Reflexão: Liturgia do II Domingo do Advento,
ano C – 05/12/2021
Na Liturgia deste Domingo, II do Advento, veremos, na 1a Leitura (Br 5, 1-9), que em tempos de crise (foram levados para o cativeiro) e numa fase trágica da história do povo, aparece o profeta Baruc trazendo uma mensagem de esperança. Suas palavras são confortadoras. Anuncia dias melhores. Diz que todos devem alegrar o coração. Deus cumpre as promessas e liberta do sofrimento, não de forma mágica, mas quer, também, o nosso esforço.
O profeta oferece algumas dicas:
- a) O início da libertação é ‘mudar de roupa’: “Despe, ó Jerusalém, a veste de luto e de aflição e reveste-te da glória do Esplendor do Senhor. Cobre-te com o poder de Deus. Levanta-te, põe-te no alto”;
- b) A Misericórdia de Deus é maior do que todas as crises, as tragédias humanas. Deus não nos abandona, mas nos reconduz às fontes da vida;
- c) Deus nos dá um novo nome, uma nova identidade – A experiência nos transforma, nos marca para sempre: “Receberás de Deus este nome para sempre: Paz-da-justiça e glória-da-piedade”. Ninguém jamais nos tirará a alegria interior, poderemos oscilar em alguns momentos, mas preservaremos a vitalidade interior.
Na 2ª Leitura (Fl 1,4-6. 8-11), o Apóstolo Paulo relembra pontos de seu ensinamento à Comunidade de Filipos, sua experiência de vida. Também, nos questiona: Qual a meta, o objetivo de ser cristão? “Que vosso amor cresça sempre mais…”. Seu testemunho de fé é exemplo para nós: oração marcada pela alegria. Não reza só por si, nem coloca seus desafios em primeiro lugar. Tem convicção de que Deus está agindo nas pessoas, de que Deus está criando sempre um mundo novo. A oração faz-nos nascer de novo (quando rezamos pelos outros, o primeiro efeito acontece em nós mesmos).
No Evangelho (Lc 3 1-6), Lucas nos mostra como era a sociedade da época e a quem a palavra de Deus se dirigiu. Ninguém se salva ou constrói a esperança ignorando a realidade em que vive. Deus se manifesta na história concreta de cada um de nós. Lucas, mais tarde, mostra que Jesus irá se confrontar com essas autoridades que em tudo contradiziam o que Ele dizia, ensinava e pregava: aquilo que, para Jesus, era bem, para eles, era mal. O que, para Jesus, era mal, para eles, era bem.
Nesse contexto, a Palavra de Deus foi dirigida a João, no deserto. Deserto, no sentido bíblico, podemos compreender como:
– lugar onde Deus educa seu povo (era de cabeça dura, não estava nem aí);
– lugar de provação, purificação e de manifestação de Deus (pode ser a Igreja, a vivência dos sacramentos, participação nas pastorais, CEBs etc);
– lugar: dentro e fora de nós;
– meio e não fim para a terra prometida. Implica uma nova forma de viver. Começar uma nova história. Nasce a missão que é seguir o caminho de Jesus. A nossa missão também nasce quando nos despojamos da mentalidade da sociedade hedonista. Nascer de novo, revestir-se de Cristo. Nova roupagem (Batismo).
“Esta é a voz daquele que grita no deserto”. Ir ao encontro dos irmãos para tirá-los do vazio deixado pela falta de coerência com a fé. Gritar, porque o coração está longe.
“Preparai o caminho do Senhor”. As estradas, os caminhos tornam possível a comunicação. Sem caminhos, as regiões ficam isoladas e de difícil acesso. Em nossa comunidade, conhecemos alguém parecido com João Batista que preparou o caminho do Senhor, que anunciou, sem medo, o Reino de Deus? Nós somos João Batista?
“Endireitai suas veredas/estradas”: Por que alguém não anda na retidão? Por suas próprias escolhas ou por falta de oportunidades de acesso ao que é necessário: alimento, educação etc? Estes que caíram na vida devem ser socialmente rejeitados, considerados sem conserto, um caminho sem volta?
“As montanhas serão rebaixadas, todo vale será aterrado”: Quais irmãos precisam ser erguidos? A injusta diferença social deverá ser eliminada entre ricos e pobres?
Para concluir, penso que a liturgia de hoje e o Advento nos dizem que Deus vem ao nosso encontro com alegria por meio de Jesus Cristo. Em Jesus há um futuro, há conserto, por maior que sejam as tragédias, dificuldades. Há esperança. Nós somos instrumentos de salvação, de alegria. Em nós, Deus cumprirá sua promessa: “E todas as pessoas verão a salvação de Deus”.
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.
Padre Leomar Antonio Montagna é presbítero da Arquidiocese de Maringá, Paraná. Doutorando em Teologia e mestrado em Filosofia, ambos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR – Câmpus de Curitiba. Foi professor de Teologia na Faculdade Missioneira do Paraná – FAMIPAR – Cascavel, atualmente é professor do Curso de Filosofia da PUCPR – Câmpus Maringá.