Eucaristia: dom da partilha

Domingo do primeiro dia da semana. Dia da Ressurreição do Senhor! Dia em que Deus desceu o seu Filho da cruz, ressuscitando-o. A morte foi vencida pela vida. Aqueles que o assassinaram, pregando-o numa cruz, não imaginavam que Deus daria uma resposta, fazendo com que a Páscoa fosse a última palavra. A vida vence a morte sempre! O Filho que anuncia o Reino, se faz presença viva em nós e na nossa história, se fazendo carne na nossa carne. “O Verbo se fez carne, e habitou entre nós.” (Jo 1,14) Presença pascal viva entre nós por toda a vida, já que o próprio Jesus assim nos assegurou: “Eis que estarei convosco todos os dias, até o fim dos tempos.” (Mt 28,20)

Rezei nesta manhã contemplando o voo das araras, em direção a Ilha do Bananal. Todas as manhãs elas cumprem este roteiro tagarelando. Passam o dia por lá e, no entardecer, fazem o percurso de volta. Este é um ritual sagrado para elas. A quem diga, que é lá na ilha que elas têm os seus ninhos. Talvez por este motivo, nem sempre estão acasaladas, uma vez que as mamães araras, ficam por lá, cuidando de seus filhotes. Mãe é sempre mãe! Até entre as araras. Jamais abandonam os seus. Quem gera a vida sabe o valor que a vida tem.

O dia 25 de julho é um dia especial. Dia do Trabalhador Rural. A data da comemoração do Dia do Trabalhador e da Trabalhadora Rural foi instituída pela Lei nº 4.338, de 1 de junho de 1964. Nesta data, homenageamos todas aquelas pessoas que trabalham na zona rural, sobretudo aquelas que fazem parte da agricultura familiar. São eles e elas que, através de seu trabalho, fazem chegar às nossas mesas a alimentação. Apesar de toda propaganda enganosa do “agroveneno”, afirmando que eles são os responsáveis por garantir a comida às nossas mesas, 70% do que comemos no dia a dia, vem dos pequenos produtores da agricultura familiar, mesmo sem ter apoio e incentivo dos nossos governantes. A produção em larga escala dos “grandes” produtores, visa tão somente à exportação.

Também na data de hoje, celebramos o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos. Esta data foi lembrada e instituída pelo Papa Francisco, que no dia 22, próximo passado, mas para ser celebrada no domingo seguinte, como estamos fazendo no dia de hoje. Um dia especial, sobretudo porque vivemos numa sociedade que não valoriza suficientemente seus idosos. Quase sempre os vemos como um peso a ser suportado, como se este não fosse o caminho a ser percorrido por todos nós. Como desencargo de consciência, arranjamos um lugar para “depositar” os nossos idosos.

Tal situação não acontece entre os povos originários. Os anciãos são aqueles que gozam de prestígio, porque são valorizados pelos seus saberes acumulados ao longo da vida. Os indígenas jamais criam espaços para “depositar” os seus anciãos. Os acolhem na convivência diária da comunidade, absorvendo os seus saberes tradicionais ancestrais. Os mais jovens aprendem desde cedo a respeitá-los e a conviver com os seus saberes e suas limitações. Nos A’uwé (Xavante), por exemplo, são os anciãos (padrinhos) que se ocupam na tarefa de prepararem os jovens (Wapté) no ritual de iniciação, para adentrarem a vida adulta. São também os anciãos que participam de forma decisiva nas reuniões do Warã, que acontecem todos os dias pela manhã e ao final de cada dia, definindo os rumos nas decisões da caminhada da comunidade.

O texto do evangelho de hoje é um dos clássicos do Novo Testamento. Um dos ícones da experiência das comunidades primitivas. Impossível passar pela experiência de vida cristã, sem ter este texto como uma grande referência para o sacramento da Eucaristia. A partilha do Pão feita por Jesus no texto de hoje, saciando a fome daquela multidão, mostra-nos que a Eucaristia é o lugar da partilha. Não é por acaso que o Pão é um dos símbolos da Eucaristia. Participar da Ceia do Senhor é se comprometer com o pão a ser partilhado para todos. O Pai é nosso. O pão também tem que ser nosso. Neste sentido, Jesus propõe aos seus seguidores e seguidoras: ser sinal do amor generoso de Deus, assegurando para todos a possibilidade de subsistência e dignidade. Todavia, a seguridade alimentar não está no muito que poucos possuem e retêm para si, mas no pouco de cada um que é partilhado entre todos. As CEBs já nos mostravam que o milagre da multiplicação do pão não se encontra no poder de um padre que manda, mas no serviço de cada um organiza a comunidade para o bem de todos.