Pai nosso, pão nosso

Quinta feira de decima primeira semana do tempo comum. Nossa vida segue. Cada dia um desafio a mais. A realidade nua e crua da existência, vai se constituindo no dia a dia. A cada amanhecer, somos desafiados a renovar a nossa esperança de que um novo amanhã estará logo ali à nossa frente. Como nos dizia Dom Paulo Evaristo Arns, devemos viver “de esperança em esperança”. Ou mesmo como nos alerta o bispo de Roma, o Papa Francisco, “não deixemos que nos roubem a esperança”. Quiçá, neste atual momento tão difícil do nosso existir, possamos dizer como nosso bispo Pedro, “A esperança é um ato de rebeldia”.

No dia hoje a liturgia católica nos coloca diante de Jesus que ensina os seus seguidores e seguidoras a rezar. E não se trata de uma oração de muitas palavras, como se fosse o amontoado delas são necessárias para que Deus assim nos escute. Ele ensina a oração do Pai Nosso. Oração esta que começa numa relação de intimidade de quem reza com o próprio Deus, chamando-o de Pai. Abba, que é uma palavra hebraica que quer significar “papai” No Novo Testamento, ela aparece por três vezes, muito embora a língua usada nos textos neotestamentários seja o grego. É provável que isso seja uma demonstração de como as comunidades primitivas da igreja costumava usar, na oração, o termo hebraico. Uma forma carinhosa de chamar a Deus de painho, como o fazem carinhosamente os nordestinos.

Oração que faz parte da nossa vivência cristã. Oração universal dos cristãos. Ela está dividida em partes, que nos ajuda a compreender qual era a intenção de Jesus ao ensiná-la aos seus. Na primeira parte dela, pedimos que Deus manifeste o seu projeto de salvação; na segunda, pedimos o essencial para que possamos viver segundo este projeto de Deus: pão para o sustento diário. Um bom relacionamento com os irmãos e irmãs e também o dom da perseverança até o fim, sem jamais desistir no meio do caminho. Oração esta que nos coloca no plano da dimensão da cruz de Jesus, com os seus dois vértices: de um lado o plano vertical que nos coloca em sintonia com Deus, mas que ao mesmo tempo nos apresenta o plano horizontal, que é a relação com as demais pessoas. Assim, não há como relacionar com Deus sem que este relacionamento passe necessariamente pela relação com as demais pessoas com as quais convivemos.

Oração que fala do Pai, mas que também fala do pão de cada dia. Pão nosso. Não o pão meu. Pão este que não somente sacia a nossa fome, mas que também sacia as outras fomes que também temos: fome e sede de justiça, fraternidade, igualdade, empatia, compaixão, solidariedade, amorosidade, ternura. Nunca estivemos tão carentes diante de tantas manifestações contra a vida de nosso povo. Nossa gente está passando fome. Nossa gente está morrendo sem os cuidados necessários, que defendam a vida na sua integralidade; Rezar o Pai nosso é saber contemplar todas estas formas da ante vida. Nossa oração precisa estar recheadas pelos sentimentos de empatia, como nos fala o papa Francisco: “Nossas orações acontecem e se completam quando intercedemos pelos outros e cuidamos de suas preocupações e necessidades. A oração não nos separa e não nos isola de ninguém, porque é amor por todos”.

A oração é a força daqueles que não desistem nunca. Ela é como uma chave que nos abre as portas da vitória. Quando tudo parece perdido, mesmo assim não devemos desistir. Quando os problemas parecem não ter solução, não devemos parar no meu do caminho e abaixar a nossa cabeça. É através da oração que fazemos a nossa conexão com Deus. O Deus do impossível. Assim, devemos fazer como o salmista que: “Na sua aflição, clamou ao Senhor, e Ele o tirou da tribulação em que se encontrava. Reduziu a tempestade a uma brisa e serenou as ondas. As ondas sossegaram, ele se alegrou, e Deus o guiou ao porto seguro”. (Sl 107, 28-30)

A oração é muito importante na vida dos cristãos. Todavia, devemos fugir do caráter magico dela, como se somente ela bastasse para termos uma vida coerente de fé. Nestes momentos, é sempre bom lembramos do lema beneditino, “Ora et labora”. Nele está implícito que devemos “orar como se tudo dependesse de Deus e trabalhar como se tudo dependesse de nós”. Entre nós há a infeliz ideia de que devemos rezar e entregar tudo nas mãos de Deus. Então cruzamos os braços e ficamos esperando que tudo aconteça por uma simples mágica. Esta não é uma prática que devemos adotar para as nossas vidas. A oração nos faz entrar em sintonia com Deus que também vai nos dizendo, quais serão os próximos passos que devemos seguir, como forma de fazer acontecer o Reino entre nós. Neste sentido, Mateus é enfático quando nos diz: “Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça e tudo mais vos será acrescentado” (Mt 6,33),