O Deus em quem acredito

Acordei bem cedo e com uma pergunta em mente. Esta pergunta perpassou toda a minha oração nesta manhã. Sempre tenho momentos de oração, no início de cada dia. Ao mesmo tempo em que vou degustando uma boa cuia de chimarrão, vou ali rezando. Eu costumo dizer que sou um “minucho”, mineiro metido a gaúcho. Não fico sem a minha cuia diária. Entre uma cuia e outra e com a pergunta em mente fiquei ali dialogando com Deus. Quem é Deus afinal?

Fui catequizado pela Dona Diva. Naquele tempo, era muito comum as matriarcas das famílias, em suas casas, catequizar um grupo de crianças e eu fazia parte do grupo de crianças da dona Diva. Ela foi a primeira pessoa para quem fiz esta pergunta. E ela me respondeu prontamente: Deus, são três pessoas, Pai, Filho e Espírito Santo. E eu disse: Como assim? Assim como você ouviu, não precisa entender, basta acreditar, completou ela. É claro que esta resposta não satisfez aquela criança curiosa.

Quem é Deus afinal? Esta foi uma das tônicas da conversa que tive com Pedro, curioso que eu estava para saber, como aquele homem revolucionário, via e se relacionava com Deus. Confesso que não me satisfiz com a resposta que inicialmente ele me deu: Deus é o Pai d’Ele e nosso, me disse apontando para o sacrário da capela que fica nos fundos de sua casa. Fuçando, posteriormente os seus escritos, vi um de seus poemas que me deu uma resposta mais satisfatória.

EQUÍVOCOS
Onde tu dizes lei,
Eu digo Deus.
Onde tu dizes paz, justiça, amor,
Eu digo Deus!
Onde tu dizes Deus,
Eu digo liberdade,
Justiça,
Amor!

Quantos de nós não nos fazemos esta pergunta? Ainda mais num contexto em que a palavra Deus está tão desgastada. Invocam tanto o nome d’Ele, para os momentos mais estapafúrdios possíveis. Ao ponto da gente perceber, de que não estamos falando do mesmo Deus. O Deus do Êxodo, por exemplo. O Deus do profeta Jeremias “Antes de formar você no ventre de sua mãe, eu o conheci; antes que você fosse dado à luz, eu o consagrei, para fazer de você profeta das nações.” (Jer 1, 5)

Definitivamente não estamos falando de um e mesmo Deus, principalmente este “Deus acima de tudo”. Em Mateus, Jesus nos orienta de que “Ninguém pode servir a dois senhores. Porque, ou odiará a um e amará o outro, ou será fiel a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e às riquezas.” (Mt 6, 24). Ou seja, convenientemente, a invocação ao nome de Deus vem sempre para justificar a mesquinhez ou os interesses políticos dos representantes do deus mercado.

Nestes tempos de pandemia, grande parte das pessoas estão se perguntando, onde está Deus, que não dá um jeito nisso tudo e freia o avanço da Covid-19? A estas horas, Deus deve estar rindo de todos nós, pois fomos filhos ingratos e maltratamos tanto a mãe natureza, que um dia ela iria nos cobrar esta conta do nosso descaso. Bem fez o papa Francisco que, numa atitude profética, tratou de incluir no texto da Exortação Apostólica Querida Amazônia, a terminologia PECADO ECOLÓGICO.

E por falar em pecado ecológico, na minha sede teológica irrequieta, fui indagar o cacique Damião Paridzané, quem era Deus para ele. Prontamente ele me respondeu: Deus é o Ser Supremo da natureza que nos dá a terra que estamos pisando, a água, o ar, os ventos, e os frutos. Saí mais satisfeito com a sua resposta, afinal se podia visualizar Deus ali lado a lado. Diante desta resposta, entendi melhor a fala de Jesus a Felipe: “Faz tanto tempo que estou no meio de vocês, e você ainda não me conhece? Quem me vê, vê o Pai”.