A Igreja deve oferecer o que o povo precisa e não necessariamente o que quer

 

Reflexão:
Liturgia do XXI Domingo do Tempo Comum,
Ano B – 22/08/2021

 

Na Liturgia de Domingo, XXI do Tempo Comum, veremos que, na 1a Leitura (Js 24, 1-2. 15-18), o critério para viver a fé é escolher servir ao Senhor: “Quanto a mim e à minha família, nós serviremos ao Senhor”. Desta escolha, dependerá o futuro religioso, pois, se servimos a Deus e rejeitamos os deuses, os ídolos, poderemos contemplar a vida em todas as suas dimensões e não só fixar nossa esperança no momento presente.

Na 2ª Leitura (Ef 5, 21-32), frente a uma sociedade dividida, machista e escravocrata, o Apóstolo Paulo aproveita esses elementos culturais para ensinar sobre o relacionamento entre Cristo e a Igreja, ao mesmo tempo que instrui sobre como deve ser a nova forma de os cristãos construírem seus relacionamentos naquela sociedade.

O Apóstolo apresenta aos esposos cristãos, como modelo, a relação de amor que existe entre Cristo e a Igreja, mas explica, em seguida, em que consistiu tal amor: “Cristo amou a Igreja e entregou-se por ela”. O verdadeiro amor se manifesta na entrega ao outro. Sabemos que há duas formas de manifestar o próprio amor à pessoa amada. O primeiro é dar-lhe presentes; o segundo, muito mais exigente, consiste em sofrer por ela. Deus nos amou da primeira maneira quando nos criou e nos encheu de bens: o céu, a terra, as flores, nosso próprio corpo, tudo é dom de Deus. Mas, depois, na plenitude dos tempos, em Cristo, Deus veio a nós e sofreu por nós, até morrer na cruz. Podemos dizer que o primeiro tipo de amor é o ‘amor de busca’ (eros); o segundo é o ‘amor de doação’ (ágape). O ideal é que, em nossos relacionamentos, passemos do amor da busca à doação, do eros ao ágape.

O mistério da união entre Cristo e a Igreja é muito grande e nem temos palavras para defini-lo. A analogia com o matrimônio é apenas uma tentativa de compreendê-lo mais profundamente para melhor servir ao reino de Deus.

No Evangelho (Jo 6, 60-69), Jesus ‘encarnado’ decepciona aos que não possuem uma fé firme e verdadeira, estão na Igreja mais como fuga ou status e não para assumir os compromissos perante as exigências do reino. “Essa palavra é dura. Quem pode escutá-la?” O Papa Francisco na Evangelii Gaudium (A Alegria do Evangelho) diz: “Pode acontecer que o coração se canse de lutar, porque, em última análise, se busca a si mesmo num carreirismo sedento de reconhecimentos, aplausos, prêmios, promoções; então a pessoa não baixa os braços, mas já não tem garra, carece de ressurreição. Assim, o Evangelho, que é a mensagem mais bela que há neste mundo, fica sepultado sob muitas desculpas” (EG, 277). Em outro comentário, ele prossegue: “Quando não há profecia no povo de Deus, o vazio é ocupado pelo clericalismo. Senhor, livra o teu povo do espírito do clericalismo e ajuda-o com o espírito da profecia!” (Homilia na missa de 16/12/13, Casa Santa Marta).

A Igreja deve sempre oferecer formação às pessoas para que conheçam e entendam mais profundamente as exigências do seguimento de Cristo. A Igreja deve oferecer não necessariamente o que o povo quer, mas o que realmente precisa para amadurecer e produzir frutos para o reino. Jesus nos quer livres e que o seguimento seja uma opção do coração. “A partir daquele momento, muitos discípulos voltaram atrás e não andavam mais com ele. Então Jesus disse aos doze: Vós também, quereis ir embora? Simão Pedro respondeu: A quem iremos Senhor? Tu tens palavra de vida eterna”.

 Para concluir, penso que esta liturgia quer nos ensinar que, no caminho para a vida eterna (nós somos viajantes), Deus vem em nosso socorro, fornece os meios seguros para melhor prosseguir na viagem: mapas, guias, sinalizações que não são imposições, mas setas que previnem os perigos e geram alívio e confiança. Estas setas são: A Palavra de Jesus, os mandamentos, a doutrina da Igreja, a direção espiritual, as pastorais, os grupos de oração, os movimentos, enfim, a Comunidade que é o próprio Corpo de Cristo.

Como Pedro, queremos dizer: “Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o santo de Deus, mas aumentai a nossa fé”.

Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.

 


Padre Leomar Antonio Montagna é presbítero da Arquidiocese de Maringá, Paraná. Doutorando em Teologia e mestrado em Filosofia, ambos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR – Câmpus de Curitiba. Foi professor de Teologia na Faculdade Missioneira do Paraná – FAMIPAR – Cascavel, atualmente é professor do Curso de Filosofia da PUCPR – Câmpus Maringá.