Jesus, o rosto materno de Deus

Sexto domingo da páscoa. Estamos chegando a 1/3 do mês de maio. Um domingo especial, pois neste dia, muitas famílias estão comemorando/celebrando o Dia das Mães. Mais do que um dia comercial, para vender os produtos, nos fazendo consumistas, próprio da sociedade capitalista, este é o dia de lembramos mais diretamente de nossas progenitoras. Ademais, os donos das lojas estão pouco se lixando para as nossas mães, conquanto elas consumam os produtos disponibilizados por eles no mercado.

Minha inspiração maior hoje veio de uma mamãe tucana, alimentando o seu filhote numa das árvores de meu quintal. Foi a primeira vez que vi esta cena. Geralmente são os sabiás que atraem o melhor olhar com tais cenas. Mesmo achando que fosse desengonçado, pelo tamanho do bico, aquela mamãe demonstrou tamanha destreza que fiquei fascinado. Rezei também trazendo presente em meu coração aquela que me deu a vida, em todos os sentidos. Ela hoje, encontra-se nos braços do Pai. Fez a sua páscoa ainda muito jovem, aos 41 anos de idade, no ano de 1976, depois de gestar uma prole de treze filhos. Mulher guerreira, que soube como educar os seus filhos, com princípios, valores. Mal concluiu o ensino fundamental, mas dela aprendi desde cedo, critérios válidos e necessários para uma convivência respeitosa em sociedade. Sou o que sou e quem sou porque tive, junto comigo, uma mulher muito segura de si, apontando-me o caminho através do exemplo de sua própria vida. Ela ia à frente fazendo o que deveríamos também fazer.

Ser mãe é consumir-se de amor pelos seus. A maternidade já começa com a dor do parto. No início da Historia da Criação, Deus foi explícito com a mulher: “Multiplicarei grandemente a tua dor e a tua concepção; com dor darás à luz filhos…” (Gn 3,16). Portanto, o ser mãe, tem o seu início na concepção, que é acompanhada pela dor do parto. Uma dor tão grande que nenhum homem, que se acha a fortaleza da humanidade, conseguiria senti-la na mesma intensidade e proporção. “Ser mãe é padecer no paraíso”, afirma o dito popular. Entretanto, eu colocaria no lugar de “paraíso” a palavra “calvário”. Pelo fato da mãe, assim que dá a luz, sua vida não será mais a mesma, mas vai sendo consumida pela sua entrega ao filho, filha que gerou.

Mães que amam incondicionalmente e que dão, literalmente, a vida pelos seus filhos. Coração de mãe sofre absurdamente. Talvez por este motivo que dissemos que “coração de mãe não bate, apanha”. Mas com um coração pleno de amor. As mães amam como Jesus. Neste sentido, inexiste alguém que tenha levado mais a sério aquilo que foi dito por Jesus: “Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos. (Jo 15,13) Jesus que é a prefiguração do amor em pessoa. Um amor tão encarnado em nossas vidas, mostrando-nos o rosto maternal de Deus com fraternura.

Jesus veio nos trazer o amor (agápê). Jesus veio ser amor na concretude máxima em nós. Em Jesus o amor transborda, para alem de um mero conceito ou sentimento. É a concretude do amor maternal de Deus, que não permte abertura para o egoísmo, ódio ou rancor, mas a vivência da prática do amor, da justiça e da solidariedade. Fundamentados neste amor, somos desafiados a estabelecer as bases para relações mais justas, fraternas e harmoniosas entre nós. “Isto é o que vos ordeno: amai-vos uns aos outros”. (Jo 15,17)

Hoje, segundo o calendário, é dia das mães. Dia das mães é todo dia. Como não ser todo dia para aquela que gera a vida e tem todo o cuidado no criar os seus. Amor de mãe é incondicional. Ao contrario de nós homens, ela é capaz de dar a vida por aqueles que gerou. Dá um pouco de si a cada dia. Quantas delas não dormem enquanto não vêem o filho chegar em casa? Quantas almas de mães não estão sendo dilaceradas pela dor neste atual contexto em que vivemos? Mães vendo seus filhos serem levados de si tão jovens. Uma dor que corta a alma, de uma ruptura abrupta de histórias de vidas, de pessoas que teriam todo um futuro a ser vivido. Encerro aludindo a uma frase dita pela atriz italiana Sophia Loren: “Quando você é mãe, você nunca está realmente sozinha em seus pensamentos. Uma mãe sempre tem que pensar duas vezes, uma por ela e outra por seu filho”.