Na Liturgia desta quinta-feira da V Semana do Tempo Pascal, vemos, na 1a Leitura (At 15,7-21), que o discurso de Pedro é fundamental e contém a orientação conciliar. Pedro parte de fatos concretos: ele foi o primeiro evangelizador dos pagãos e compreendeu que Deus não faz distinção entre as pessoas, mas concebe a todos o mesmo Espírito Santo que leva ao seguimento de Jesus Cristo. Depois, Pedro salienta que os costumes judaicos são elementos culturais que não devem ser impostos aos pagãos, pois o que salva a todos é a graça que leva à fé em Jesus Cristo. Barnabé e Paulo reforçam o testemunho de Pedro contando vários exemplos no trabalho de evangelização. Por fim, Tiago indica as linhas concretas de um comportamento cristão inspirado na caridade.
Esta leitura continua muito atual, pois ao longo da história, a Igreja será continuamente tentada a ligar-se e identificar-se com práticas, observâncias, modelos de cultura, que lhe tolherão a liberdade e a plena disponibilidade para os novos povos que lhe baterão à porta. Uma Igreja livre e fiel a Cristo deverá ser sempre consciente de que nada se deve impor àqueles que se convertem a Deus, senão somente os valores do Reino anunciados por Jesus Cristo.
No Evangelho (Jo 15,9-11), Jesus propõe aos discípulos um novo modelo de convivência humana, baseado na fraternidade: obedecer, amar, cultivar amizades, partilhar alegrias e dificuldades. Jesus não quer uma adesão de servos que obedecem a um senhor, mas uma adesão livre, de amigos. E a amizade é um dom: Jesus é o amigo que dá a vida pelos amigos. Dar a vida não significa, necessariamente, morrer por alguém, mas viver com desprendimento, ser solidário, compreensivo, ser um colaborador, um confidente, enfim, fazer da vida um presente valioso para este alguém, não como um peso, obrigação, mas por prazer, por amor. Lembro-me do exemplo de uma irmã religiosa que trabalhava num leprosário há muitos anos e, um dia, uma senhora que fora visitar o ambiente, ao final da visita, muito compelida, disse: “Irmã, eu não trabalharia aqui nem que me dessem milhões por mês”, ao que a irmã respondeu: “nem eu”.
Ser amigo é ser transparente, verdadeiro, é revelar-se, é entrar em comunhão de vida, de planos e ideais. Sempre digo que os amigos, embora nos conheçam, nos amam. Quem muito ama, muito se comunica, toma a iniciativa, muito perdoa. Jesus é este amigo que nos conhece profundamente, sempre vem ao nosso encontro para nos amar e perdoar.
Enfim, neste Evangelho, o fruto que a comunidade é chamada a produzir é o amor mútuo. Unido a Jesus, cada membro é chamado a testemunhá-lo, colocando a comunidade em contínua expansão e crescimento.
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.