, somos instrumentos de salvação, dons não causam confusão e divisão. Temos que acolher, e não desprezar, aqueles que fazem o bem, mesmo que o façam diferente de nós. Deus não precisa nos pedir licença para agir e se manifestar nos mais diversos ambientes.

No Evangelho, vemos que, para Jesus, não há barreiras que impeçam sua chegada. Ele nos saúda com a paz, a paz é a saudação dos vencedores. Enquanto gênero humano, somos todos iguais: fracos, pecadores, machucamos, somos machucados etc; mas só os fortes têm coragem de pedir perdão, de voltar atrás, de pedir desculpas, de voltar ao diálogo. Os fracos na fé jamais se dobram, eles sempre dizem que têm razão, não se deixam corrigir e, infelizmente, permanecem fechados em um mundo tão medíocre e hostil. Que pena! Nasceram para serem águias e alçar voos altos em dignidade e vivem e se comportam como galinhas. Que pena! Geralmente vão morrer como vivem.

Peçamos a Jesus que nos cure do medo de amar e de ser livres. Certamente, Jesus nos enviará seu Espírito Santo que nos recriará e nos capacitará para a grande missão: missão de ser feliz e doar a nossa própria vida.

Doar a vida não é necessariamente morrer por alguém ou por uma causa, mas, acima de tudo, viver, viver por alguém, pela causa do Reino, com heroísmo; viver nas grandes periferias, como nos diz o Papa Francisco: A Igreja deve chegar às ‘periferias’:

 “A Igreja é chamada a sair de si mesma e ir para as periferias, não apenas geográficas, mas também as periferias existenciais: as do mistério do pecado, da dor, das injustiças, das ignorâncias e recusa religiosa, do pensamento, de toda miséria. A Igreja ‘em saída’ é uma Igreja com as portas abertas. Sair em direção aos outros para chegar às periferias humanas não significa correr pelo mundo sem direção nem sentido” (EG, 46).

“Ouvir o clamor dos pobres, “assumir alegrias e angústias” especialmente de quem sobrevive nas periferias urbanas e rurais, como as/os sem terras e as/os sem teto, reconhecer todo esse povo como ‘lesado em seus direitos’, escandalizar-se com a fome ao lado de alimento desperdiçado, proclamar firmemente que a pobreza e a miséria são causadas por violações de direitos” (EG, 191).

Quando alguém ama a Deus em primeiro lugar, será capaz de grandes sacrifícios, renúncias e uma entrega total ao serviço do Reino. “Não se distingam as ações humanas a não ser pela raiz da caridade. Uma vez por todas, foi-te dado somente um breve mandamento: Ama e faze o que quiseres. Se te calas, cala-te movido pelo amor; se falas em tom alto, fala por amor; se perdoas, perdoa por amor. Tem no fundo do coração a raiz do amor: dessa raiz não pode sair senão o bem!” (Santo Agostinho. Comentário da 1ª Epístola de São João VII, 8). Ou ainda: “Dois amores fundaram, pois, duas cidades, a saber: o amor próprio, levado ao desprezo a Deus, a terrena; o amor a Deus, levado ao desprezo de si próprio, a celestial. Gloria-se a primeira em si mesma e a segunda em Deus, porque aquela busca a glória dos homens, e tem esta por máxima a glória de Deus, testemunha de sua consciência” (Santo Agostinho, A cidade de Deus XIV, 28).

Certamente, quando pedimos ao Espírito Santo, ele vem em socorro de nossas fraquezas:

Ó Espírito Santo, Amor do Pai, e do Filho, inspirai-me sempre:

O que devo pensar,

O que devo dizer,

O que devo calar,

Como devo agir,

O que devo fazer,

Para a glória de Deus,

Para o bem das almas

E para a minha própria Santificação.

Espírito Santo,

Dai-me agudeza para entender,

Capacidade para reter,

Método e faculdade para aprender,

Sutileza para interpretar,

Graça e eficácia para falar.

Dai-me acerto para começar

Direção para progredir

E perfeição ao acabar.

Amém.

Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.