A coragem do discipulado

Segunda feira da sétima semana da páscoa. Iniciamos a semana rumo à Pentecostes. Semana esta que temos um compromisso muito importante. Fomos convocados pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), a rezar pela unidade dos cristãos. Desta maneira, nesta semana de 16 a 23 de maio, somos interpelados a manter-nos em oração, com a temática: “Permanecei no meu amor e produzireis muitos frutos” (Jo 15,5-9). Os cristãos enfrentado o desafio de estabelecer o diálogo necessário para a convivência dos valores do Evangelho.

Neste contexto, não cabe mais atitudes de intolerância e disputas entre os cristãos, como se uns fossem mais importantes que outros. Todos nós fazemos parte do discipulado de Jesus, cada qual a sua maneira. Como me fez refletir uma pessoa que nesta semana veio me corrigir, dizendo que eu era uma pessoa desviada e que estava cometendo muitas heresias. Que eu precisava me converter. Fui obrigado a concordar com ela, pois a conversão tem que estar na ordem do dia de todo aquele e aquela que se coloca no seguimento de Jesus de Nazaré. Conversão esta (metanoia) que se faz todos os dias como um processo, um caminho.

Seguir Jesus não é nada fácil! Testemunhar o seu projeto com a própria vida requer, antes de tudo, coerência entre a teoria e a prática nossa de cada dia. Exige muito de cada um de nós. Foi assim com os primeiros seguidores e seguidoras de Jesus, e é assim também conosco que fazemos parte deste discipulado de Jesus. Coerência e discernimento que faltou, por exemplo, aos deputados da Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso (ALMT). Tiveram a desfaçatez de aprovar nesta última quarta feira (11), uma moção de aplausos aos policiais civis do Rio de Janeiro, que participaram da operação realizada no morro do Jacarezinho, na semana passada, que resultou no assassinato de 28 pessoas. Senti-me envergonhado por tal atitude irresponsável destes nossos “representantes” Cristãos coniventes com a morte. Que triste! Apenas um deles foi contrario a esta monção: Lúdio Cabral.

Jesus também foi assassinado como um malfeitor, como descreve o evangelista Marcos. Caminhar com este Jesus faz de todos nós também malfeitores como Ele foi assim taxado. Exige que tenhamos coragem para testemunhá-lo na nossa prática cotidiana. Neste sentido, Jesus não engana os seus seguidores e seguidoras: o futuro é tempo de testemunho em meio a lutas e perseguições. Mas é também tempo de confiança e paz, pois os cristãos podem contar com o amor misericordioso do Pai. E desde já podem estar certos da vitória, pois Jesus venceu todos os adversários. Para quem acredita em Jesus, a ordem social injusta, que condena o justo inocente, está condenada ao fracasso para sempre.

O discipulado de Jesus terá que ser movido pelo espírito de luta e muita coragem. E, muitas vezes, bater de frente contra as estruturas injustas que recaem sobre os inocentes. Como se pode dizer que é cristão e assinar uma monção de apoio ao assassinato de tantas pessoas, como o fez os membros da Assembleia Legislativa? A coerência entre a fé a a vida tem que estar em sintonia com os valores do evangelho. Requer também que tenhamos em nós o mesmo amor que movia as ações de Jesus diante dos pobres. Amor que não é apenas um mero sentimento, alojado no coração, mas uma decisão, uma escolha, um caminho que nos coloca em sintonia com a realidade dos pobres marginalizados. Neste sentido, teremos sempre o aval do próprio Jesus que nos assegurou: “No mundo, tereis tribulações. Mas tende coragem! Eu venci o mundo!” (Jo 16,33)

Coragem! Esta é a insígnia daqueles que se fazem um com o Nazareno. Ele vai caminhando a nossa frente, desbravando as barreiras da indiferença e do descompromisso com as causas do Reino. Tenhamos coragem e confiança n’Ele. Estamos indo em direção a pentecostes, este grande marco na história da Igreja de Jesus. A vinda do Espírito da Verdade. Pentecostes vivificou para a nossa caminhada de Igreja latino americana que a partir de Medellín, surgiu no continente um novo modo de ser Igreja que se expressou nas comunidades eclesiais de base (CEBs), nos círculos bíblicos, nas pastorais sociais e na inserção numa mística martirial na caminhada da libertação. Medellin, que na compreensão de nosso bispo Pedro, foi um verdadeiro pentecostes. “Em Cristo, Teu Amado Filho, desejamos produzir bons frutos para vivermos em comunhão, restabelecendo relações de amizade, partilha e solidariedade e, assim, nos reconhecermos como irmãs e irmãos neste mundo tão dividido.” Amém, Axé! Awire! Aleluia!