Na Liturgia desta quarta-feira da V Semana do Tempo Pascal, vemos, na 1a Leitura (At 15,1-6), que é o Espírito Santo de Deus que conduz a Igreja frente aos conflitos de ontem e de hoje. A questão que se levanta na evangelização é se o importante para a salvação é a fé em Jesus Cristo ou seguir as imposições culturais? O Evangelho será sempre o fermento libertador, quando o futuro da Igreja está em risco. A Igreja, por meio dos apóstolos, e animada pelo Espírito Santo, deve discernir o que é essencial diante dos desafios do mundo. O importante é a encarnação do Projeto do Reino de Deus na realidade dos povos. Não são os ritos (circuncisão e semelhantes observâncias) que salvam, mas unicamente a graça redentora de Cristo.
No Evangelho (Jo 15,1-8), o povo de Deus é apresentado sob a imagem agrícola da vinha. O critério para saber se existe comunhão com Deus são os frutos, manifestados pela observância dos mandamentos e pelo amor fraterno. Algumas questões fundamentais deste evangelho: Que frutos produzimos para o projeto do Reino? É possível viver a fé sem vínculo com a comunidade? O Apóstolo Paulo, após a experiência com o ressuscitado, viveu sozinho ou em comunidade? Diante dos fracassos dos outros, como nos comportamos? Depois que entrei para determinado seguimento pastoral, aumentou a caridade em mim, sou mais humilde, sou fiel aos valores do Reino?
Sempre comento com alguns irmãos no ministério e com alguns seminaristas que duas coisas que admiro nos consagrados e, também, nos líderes cristãos são: se são trabalhadores e se vivem a caridade, pois alguns sabem tudo de ritos litúrgicos, de baixar a cabeça, erguer a cabeça etc., mas se esquecem de que a maior virtude é a caridade. Em comunidade, podemos nos digladiar em debates calorosos, discordar nas ideias, defender nosso ponto de vista, mas, acabando este momento, amar a pessoa como ícone de Deus. Se, por causa de uma discussão, nos fecharmos aos outros, é sinal de grande imaturidade.
A Constituição Dogmática Lumen Gentium sobre a igreja, Luz dos Povos, diz o seguinte, sobre os que estão na Igreja pela fé, pelos sacramentos, mas não pela caridade:
“São plenamente incorporados à sociedade que é a Igreja aqueles que, tendo o Espírito de Cristo, aceitam toda a sua organização e os meios de salvação nela instituídos, e que, pelos laços da profissão da fé, dós sacramentos, do governo eclesiástico e da comunhão, se unem, na sua estrutura visível, com Cristo, que a governa por meio do Sumo Pontífice e dos Bispos. Não se salva, porém, embora incorporado à Igreja, quem não persevera na caridade: permanecendo na Igreja pelo ‘corpo’, não está nela com o coração” (LG, 14).
O Papa São João Paulo II, também nos alerta sobre a falta de caridade de algumas pessoas em relação às autoridades eclesiásticas:
“A Igreja, têm o grave dever de educar os fiéis para o discernimento moral, para o empenhamento no verdadeiro bem e para o recurso confiante à graça divina… A discordância, feita de interesseiras contestações e polêmicas através dos meios de comunicação social, é contrária à comunhão eclesial e à reta compreensão da constituição hierárquica do Povo de Deus. Na oposição aos ensinamentos dos Pastores, não se pode reconhecer uma legítima expressão da liberdade cristã nem da diversidade dos dons do Espírito” (Veritates Splendor – O Esplendor da Verdade, 113).
A caridade cobre milhões de pecados (1Pd 4,8). Neste sentido podemos dizer que não há salvação fora da caridade. “Nas coisas essenciais, a unidade; nas coisas relativas, a liberdade; mas em todas as coisas, a caridade” (Santo Agostinho).
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.
Reflexão Litúrgica: Quarta-feira, 05/05/2021, V Semana do Tempo Pascal