Estou na região amazônica desde 1992. Já são quase trinta anos que convivo com os POVOS DA FLORESTA, RIBEIRINHOS QUILOMBOLAS, POVOS ORIGINÁRIOS. Encantei-me com o que aqui encontrei. Não somente, por encontrar aqui uma IGREJA LIBERTADORA, PROFÉTICA, diferente, sob a batuta do bispo Pedro, mas também pela Amazônia, de maneira geral. Uma outra realidade que eu jamais tinha conhecido e vivenciado. Apaixonei-me a primeira vista, e vi que aqui era o MEU LUGAR. Era onde eu devia estar. Os anos todos de minhas andanças, aqui e acolá, foram para encontrar este lugar, para dedicar à minha missão. SOU FELIZ NO ARAGUAIA!
Todavia, o mês de setembro do ano de 2019 marcou-me profundamente. Destes anos todos que aqui estou, nunca tinha visto algo semelhante que presenciei neste ano. Um CRIME CRUEL, BÁRBARO e BRUTAL, de proporções gigantescas aconteceu na Amazônia neste ano. Um crime PREMEDITADO, ORQUESTRADO, PLANEJADO. Dezenas de fazendeiros locais, atearam, propositadamente, fogo na floresta. Tudo isso em sintonia com o desgoverno que se apoderara de Brasília. De cortar o coração do mais insensível dos seres humanos, as cenas que, infelizmente tivemos que assistir. Crueldade tem nome e se chama GANÂNCIA.
Vi árvores sexcentenárias sendo varridas pelo fogo devorador, depois de serem tombadas pela força dos motosserras. MOGNO, CEREJEIRA, IMBUIA, PAU BRASIL de tamanhos gigantescos, algumas com mais de 50 metros de altura, estiradas pelo chão. A floresta inteira em chamas, perfazendo uma cortina de fogo assustador. Sentei-me ao chão assim como fizeram as minhas companheiras que comigo vistoriávamos a mata e, literalmente choramos, inertes e sem forças para dizermos qualquer palavra. E não era somente o fogo, que nos tornava impotentes, mas as centenas de animais silvestres que saiam aterrorizados em meio ao fogo e, se jogavam sobre nós, mais mortos do que vivos. Aos meus pés, uma pequena raposa veio cambaleante acabando de morrer ali, junto a mim.
Tudo indica que este ano a tendência é que se repita mais este crime ambiental. A depender da NECROFILIA que vem do PLANALTO CENTRAL, mais uma vez a floresta vai ser saqueada. Leis já estão sendo preparadas, para dar cabo ao sonho de consumo dos grandes, que tem seus olhos voltados para as terras da floresta. A floresta pede socorro! Não podemos deixar que mais uma vez, as forças da morte prevaleçam sobre a floresta, que precisa permanecer de pé, para a sobrevivência de todos nós. Ela é mais importante para a humanidade estando de PÉ.
Temos a nosso favor não somente a força para lutar contra este genocídio. A própria Constituição Federal de 1988, no seu Artigo 225 é bastante clara: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e de preservá-lo para as presentes e futuras gerações.” Vamos usar de todas as nossas forças, para fazer preservar aquilo que é um bem coletivo de toda a humanidade, a começar dos mais de 180 povos indígenas que vivem na Amazônia brasileira, perfazendo uma população de mais de 200 mil habitantes.
A floresta está ameaçada e todos nós juntos com ela. Precisamos entrar todos na luta em defesa das populações originárias, dos ribeirinhos, dos quilombolas e da multiplicidade de espécies da flora e da fauna – da nossa MÃE TERRA. A nossa casa comum precisa de nosso apoio, luta e defesa. O pecado ecológico, do qual fala o nosso Papa Francisco, na sua Exortação Apostólica QUERIDA AMAZÔNIA, não pode prevalecer sobre a vida da floresta e de todos os que dependemos dela. Os indígenas estão preparados para esta grande tarefa. Pintados para guerra, inclusive. Como mesmo me disse uma liderança Xavante: “Nós podemos até morrer com a floresta, mas vamos matar muitos que vierem nos agredir como foi no ano de 2019.”