O encontro com Ele

 

E não é que “sextou” de novo! Mais uma sexta em nossas vidas. Já estamos aproximando do quarto final de semana do mês de agosto. “Mês de cachorro louco”, como se diz na minha terra. Em dias como estes, o cais da cidade de São Félix do Araguaia, fica povoado de pessoas. Quase todos sem as suas devidas máscaras. Irresponsabilidade bateu no peito e saiu jogando. Nem parece que estamos em plena pandemia, e uma variante super agressiva e altamente contagiosa, insiste em permanecer entre nós. Mas o que fazer, quando os próprios gestores públicos, dão o péssimo exemplo, e não saem das aglomerações nos acampamentos e outros que tais?

Uma sexta enfumaçada por aqui. Significa que o fogo segue destruindo a nossa flora e fauna. A querida Amazonia, aos poucos segue sendo destruída pela força gananciosa dos motosserras da morte. Segundo dados dos satélites, o mês de julho alcançou uma cifra de desmatamento no valor de 278%. Valor bem superior aquele registrado no ano de 2018. Não foi atoa que o Papa Francisco inaugurou o conceito “Pecado Ecológico” no documento final do Sínodo da Amazônia, aprovado no dia 26 de outubro de 2019. Tal conceito definido como uma “ação ou omissão contra Deus, contra o próximo, a comunidade e o ambiente.” A Casa Comum pede socorro e requer de cada um de nós a conversão e o cuidado para com a mesma.

Conversão é a palavra de ordem da vez. Encontrar-se com Jesus requer de cada um de nós uma abertura para o processo de conversão. O mesmo que “Metanoia”, uma terminologia que a tradição bíblica entende que seja mais do que uma simples mudança de mentalidade, mas de atitude, forma de pensar, que se dá por meio de um processo. Alguns de nós até dizem: “encontrei Jesus”. Todavia, não basta dizer que encontrou Jesus. Necessário que se faça, de fato, uma conversão de rota que promova um caminho de encontro aquilo que Ele representa e propõe, enquanto projeto de vida. Desta forma, encontrar-se com Ele e não promover nenhuma transformação no jeito de ser, pensar e agir, significa que encontrou um outro ser, bem diferente do Filho de Deus.

Jesus é extremamente exigente para com os seus. Para aqueles que abraçam as suas causas Ele propõe que não sejam meia boca. Ou é, ou não é. Não se consegue caminhar com Ele e fazer de conta. Entrou na chuva é para se molhar. Tal situação é aquilo que a Filosofia chama de “Princípio da não Contradição”. Ou seja, uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo. Ou é! Ou não é! Na perspectiva de Jesus, tal situação é expressiva: “Seja quente ou frio e não morno, senão vou te vomitar da minha boca” (Apo 3,16). O encontrar-se com Jesus pressupõe antes de mais nada o encontro com os irmãos da caminhada e tudo que daí demanda. Portanto, não se trata de um encontro isolado e intimista, sem as consequências que brotam desta relação intrínseca com o outro. “Aceitar Jesus” é aceitar trilhar os seus caminhos na construção do Reino que começa aqui e agora e se estende para além da História (Parusia).

Somos convidados a ser as testemunhas do Ressuscitado. Ser testemunha d’Ele é o mesmo que colocar-nos na sua mesma perspectiva de “peregrinos nas estradas de um mundo desigual.” Estar prontos e dispostos a lutar pela superação de todas as formas de escravidão. Abraçar as mesmas causas de Jesus, mesmo que isto signifique em perseguições. Ele mesmo assegurou aos seus: “No mundo vocês terão tribulações, mas tenham coragem; eu venci o mundo.” (Jo 16,33). Ou seja, não estaremos sozinhos nesta empreitada. Ele é um conosco.

Encontrar-se com Jesus faz parte de uma escolha, de uma decisão pessoal que alguém pode assumir. Ninguém é obrigado a fazer este tipo de escolha. As pessoas são livres para fazê-lo ou não (livre arbítrio). Entretanto, a decisão requer atitudes coerentes daqueles e daquelas que optam de si fazerem um com Ele. Neste sentido, a Palavra de Deus vai guiando os nossos passos. Pelo menos é o que diz Jesus no texto do evangelho de Mateus no dia de hoje: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento! Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22, 37-39). O dinamismo deste encontro com Jesus é o amor que tece as relações entre as pessoas, levando todos aos encontros, confrontos e conflitos que geram uma sociedade cada vez mais justa e mais próxima do Reino de Deus.