Reflexão litúrgica: quarta-feira,
01/12/2021, 1ª Semana do Advento
Na Liturgia desta quarta-feira, 1ª Semana do Advento, na 1a Leitura (Is 25,6-10a), o profeta Isaías nos fala que, no Monte Sagrado de Sião, acontecerá o banquete universal preparado e servido por Deus para todos os povos. Banquete é sinal de amizade, partilha, momento em que se trocam presentes. Como presente, Deus irá acabar com as lágrimas, o luto e a tristeza e, sobretudo, vamos festejar o triunfo, a vitória da vida sobre a morte. Esse banquete expressa a esperança humana num futuro de alegria e de salvação para todos. A última palavra de Deus sobre a história não é o julgamento, mas a comunhão universal de todos entre si e com o próprio Deus.
No Evangelho (Mt 15,29-37), vemos que o pão distribuído a todos é a marca da ação de Jesus. Os discípulos precisam imitar Jesus para que todos tenham o necessário: sentir compaixão e saber agradecer. Vejamos algumas chaves de leitura para melhor compreender este texto:
1ª) Jesus ‘viu’ a multidão: Jesus é pastor, é líder. Ele devolve a esperança e não despede ninguém de mãos vazias. Ele é o “Novo Maná”. Jesus é pastor que ama, cura, carrega ao colo a ovelha machucada, mas, também, enfrenta o lobo com seu cajado. Nosso cajado é nossa arma: conscientização – a consciência transforma a realidade.
2ª) comportamento das pessoas na multidão: Alguns buscam milagres mágicos, enquanto que o maior milagre é “cair em si” (tomar consciência). Não vamos deixar para Deus fazer aquilo que compete a nós. Jesus exige compromissos.
3ª) Responsabilidade e mentalidade dos discípulos: despedir as multidões? Se preocupar somente com o pão do espírito e que cada um se vire? Jesus põe a fé à prova, quer que enfrentemos os problemas, a responsabilidade pelas pessoas sofridas não pode ser transferida. Somos responsáveis pela fome no mundo. A partilha, hoje, seria melhorar as políticas públicas, edificar uma sociedade alternativa sem a concentração de renda.
4ª) O milagre: acontece a partir do que as pessoas tinham: cinco pães e dois peixes. Jesus saciou milhares de pessoas com fome, mas Jesus pediu a contribuição humana, como nos pede hoje: nosso trabalho, nossa solidariedade, nosso dízimo e nosso amor. Cinco pães e dois peixes, mesmo impotentes, quando partilhados, todos ficam saciados e ainda sobra.
5ª) O milagre: “Dai-lhes vós mesmos de comer!” Conversão para o espírito da partilha, banquete da justiça. Partilha: sinal de um novo modo de vida que nasce da organização do povo. Compromisso com uma sociedade justa, ideia revolucionária.
Eucaristia é mero rito ou força revolucionária de alimento libertador? Qual a boa notícia que anunciamos? Mencionamos as causas da pobreza, ou tanto faz? Exemplo: Dom Helder dizia: “Se ajudo os pobres me chamam de santo, se aponto as causas da pobreza me chamam de comunista”.
Jesus é o novo Moisés, sacia duas fomes: Palavra e pão
Jesus sacia a fome de pão, a fome de solidariedade, a fome de instrução, de ideais e, neste sentido, a Igreja, com sua Pastoral Social, deve dar acolhida e acompanhar essas pessoas excluídas nas respectivas esferas, pois, seguir a Jesus, é romper com a sociedade da exploração e exclusão. Mas, para isso, precisamos do milagre das políticas públicas eficientes, projetos que contemplem os mais necessitados, porque muitos dos problemas sociais são frutos da injustiça institucionalizada, como dizem os bispos latino americanos desde a Conferência de Medellín, em 1968.
Não conhecer a proposta da Igreja e se opor à opção pelos mais fragilizados da sociedade é um grande mal dos nossos tempos. Hoje, poucas pessoas têm esse conhecimento e, por isso, muitas vezes, consentem com o mal e, até, de forma coletiva: “O consentimento ao mal é um sinal preocupante de degeneração, intelectual, espiritual e moral em nossa realidade”. A Igreja se preocupa com a atuação dos cristãos, por isso oferece formação para que, também os leigos, façam Jesus acontecer ‘no altar’ das realidades temporais.
Jesus é sensível às necessidades da multidão, purifica a mentalidade dos discípulos e provoca todos nós, hoje, responsabilizando-nos também pela solução da fome e dos males do mundo, pois o mal é uma denúncia contra nós: não fomos tão bons, sal, luz, fermento. “Onde vamos comprar pão para todos?”
A caridade evangélica é fundamento do agir cristão e requer a promoção humana e a libertação integral. É gesto de quem se dá. De quem coloca, a serviço do outro, suas melhores energias, seu espaço, sua influência social e política, e não migalhas de tempo ou de poder. As primeiras comunidades aprenderam a lição do Senhor e viviam a comunhão fraterna e o gesto de quem partilha as primícias e não as sobras. Assim, “não havia necessitados entre eles”.
A liturgia de hoje afirma que Jesus é nosso banquete messiânico, Ele pede que os discípulos façam a multidão acomodar-se na relva. É um banquete sem mesa, tornando-se Ele mesmo a mesa em torno da qual o povo se reúne para celebrar a vida da nova aliança com Deus, Jesus, pão que alimenta e sacia seu povo, elimina todo sofrimento. Na comunhão com Deus, o ser humano terá realização plena e a festa acontecerá, não será necessário primeiro ajuntar para depois repartir.
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.
Padre Leomar Antonio Montagna é presbítero da Arquidiocese de Maringá, Paraná. Doutorando em Teologia e mestrado em Filosofia, ambos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR – Câmpus de Curitiba. Foi professor de Teologia na Faculdade Missioneira do Paraná – FAMIPAR – Cascavel, atualmente é professor do Curso de Filosofia da PUCPR – Câmpus Maringá.