Finalmente estou iniciando a primeira semana em minha casa. Nada como estar na casa da gente. No cantinho da gente. São Félix do Araguaia é aquele lugar singular. Como bem diz uma das canções mineiras: “Não precisa ter, um pontinho preto no mapa, mas quando a gente se afasta, coração pede pra voltar.” Confesso que, em alguns momentos pelos quais passei, nesta minha estada para cuidar da saúde em Goiânia, que tive dúvidas de que retornaria ao meu cantinho, por mais que o esperançar, estivesse na ordem do dia. Sou feliz no Araguaia! Só eu sei o quanto sou.
Não tive como escrever os meus rabiscos no dia de ontem. Fiquei aguardando o técnico fazer a instalação do novo computador. Depois de muitos anos de uso, o velho PC, companheiro de estrada, foi agraciado com a sua aposentadoria. Graças ao amigo, padre Pereira, que me deu de presente este que agora, também fará parte da minha história de vida. Ainda estou apanhando, para adentrar às novas tecnologias deste de agora. No anterior, eu conhecia todos os seus meandros e trejeitos. Na vida também é assim, o novo sempre nos desinstala da nossa zona de conforto. Paciência! Aos poucos vou me inteirando.
Estou vivendo um novo tempo na minha vida. Depois do susto, fui instigado a repensar a minha cainhada, sem abrir mão dos meus compromissos e das minhas convicções como cristão que tenta seguir os passos de Jesus de Nazaré. Agora, mais do que nunca, trago em mim, aquilo que foi muito bem descrito pelo Livro do Eclesiastes: “Debaixo do céu há momento para tudo, e tempo certo para cada coisa:” (Ecle 3,1). O meu tempo agora está sendo conjugado nestas três palavras: paciência, sabedoria e cuidado. Sem aquela loucura que todos nós temos de querer dominar a vida, que nos escapa numa série de tempos diferentes. Somente o nosso Deus tem a visão do todo, do conjunto da vida. Só Ele conhece todos os momentos. Quanto a nós, ansiamos por alcançar a plenitude, num desejo incontido de realizá-la. Cabe-nos então aceitar o momento presente como dom de Deus, e ter o discernimento necessário, para fazer as coisas certas nos momentos certos.
Nunca nos esqueçamos, de que devemos nos comportar como trabalhadores e trabalhadoras na messe do Senhor. Se bem que o Mestre hoje, através do texto da liturgia, está nos dizendo que: “A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos.” (Mt 9, 37) Operários de um número reduzido e ainda preocupados com muitas coisas que estão, muitas vezes distantes do Projeto Messiânico de Jesus, como atesta o italiano Paolo Cugini, da diocese de Reggio Emilia, num excelente artigo que escreveu recentemente. Segundo ele, “a tendência é a de que a Instituição Igreja vai desmoronar,” ocupada que está em defender a doutrina, sem se ocupar com o amor às pessoas, sobretudo aquelas mais vulneráveis. Pessoas as quais, Jesus esteve lado a lado delas, mostrando assim a predileção do Pai por elas.
Padre Paolo, que esteve entre nós, anos atrás, como missionário na diocese de Alto Solimões (AM), foi contundente ao também afirmar neste seu artigo: “São as pequenas experiências comunitárias que estão surgindo espontaneamente em vários lugares nas margens da instituição e nas quais se percebe vivo o sopro do Espírito Santo, a manifestar a presença do Senhor Jesus, enquanto a Igreja institucional com seus palácios e suas doutrinas estará inexoravelmente destinada a desmoronar.” O que sustenta a vida cristã não são as muitas doutrinas, mas o amor que as pessoas são capazes de carregar dentro de si, traduzindo-o nas relações cotidianas com as pessoas. Afinal, “Deus é amor” (1Jo 4,8)
Neste aspecto, o apostolo Paulo foi bastante suscinto: “Agora, portanto, permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e o amor. A maior delas, porém, é o amor.” (1Cor 13,13). O amor é o caminho que nos une a Jesus. O amor, não como apenas um mero sentimento, mas atitude, compromisso, decisão, caminho, processo, que devemos todos e todas aspirar como projeto de vida. O centro do Evangelho é o mandamento do amor. O amor é a fonte de todo e qualquer comportamento verdadeiramente humano, pois leva as pessoas a discernirem as situações concretas e a criar gestos eficazes, que respondam aos desafios que a vida vai nos colocando. Afinal, “O amor é paciente, o amor é prestativo; não é invejoso, não se ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.” (1Cor 13,4-7) Numa sociedade que tem se primado pela mentira, pelo ódio e pela indiferença, já passou da hora da instituição Igreja, converter-se ao Evangelho, antes que desmorone de vez, perdendo a sua credibilidade, de ser uma das representantes do Projeto de Reino trazido por Jesus de Nazaré.