Fé é crer em Deus e ser obediente ao seu projeto de amor

Reflexão: Liturgia do XXIV Domingo do Tempo Comum,
12/09/21
Na Liturgia deste Domingo, XXIV do Tempo Comum, veremos, na 1a Leitura (Is 50, 5-9), que o profeta Isaías apresenta uma pessoa anônima (no exílio da Babilônia), chamada por Deus a testemunhar a Palavra da salvação e que, para cumprir essa missão, enfrenta a perseguição, a tortura, a morte. Mas ela confia e guarda a certeza de que o socorro vem do Senhor. Por isso, mesmo quando acusada, tem certeza da vitória. Essa pessoa foi vista como “Servo Sofredor” que pode ser uma pessoa, um povo, ou ambos, mas que teve sua perfeita realização na figura de Jesus. O “Servo Sofredor” é toda pessoa que, por causa de Deus, defende a dignidade da vida e o bem comum e, por isso mesmo, sofre inúmeras consequências. Somente quem experimentou a fraqueza e o sofrimento sabe quanto necessita da ajuda divina.
Na 2ª Leitura (Tg 2, 14-18), Tiago nos convida a viver nossa fé com coerência, praticando o bem e a caridade; maior virtude, porém, é a caridade: “A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1Coríntios 13, 4-7). Santo Agostinho também enaltece a caridade quando diz: “Aquele que tem caridade no coração tem sempre qualquer coisa para oferecer”.
No Evangelho (Mc 8, 27-35), vemos que Jesus está a caminho de Jerusalém e, então, pergunta aos discípulos: “Quem dizem os homens que eu sou?” Quais foram as respostas das multidões, de Pedro (Lideranças) e da elite no poder (anciãos, doutores da Lei, chefes dos sacerdotes)? Conforme cada visão de Deus, resultará uma prática de vida, uma opção, um testemunho. Sabemos que o nome de Deus está ligado a um Projeto (CIC 203-213). Deus se revela, se auto define aos homens. Não é o homem que cria (define) Deus (como era o caso dos gregos e romanos). “Eu vim ver vocês e como estão tratando vocês aqui no Egito. Eu decidi tirar vocês da opressão egípcia e levá-los para uma terra onde corre leite e mel” (Ex 3,16-17). “Eu vi a miséria do meu povo… ouvi seu clamor… conheço seus sofrimentos… desci para libertá-lo.” (Ex 3,7-10). “O que vou responder?… Eu Sou aquele que Sou… este é meu nome” (Ex 3,13-17).
Deus, ao se revelar, mostra sua proposta (Projeto) para o homem e a sociedade. Este Projeto, Deus revelou, de maneira especial, por meio dos profetas no Antigo Testamento. Podemos ilustrar este Projeto com o exemplo do texto de Isaías 65, 17-25, que diz:
– haverá novo céu e nova terra;
– não haverá mais choro e clamor;
– não haverá morte prematura;
– construirão casas e nela habitarão;
– plantarão e comerão seus frutos;
– ninguém gerará filhos para viverem na humilhação;
– haverá harmonia entre o homem e a natureza.
Jesus, ao se revelar (em comunhão com o Pai e o Espírito Santo), continua com o mesmo Projeto de vida e dignidade para todos (Lc 4,16-21). Jesus confirma esse Projeto quando diz “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Esse Projeto se concretizará quando atingirmos a mentalidade “crística”, isto é, “quando Cristo for tudo em todos” (Cl 3, 11).
Em Mateus 9,35-38, Jesus estava comprometido com um Projeto de libertação integral do ser humano, por isso vai ao encontro dos mais excluídos (povoados, periferias, margem). Lá, Ele vê melhor a realidade, isto é, a condição das pessoas: cansadas, abatidas como ovelhas sem pastor (sem rumo, sem horizonte etc.).
Então, Ele chama mais pessoas para este Projeto. A Igreja, como continuadora de sua missão, tem aqui sua orientação, lugar social para a atuação política. A missão de Jesus e da Igreja é salvar a pessoa na sua totalidade. Sua atuação na política é sempre profética; quando seu compromisso é com os empobrecidos, não se atrela aos poderes deste mundo.
Para que esse Projeto libertador se concretize na América Latina e no Caribe, “os discípulos e missionários de Cristo devem iluminar com a luz do Evangelho todos os âmbitos da vida social. A opção preferencial pelos pobres, de raiz evangélica, exige atenção pastoral voltada aos construtores da sociedade. Se muitas das estruturas atuais geram pobreza, em parte é devido à falta de fidelidade a compromissos evangélicos de muitos cristãos com especiais responsabilidades políticas, econômicas e culturais” (DA, 501).
Este projeto do Reino de Deus deve continuar na vida da comunidade: Mt 5,13-16 e 1Pd 2,9-12 “Vocês são raça eleita, sacerdócio régio, nação santa, povo adquirido por Deus, para resgatar seu Projeto”. Uma necessidade, um chamado na história.
Qual a função de Pedro (Lideranças)?
Pedro somos todos nós: somos capazes do melhor e do pior ao mesmo tempo.
Do pior: só aceitamos Jesus quando Ele atende nossas necessidades mais urgentes, quando queremos um Jesus de sucesso, de espetáculo, sem cruz, messias, rei poderoso, triunfante e não servo sofredor. Quando Ele exige nosso compromisso, desaparecemos. Enfim, queremos mudar Jesus e defini-lo conforme nossos caprichos.
Do melhor: quando damos continuidade a seu projeto. “Tu és o Messias, O Filho do Homem” (estar consciente, pés no chão, comprometido, abraçamos a nossa condição humana).
Não lutar pela justiça social é profanar o nome de Deus. O resumo da pessoa amada é o seu nome! Basta ouvir, lembrar ou pronunciar o nome, e este lhe traz à memória tudo o que a pessoa amada significa para esta pessoa.
Ser povo de Javé significa ser um povo em que não há opressão como no Egito; onde o irmão não explora o irmão; onde reinam a justiça, o direito e a verdade: onde a lei dos dez mandamentos é observada; onde o amor ao próximo é igual ao amor a Deus; onde o povo vive e celebra a sua fé, e louva a Deus pelas suas maravilhas. Esta é a mensagem central da Bíblia; é o apelo que o nome de Deus faz a todos aqueles que querem pertencer ao seu povo.
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.

 


Padre Leomar Antonio Montagna é presbítero da Arquidiocese de Maringá, Paraná. Doutorando em Teologia e mestrado em Filosofia, ambos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR – Câmpus de Curitiba. Foi professor de Teologia na Faculdade Missioneira do Paraná – FAMIPAR – Cascavel, atualmente é professor do Curso de Filosofia da PUCPR – Câmpus Maringá.