Viva a Mãe de Deus e Nossa

Solenidade de Nossa Senhora Aparecida. Festa da Padroeira do Brasil. Viva a Mãe de Deus e Nossa! A Mãe Negra de Aparecida que nos acolhe em seu regaço de Mãe, afagando as nossas dores e enchendo o nosso coração de afeto de Mãe sempre pronta a acolher os seus. Maria a Mãe de Jesus se faz presente na nossa história humana, personificando na Imaculada Conceição Aparecida, se fazendo pobre com os pobres que a ela acorrem. Se a mãe jamais abandona seus filhos e filhas, quanto mais a Mãe de Jesus, a “Comadre de Nazaré”.

Tudo começou lá pelo século XVIII, no ano de 1717. O Brasil vivia os seus anos cruéis de um regime escravagista, submetendo os negros, trazidos a força da Mãe África, subjugando-os à dura servidão. Mais cruel que que a escravidão do Povo Hebreu no Egito. Era o período das Capitanias Hereditárias, um sistema administrativo implementado pela Coroa Portuguesa no Brasil a partir de 1534. O povo negro sofria horrores nas mãos dos “donos” dos latifúndios. A “Mãe negra” veio para dar-nos uma demonstração de que Deus não havia abandonado aquele povo tão sofrido nas mãos de algozes escravocratas, inclusive com a participação e conivência da própria Igreja Católica.

Como o Conde de Assumar, D. Pedro de Almeida e Portugal, Governador da Província de São Paulo e Minas Gerais, iria passar pela Vila de Guaratinguetá, cm destino à Vila Rica, hoje, cidade mineira de Ouro Preto, os políticos locais, querendo fazer uma graça a esta comitiva destes invasores do Brasil, convocaram alguns pescadores da região (Domingos Garcia, Filipe Pedroso e João Alves) para executarem tal tarefa no Rio Paraíba do Sul. Como na pescaria de Pedro, na Palestina no tempo de Jesus, depois de várias tentativas sem alcançar sucesso, chegaram ao Porto Itaguaçu, onde lançaram as redes e apanharam uma imagem sem a cabeça, logo após, lançando as redes novamente, “pescaram” a cabeça. Dando sequência à pescaria, lançaram as redes e, dessa vez, apanharam tamanha quantidade de peixes que as redes se rompiam.

A imagem virou a devoção popular das pessoas mais pobres daquela região. Todas as pessoas simples, acorriam àquela imagem, geando uma grande repercussão. Por volta de 1734, um dos vigários da cidade de Guaratinguetá construiu uma Capela no alto do Morro dos Coqueiros, aberta à visitação pública, em 26 de julho de 1745. Entretanto, como o número de pessoas que procuravam a imagem da Mãe Negra aumentava cada vez mais, em 1834, deu se o início da construção da Basílica Velha de Aparecida, para ali acolher os fiéis, desejosos de encontrar-se com a Mãe Aparecida. No dia 29 de abril de 1908, a igreja recebeu o título de Basílica Menor, tornando assim o local de encontro dos romeiros com a Mãe Negra de Aparecida.

Dez anos depois, no ano de 1894, chega à Aparecida o primeiro grupo de missionários (padres e irmãos) da Congregação do Santíssimo Redentor (CSSR), para trabalhar no atendimento às pessoas que acorriam à Senhora “Aparecida” das águas para rezar. Os Redentoristas, começam assim a sua missão específica no atendimento aos romeiros que se deslocavam até a cidade de Aparecida para estar alguns momentos ao lado da daquela pequenina imagem da Mãe Negra de Aparecida.

Coube ao Papa Pio X, no ano de 1904, dar a ordem de coroar a imagem solenemente como grande centro de devoção mariana do Brasil. Todavia, no ano de 1929, o sucessor de Pio X, o Papa Pio XI, proclamar Maria como Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Rainha e padroeira do Brasil, em 16 de julho de 1930, como um bem espiritual do povo brasileiro e o aumento cada vez maior de devotos à Imaculada Mãe de Deus.

Com o passar dos anos, a devoção a Nossa Senhora da Conceição Aparecida foi crescendo e o número de pessoas aumentando cada vez mais. A Basílica Velha tornou-se demasiadamente pequena e já não comportava mais o número de devotos da Mãe. Era necessária a construção de outro templo, que pudesse acomodar tantos romeiros. Assim, em conjunto com os bispos locais, os missionários Redentoristas, dão início, em 11 de novembro de 1955, a construção da atual Basílica Nova. Em 1980, ainda em construção, foi consagrada pelo Papa João Paulo II, recebendo o título de Basílica Menor. Em 1984, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) declarou oficialmente a Basílica de Aparecida Santuário Nacional, se transformando no “maior Santuário Mariano do mundo”.

Já são 304 anos de existência da devoção à Mãe Negra de Aparecida. Mais de três séculos que os pobres recorrem à Mãe, na tentativa de encontrar refúgio e proteção, num país que ainda conserva em si as marcas profundas de um sistema escravagista, que ainda determina as relações em nossa sociedade. Somos um país que ainda mantém as características de um racismo estrutural em suas vísceras. Um racismo institucionalizado, oriundo da perversa relação entre a Casa Grande e a Senzala que permanece vivo. Como Maria, a Mãe de Jesus que profetizou o seu Cântico do Magnificat: “Derruba os poderosos de seus tronos e eleva os humildes. Sacia de bens os famintos e despede os ricos de mãos vazias” (Lc 1, 52-53); nossa Mãe Negra, conclama os pequenos a se unirem para derrubar o dragão da morte que insiste em fazer vítimas no mundo de hoje. Viva a Mãe de Deus e nossa, a Senhora Negra de Aparecida, Mãe profeta da libertação! Maria de Deus! Maria da gente! Que a Mãe nos dê forças para caminhar pelas estradas deste Brasil tão desigual, gerando a dor, sofrimento e morte de seu povo!

 


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.