Sábado da 26ª semana do tempo comum. Outubro vem chegando de mansinho. Caminhamos rumo a mais um final de ano. Ainda seguimos lutando pela vacinação de nosso povo. Vacina no braço e comida no prato! Por mais que pareça o contrário, atingimos nesta semana o quantitativo de 48% de nossa população vacinada com a primeira e segunda doses. É pouco ainda para que tenhamos a segurança de que o controle dos casos de contaminação entre nós seja contido. Daqui a pouco teremos 600 mil mortes entre nós. É como se uma cidade de grande porte simplesmente deixasse de existir.
Enquanto isso, aquele que está Presidente da República Federativa do Brasil, segue por aí, comemorando mil dias de seu governo, apregoando um amontoado de mentiras, querendo se passar por verdades absolutizadas. Enquanto isso, temos que conviver com: 14 milhões de desempregados; 20 milhões de famintos; 60% dos trabalhadores na informalidade; carestia; inflação acelerada; preço dos combustíveis nas alturas; gás de cozinha com o preço pela hora da morte; aumento das pessoas em situação de vulnerabilidade. Ficamos nos indagando: como caminhar na verdade em meio às trevas da escuridão em que muitos de nós enveredamos? Numa das frases atribuídas a Rui Barbosa ele nos dizia: “De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”.
São dados estatísticos que envolvem vidas humanas. Uma estatística cruel de uma realidade que passou a fazer parte de nossas vidas. Um cenário desolador. Vidas humanas ameaçadas a cada momento, seja pela falta de emprego, comida e seguridade social. Por outro lado, aqueles que detém o poder aquisitivo, os grandes empresários, nunca lucraram tanto como nestes tempos de pandemia. A estimativa é que algumas empresas mais rentáveis, aumentaram seus lucros em 102 bilhões de dólares. Pessoas que pouco se importam com aqueles que estão perdendo suas vidas ou estão vivendo na penúria. Para estes vale lembrar aquilo que diz o livro de Provérbios: “ A riqueza é inútil no dia da ira, mas a justiça liberta da morte”. (Pr 11,4)
Como sempre faço aos sábados, rezei hoje na companhia de nosso profeta Pedro. Um momento especial, estar ali diante de seu túmulo, rezando e buscando inspiração para dar continuidade à vida em tempos tão difíceis. Impossível não lembrar de uma de suas frases rotineiras em momentos de dificuldades: “Não se esqueçam que são nas noites mais escuras, que vemos com mais clareza o brilhar das estrelas”. O monge tibetano Dalai Lama, diria de forma diferente, mas na mesma direção: “É durante as fases de maior adversidade que surgem as grandes oportunidades de se fazer o bem a si mesmo e aos outros”.
Vivemos tempos adversos. A pandemia veio acirrar ainda mais as contradições de uma sociedade desigual em que vivemos. Mais do que nunca, é preciso estar preparados para assumirmos a nossa missão de cristãos, sem nos eximirmos da responsabilidade de lutar na construção de outra realidade possível, diferente desta que aí está. Sendo partícipes na construção de uma sociedade, em que estejam presentes três palavras básicas fundamentais: diversidade, equidade e inclusão. Uma sociedade plural, em que as pessoas possam ser únicas e exercitar o seu pleno direito à cidadania, compreendendo que a diversidade pressupõe antes de tudo, diferentes identidades. Uma diversidade que consiste nas diferenças individuais, sociais e historicamente constituídas.
Uma sociedade de iguais e que caibam a todos. Incluir para dignificar. Inclusão de pessoas vulnerabilizadas. Falar de “inclusividade” é falar daquelas pessoas que passam a ser tratadas de maneira mais justa e igualitária, possibilitando-as o acesso e pleno desenvolvimento de suas potencialidades enquanto ser humano. O Brasil figura entre aqueles países, cuja economia é tida como uma das maiores do mundo, mas também com os indicadores sociais mais perversos, fruto de uma das sociedades mais desiguais do mundo. Como conviver com tamanha discrepância? O privilegio de alguns poucos se contrapõe a desigualdade massiva daqueles que não possuem a mesma igualdade de condições e oportunidades. “A pior forma de desigualdade é tentar fazer duas coisas diferentes iguais”. (Aristóteles) Sem nos esquecermos que uma das funções do Estado é trabalhar na promoção e na justiça para eliminar toda forma de exploração e desigualdade social.
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.