Será que a Bíblia é realmente importante para o católico?

Cremos, realmente, que a Sagrada Escritura é Deus falando conosco?

No Brasil, desde o ano de 1972, o mês de setembro é dedicado à Bíblia Sagrada. Esta iniciativa da CNBB está relacionada a São Jerônimo, que viveu no séc. IV d.C. e fez a tradução dos escritos sagrados, do grego e do hebraico, para o latim. Na data da sua morte, 30 de setembro, celebra-se a sua memória e, desde o ano de 1947, celebramos o Dia da Bíblia.

Entristece-me o fato de que, muitas vezes, nós católicos buscamos inúmeras devoções e orações “poderosas”, mas pouco nos interessamos pela leitura da Palavra de Deus. Então me pergunto: cremos, realmente, que a Sagrada Escritura é Deus falando conosco? Ainda existe lugar para a Bíblia no cotidiano dos católicos?

 Entre as inúmeras razões do “por que devemos valorizar e rezar com a Palavra de Deus”, apontarei 07 motivações:

1. Para se afirmar cristão: Jesus assegurou que “Felizes são os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática” (Lc 11,28); e que o exercício orante e vivencial da Palavra nos torna seus irmãos e seus pais (cf. Mt 12, 50). Como se afirmar “cristão”, discípulo e seguidor de Jesus, desconhecendo a Palavra de Deus?

2. Para conhecer e anunciar Jesus Cristo: o centro da Bíblia é Jesus Cristo, o Messias enviado, que revela o Pai e a plenitude do seu amor. Ler e rezar a Bíblia nos faz conhecer e anunciar o Mestre. Como falaremos de Jesus Cristo, se o ignoramos como Palavra encarnada (cf. Jo 1,14), que habitou em nosso meio, morreu, ressuscitou, está vivo entre nós e, no final dos tempos, voltará glorioso para encerrar a história?

3. Para testemunhar o amor: a Bíblia apresenta a fé na realidade humana. Basta ler os evangelhos e acompanhar Jesus na sua compaixão para com os sofredores. Como lutarmos por um mundo justo, fraterno e solidário, apáticos às ações de Jesus? Nossos discursos serão ideológicos, sem compaixão e sem caridade!…

4. Para ter uma existência iluminada: a Palavra de Deus é lâmpada que ilumina os meus passos e luz que clareia o meu caminho” (Sl 119,105). Como nortearemos a existência, sem a escuta de Deus através da sua Palavra? Nosso caminho será tenebroso e sem luz!…

5. Para rezar com coerência: Seja feita a Vossa vontade assim na terra como no céu” (Mt 6,10). Como rezarmos esta súplica do Pai Nosso, ensinada por Jesus, indiferente à Palavra de Deus, que é o único meio de “descobrirmos” a vontade do Senhor em nossas vidas?

6. Para sentir-se um com os outros e com o planeta: a Bíblia nos dá a certeza de que a natureza saiu das mãos de Deus, como primeira comunicação do seu amor pelos seres humanos, e que estamos integrados com este universo maravilhoso. Ao mesmo tempo em que não estamos sozinhos nas tempestades da vida, como esta pandemia, em que a esperança deve ser alimentada em todas as situações e onde o amor é o remédio que cura as feridas da alma e salva os filhos e filhas de Deus, demonstrado por Jesus na violência da cruz. Como nos mantermos distantes dessa realidade da fé?

7. Para ser santo como o Pai do céu é santo: enfim, a Palavra “é útil para ensinar e para convencer, para corrigir e para educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e preparado para as boas obras” (2Tm 3, 16-17), de tal forma que podemos afirmar como São Jerônimo: “Quando rezamos falamos a Deus, mas quando lemos a Sagrada Escritura, Deus fala conosco.” Como buscar a santidade sem Deus?

A Bíblia nos coloca frente a um espelho, mostrando a nossa história (passado, presente e futuro), alimentando nossos sonhos e utopias, interpelando-nos a apostar na VIDA a caminho do céu. Que possamos, ao longo do mês de setembro, repetir incessantemente como Santo Irineu: “Amo e beijo a Tua Palavra, Senhor, que me alimenta faminto!

Fonte: Diopuava


Dom Amilton Manoel da Silva, CP é um missionário passionista e  bispo diocesano de Guarapuava  PR.