Domingo, Dia do Senhor! Celebramos hoje o décimo terceiro domingo do tempo comum, que traz um texto que nos faz refletir pela sua significância. Jesus mais uma vez quebrando os paradigmas da força impositiva da Lei Judaica, que considerava a Lei mais importante que a pessoa humana. Situação que coloca o Mestre demonstrando toda a sua sensibilidade e ternura de Deus.
Rezei esta manhã tendo por ambiente a sala de um pequeno apartamento. Poderia até dizer apertamento, para quem está acostumado a amanhecer num quintal cheio de frutas e aves, as mas mais diversas, a degustá-las sem cerimônia.
Em condições normais, estaria hoje eu, rezando as margens do Araguaia, contemplando as maravilhas de Deus a cada amanhecer. Amanhecer que nos surpreende, visto que o sol, dá um espetáculo diferente a cada romper da aurora sobre o Araguaia. O próprio ambiente se transforma num convite à oração. Impossível não se render a obra do Criador, diante de tamanha beleza. Isso demonstra a sincronia perfeita, pensada por Deus, entre a natureza e o ser humano, que prefere sair destruindo tudo, em nome de suas riquezas pessoais.
O texto do evangelho de hoje, nos situa Jesus diante de uma realidade singular. São duas mulheres em situações distintas, mas ao mesmo tempo carregadas do mesmo preconceito da época. Uma delas com uma hemorragia crônica e por este motivo, era um ser impuro, que devia viver isolada de tudo e de todos, por causa da Lei Mosaica, que assim prescrevia. E a outra uma
jovem adolescente, prestes a entrar na vida adulta, no seu leito de morte, a quem Jesus devolve-lhe à vida, para espanto de todos.
É importante salientar que as mulheres no tempo de Jesus, eram seres inferiores, “subalternizadas”, pelo simples fato de terem nascido mulheres. Mas Jesus passa por cima da lei e vai até a pessoa humana. Não somente cura a primeira, mas devolve-lhe a dignidade e a integra à sociedade, chamando-a carinhosamente de filha. Aliás, poucas vezes vemos Jesus chamando alguém de filho no Novo Testamento.
Jesus era um ser humano de rara beleza. “De tão humano que foi, que só poderia ser Deus”. (l. Boff). Na sua relação com os pequenos, pobres e invisíveis, Ele demonstrava toda a sua sensibilidade à causa dos empobrecidos. Revelou em si o rosto amoroso e misericordioso de um Deus, que não é mais aquele Deus carrancudo, rancoroso e pronto a castigar os que erram, como alguns de nós ainda assim pensam.
Ser mulher ontem e hoje não tem sido nada fácil. É trazer em si o estigma de uma sociedade masculinizada e hostil. Sociedade esta que se vangloria dos varões machos que a comanda, inferiorizando o ser feminino, esquecendo-se que cada um deles, com toda sua empáfia e prepotência, viram a luz do dia, graças ao sagrado ventre feminino, que os acolheu e os fez nascer.
Pensa que na nossa igreja é diferente? Ledo engano. Nossa igreja ainda é dominada por homens, que ainda enxergam nas mulheres seres inferiores, não lhes permitindo espaço algum de decisão. Uma Igreja masculinizada e machistas, trazendo em si um clericalismo misógino, num verdadeiro sentimento de aversão, repulsa e desprezo pelas mulheres e pelos valores femininos. Contrariando até mesmo o próprio Jesus que teve em seu grupo mulheres guerreiras e decidas, a quem a uma delas, Ele fez questão de anunciar-se pela vez primeira, como o Ressuscitado. Para estes, só nos resta dizer o que aquilo que foi dito por Jean-Jacques Rousseau: “O homem que não conhece a dor, não conhece a ternura da humanidade.” Vivamos a ternura de Deus que nos trouxe Jesus com toda a sua sensibilidade.