Cada vez mais ganham destaques na Internet e outros meios, gurus que prometem a fórmula do sucesso. Se você pensar positivo vai atrair saúde, sucesso, dinheiro e riquezas, segundo eles. Quase tudo se resume em pensar positivo. Em seguida oferecem seus cursos com dicas para uma vida próspera.
Ultimamente até mesmo alguns pregadores da fé embarcaram na onda do pensamento positivo. Dizem que se a gente tiver fé vai conseguir todo tipo de bens. Na prática confundem fé com pensamento positivo. Por isso se faz necessário esclarecer as coisas, fazendo as devidas distinções.
O pensamento positivo é a filosofia, segundo a qual o pensamento tem o poder de fazer o universo trabalhar a favor do indivíduo, atraindo toda sorte de bens, entre eles a riqueza. Tudo é uma questão de mentalizar aquilo que deseja. Assim a pessoa atrai o sucesso. O grande teórico do pensamento positivo foi o escritor americano, Joseph Murphy (1898-1981). Mas ele chamava isso de fé.
Inspirados em Murphy uma grande onda de gurus e coachs, entre outros, passaram a difundir a filosofia do pensamento positivo, apresentando ao público como sinônimo de fé. Para eles a fé é a convicção profunda em algo almejado somado a imaginação do indivíduo. Assim fé e pensamento positivo seria a mesma coisa.
Esse é um grande erro, porque a fé não é mero pensamento positivo. A fé no Novo Testamento tem duas acepções que se complementam. A primeira acepção entende que “A fé é a garantia dos bens que se esperam, a prova das realidades que não se veem. (Hb 11,1). Nesse sentido a fé se assemelha ao pensamento positivo, por caracterizar-se como uma certeza sobre o incerto.
Mas temos uma segunda acepção de fé nas cartas de Paulo, menos conhecida e que se difere do pensar positivo. “Por conseguinte, estamos sempre confiantes, sabendo que, enquanto habitamos neste corpo, estamos fora da nossa mansão, pois caminhamos pela fé e não pela visão” (2 Cor 5,6-7; 1 Cor 13,12). Aqui a natureza do conhecimento da fé tem um “claro-escuro”, pois não se trata de uma visão plena. Certamente foi por essa razão que os escritores cristãos nunca falaram nada da fé de Jesus, pois sabiam que Ele tinha uma visão clara dos mistérios do Pai.
Nesse sentido devemos entender a postura de Jesus quando ensinou a rezar com fé. “Seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu” (Mt 6,10). A fé não determina o que Deus deve fazer para nós, mas submete nossas vontades a vontade maior, ou seja, à vontade de Deus. Foi assim que Jesus rezou diante da cruz. “Pai, se possível afasta de mim esse cálice, não se faça a minha vontade, mas a tua” (Lc 22,42). Assim a fé é um “claro-escuro”, onde a convicção não supõe uma certeza no poder da mente do indivíduo, mas sim, uma certeza que Deus realizará sua promessa, mesmo que não saibamos como, pois não temos a visão dos mistérios e desígnios divinos. Os teóricos do pensamento positivo se apegaram a primeira acepção de fé, mas esqueceram a segunda.
Estamos seguros da importância do pensamento positivo, mas também precisamos advertir sobre alguns riscos. A pessoa que pensa positivo constrói uma realidade imaginária na sua mente, porém a vida real pode frustrar por não atingir aquilo que mentalizou, trazendo sofrimento. Um segundo risco do pensamento positivo é a ansiedade, pois na medida em que a pessoa trabalha com uma expectativa certeira, seus desejos futuros trazem ansiedade no presente. Outro perigo é a pessoa estabelecer metas de riquezas além da realidade, trazendo decepções e frustrações.
Além disso, a vida é cheia de surpresas e todos estão sujeitos a perdas. Por exemplo: quando um terremoto violento sacudiu o Haiti, tanto quem pensava positivo como quem pensava negativo teve perdas. O mesmo podemos observar quando uma enchente inunda uma cidade, todos têm perdas. Existe na realidade efetiva uma força maior do que nossos pensamentos, pois somos partes da natureza, que está acima de todos. Vivemos em sociedade, num determinado contexto político e social. Somos cientes de que os erros políticos e comportamentos inadequados do grupo social podem nos atingir, independente do nosso otimismo.
Pensar positivo faz bem quando se estabelece metas concretas, ao alcance das possibilidades pessoais. Por exemplo; se um fazendeiro estabelecer como meta comprar uma Ferrari, seu pensamento positivo vai contribuir, considerando que a meta esta dentro das suas possibilidades. Por sua vez, se um pobre, que mora embaixo de uma ponte, e não tem sequer uma bicicleta, estabelecer como meta comprar uma Ferrari, muito provável que o seu pensamento positivo vai frustrar, pois está muito além das suas possibilidades. Quando o individuo acha que vai atrair tudo com a magia do seu pensamento, ele está sendo um forte candidato para frustração e ansiedade.
Obviamente que todos nós devemos estabelecer metas e pensar positivo, pois isso gera um estímulo que impulsiona a pessoa em direção das conquistas. Mas uma pessoa ambiciosa tende estabelecer metas de riquezas que vão além das suas possibilidades reais. Eis um grande perigo. Coisa que os gurus do pensamento positivo deviam alertar, mas não o fazem.
Quando um pregador religioso vocifera dizendo que aquele que tiver fé vai receber a cura desejada, está propagando pensamento positivo, com roupagem de fé. A verdade é que muitas pessoas naquela Igreja vão continuar a vida intera tomando remédio para doenças crônicas como diabetes e hipertensão, outros ainda vão continuar tratando do câncer, e tantas outras doenças. Mas nem por isso essas pessoas têm fé menor. O que acontece é que essa fé que resolve tudo não existe, porque não está ao nosso alcance resolver tudo. Trata-se de uma pregação do pensamento positivo, irreal.
Mais vale agir com fé, pois essa se caracteriza por uma convicção pela qual a pessoa religiosa visualiza como realidade aquilo que deseja alcançar, mas numa atitude de humildade, compreende que sua vontade se submete a Deus. O resultado final sempre virá de alguma forma, mas não necessariamente como imagina sua cabeça.
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