Quarta feira da décima semana do tempo comum. A proposta que nos é feita, é a de seguirmos o nosso caminhar, pisando o chão da nossa estrada, irmanados com o próprio Jesus, que vai a frente, desbravando os caminhos. Ele quer se fazer presente em, através de nosso testemunho firme e corajoso, na procura do Reino.
Ontem, foi um dia especial para a história da Igreja do/no Brasil. O
padre, compositor, escritor, cantor, comunicador, José Fernandes de Oliveira, mais popularmente, padre Zezinho, completou 80 anos de vida.
Padre Zezinho seguiu com a sua missão, nos evangelizando ao longo destes anos todos com as suas canções, embalando a minha geração, sedenta de novos ideais, sonhos e utopias. Éramos felizes e o sabiamos que éramos. “Um Certo Galileu”, por exemplo, me ajudou na decisão de entrar para o seminário em 1976, em Aparecida, São Paulo, recomeçando ali toda uma trajetória de vida.
Se no dia de ontem, Jesus nos convoca e propõe que devemos ser a luz do mundo (MT 5,14), hoje Ele nos assegura que esta luz precisa estar em sintonia e interligada com a Lei e os Profetas e profetizas do Reino (MT 5,17). Luzeiro a brilhar nos recônditos de nossas vidas e nas de todos aqueles e aquelas que estão presentes nas nossas relações cotidianas.
Só se pode ser luz se estivermos imbuídos do cuidado. Cuidar de mim, cuidar do outro e cuidar da nossa Casa Comum, que geme pelas dores de uma pandemia, cada dia mais incerta. Diante deste cenário, surge o grande desafio: como ser luz radiante para tantos que estão sofrendo? Como ser a presença viva da luz de Deus em tantos lares enlutados? Como ser esta luz, diante de tantas famílias que passam fome? Como ser a luz da esperança divina, em meio a tantos desesperançados?
Neste contexto, inevitavelmente me vem a mente as 19 horas que passei sobre uma maca na enfermaria do Hospital de Urgência de Goiânia (HUGO). Ali, lado a lado com as pessoas. Dezenas delas sobre macas, a espera de uma vaga para internação. Estando ali, eu não conseguia pensar em mim, mas em todos aqueles crucificados que ali se encontravam. Em minha cabeça, martelava as palavras de Pedro: “No seguimento do Ressuscitado, temos que ajudar a descer das suas cruzes, os crucificados da história”. Enquanto assim pensava, sentia uma dor profunda em meu coração, sem nada poder fazer, a não ser me entregar à oração. Passei a noite em claro impotente, tentando fazer chegar o meu clamor a Jesus.
Sigo agora superando esta noite de agonia que se transformou a minha vida nestas últimas semanas. Recuperando um dia de cada vez. Sinto ainda o meu Araguaia distante. Mas ao mesmo tempo feliz por estar interligado com as orações, vibrações positivas e o desejo de que melhore para voltar para à minha missão. E não podia estar mais feliz depois de receber a ligação de uma das lideranças indígenas, me dizendo que eu preciso voltar, pois sou um dos guardiões de suas causas. Cuidando para poder cuidar.