Início de mais uma quinta-feira de nosso calendário. Já estamos chegando a meados de julho. Em outras situações diferentes desta, estaríamos em plena temporada de praia. Várias pessoas, turistas, filhos da terra, visitando os seus parentes. Ocasião para confraternizar o reencontro com os familiares. Mesmo sem a temporada de praia oficialmente, várias famílias estão recebendo os seus. Alguns até promovendo aglomerações nos acampamentos, mesmo depois de estarmos sabendo da nova variante colombiana, que entrou no estado, depois do fatídico jogo da Copa América por aqui. Responsabilidade e bom senso foram retiradas do dicionário destes.
Iniciei o meu dia de forma diferente. Depois da minha conversa com Deus, fiz uma breve caminhada pelo cais, oportunidade para encontrar algumas pessoas. Desde que aqui cheguei de volta, tenho evitado este encontro com as pessoas. Mas hoje senti a necessidade de ver as pessoas. Foi bom, pois pude experimentar no rosto delas, a alegria por estar me vendo. Uma das senhoras, não conteve o seu pranto e foi logo dizendo-me que rezara o tempo todo pela recuperação de minha saúde. Carinho e sinceridade ali sobraram.
No meu encontro com o Senhor desta manhã, me ative ao texto do evangelho do dia (Mt 11,28-30). São apenas três versículos. Uma breve perícope, em que a Comunidade Mateana, traz para nós, um Jesus que atrai a si todos aqueles que estão sobrecarregados pela dureza da vida. E o mais interessante é que Jesus invoca os seus seguidores e seguidoras a aprender com Ele. Aprendizagem para a escola da vida, pois Ele representa todos os anseios do Pai/Mãe para a humanidade toda. Aprender com Jesus é ter a certeza de que tal aprendizagem nos levará ao Reino. E, como bons discípulos e discípulas (do latim discipulus), encarregar-nos de torna-lo realidade através da nossa prédica e prática.
A vida é uma escola. Aprender faz parte da existência humana. Ninguém de nós nasce sabendo. Vamos aprendendo na medida em que vamos adentro na vida. Todavia, necessário se faz que tenhamos a humildade suficiente para estarmos abertos a sempre aprender. Como diziam os nossos avós, “o saber não ocupa lugar.” Como nos adverte o teólogo Leonardo Boff: “O mais importante não é saber. É nunca perder a capacidade de aprender.” Esta é a dinâmica da vida, estar sempre apto a captar o novo do processo de aprendizagem. O ser humano foi criado sob esta perspectiva. Minha mãe sempre nos repetia este mantra: “Ou se aprende por amor, os se aprende pela dor.”
Assim que tomei conhecimento dos escritos de Paulo Freire, passei a entender melhor esta lógica. “Pedagogia do Oprimido”, abrilhantou os meus olhos e, ao lado da Bíblia, tornou-se o meu livro de cabeceira. Me encontrei nas palavras tão claras e objetivas de Freire. Tanto que passei a enxergar o mundo com outros olhos. Talvez aqui resida a maior objeção do opressor (e aos que pensam como ele), a este grande pedagogo, pois o seu método, nos ajudou a ler o mundo sob uma nova ótica, uma nova perspectiva. Opressor e oprimido encontram-se em lados opostos, nesta grande engrenagem de nossa sociedade.
“Quem ensina aprende ao ensinar. E quem aprende ensina ao aprender”, simples assim. É desta forma que Paulo Freire definia o nosso processo de ensino aprendizagem. Aprendemos e ensinamos ao mesmo tempo. Esta é uma visão que nos permite entender que ninguém sabe tudo, ou que alguns de nós sabem mais que os demais. Nossos saberes são diferentes. Alguns sabem algumas coisas e outros sabem outras. Foi assim que convenci os professores indígenas em uma das nossas formações continuadas que estávamos desenvolvendo com eles. Na ocasião, eu lhes dizia que os saberes são diferentes. Eles detinham muitos saberes que eu não dominava e que precisava aprender.
Apesar do nosso processo educacional ter se inspirado no Método Paulo Freire de ensinar, falta muito ainda para que a nossa educação escolar seja, de fato, libertadora e espaço de produção de conhecimentos. Nossos professores ainda se comportam como aqueles que detém o conhecimento e os alunos como tábulas rasas, que precisam ser preenchidas pelo amontoado de conteúdos trazidos pelos professores sabichões. Somos ainda movidos pela “Educação Bancária”. Para estes, Freire vai dizer: “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.” O professor não pode ser um mero transmissor de conteúdo. O conhecimento se faz através de um processo de ensino aprendizagem reciproco.
Como seguidores e seguidoras de Jesus, somos provocados a aprender consigo: “Aprendei de mim.” (Mt 11,29) Um enorme desafio se coloca a nossa frente. Aqui, não basta fazer o que Ele fazia, numa atitude de “imitação”, mas de fazer como Ele fez, diante dos desafios que se punha à sua frente. Ter a mesma atitude d’Ele, frente à problemática enfrentada por Ele. Isto requer que nos revistamos de coragem, determinação e entrega às suas causas. Desta forma, não basta ter fé em Jesus, mas ter a mesma fé que Ele tinha. Amar como Ele amou. Aprender a aprender. Numa atitude socrática, de aprender a ser humilde e reconhecer que nada sabemos, mas que temos muito ainda a aprender.