Um Deus sempre fiel

Sextou de novo! Estamos vivendo a segunda semana do Advento. Caminhando em busca de nossas realizações. De coração aberto, nos colocamos diante das perspectivas da vida, entregando-nos a cada dia nas mãos de Deus, para que Ele faça de nós instrumentos de sua vontade. Nossa causa maior é a defesa da vida, em todas as suas circunstancias. Chamados à este mundo, trazemos em nós as insígnias de um Deus que muito ama, e quer a vida em sua totalidade e amplitude. O Criador que plasmou no Cosmos a sua criatura com o selo original, à sua imagem e semelhança.

“Onipotente e bom Senhor. A ti a honra, glória e louvor! Todas as bênçãos de ti nos vêm. E todo o povo te diz: amém! Rezei nesta manhã com a ajuda do irmão e menestrel Zé Vicente. Não poderia ser diferente. Fui acordado logo muito cedo pela horda de papagaios, que veio saborear as mangas coquinho de meu quintal. Sem pedir licença, povoaram todo o recinto, numa farra infinda, tagarelando sem parar. Tanto degustavam quanto deixavam cair pelo chão os pequenos frutos. É a lógica própria da natureza alimentando a natureza. E todos os papagaios dizendo, amém!
https://www.youtube.com/watch?v=5OFEmQ4-x68

Dez de dezembro é uma data significativa e especial para a história da humanidade e para os defensores da vida. Hoje é o Dia Internacional dos Direitos Humanos. Esta data foi escolhida porque, em 1948, a Organização das Nações Unidas (ONU), oficializou a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Desta forma a partir daí, desde o ano de 1950, nesta data é comemorado o Dia dos Direitos Humanos. Declaração esta que no seu artigo primeiro já diz tudo: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade” (Art. 1).

Apesar dos Direitos Humanos serem algo claro e objetivo, há uma grande celeuma quanto a sua compreensão e efetividade entre nós. Muitos daqueles que os desconhecem ou deles discordam, afirmam se tratar de coisas relacionadas à “esquerdistas”, “comunistas”. Geralmente quem assim pensa, são aqueles primeiros a violarem os Direitos Humanos. Para os direitos humanos, a vida está em primeiro plano. Como a própria ONU assim o define: “Os direitos humanos incluem o direito à vida e à liberdade, à liberdade de opinião e de expressão, o direito ao trabalho e à educação, entre e muitos outros. Todos merecem estes direitos, sem discriminação”.

Se atentássemos bem, nem precisaríamos que houvesse uma “Declaração Universal dos Direitos Humanos”. Se a nossa relação com Deus fosse mais verdadeira, fiel e transparente, não necessitaríamos de qualquer tipo de declaração para nos alertar deste compromisso que temos com a vida. A nossa vida e a das demais pessoas. Quando umas vidas valem mais que outras, significa que não entendemos bem aquilo que Deus planejou para a nossa existência. Perante Ele, todos somos iguais, independente do que somos ou temos. Nele, sou quem sou e nada mais! Não sou mais do que penso ser, pelo fato de ter. Como dizia nosso bispo Pedro: “Não ser ‘tidos’ por nada. Bem-aventurados os que sabem ser e deixar de ter. Porque deles é o Reino!”

Deus, ao contrário de nós, é fiel sempre! Com Ele não há meias palavras. Lá no Antigo Testamento já dizia: “Eu sou aquele que sou” (Ex 3,14). Um Deus que está sempre presente na história de seu povo, como Aquele que luta pela sua libertação. Aliás, a sua identidade se constitui dentro deste processo de libertação. Foi assim no passado com os israelitas e é assim conosco em meio ao nosso processo histórico atual. Um Deus de ontem e de hoje, sempre fiel à seu povo. Em meio ao caos, a violência e a desigualdade, ainda é possível encontrar amor. Deus é amor! Ele é o verdadeiro amor e através de seu filho Jesus podemos e devemos nos relacionar com Ele e experimentar a totalidade desse amor em nossas vidas.

Neste sentido, a liturgia de hoje nos brinda com um belo texto, extraído do profeta Isaías: “Eu, o Senhor teu Deus, te ensino coisas úteis, te conduzo pelo caminho em que andas. Ah, se tivesses observado os meus mandamentos! Tua paz teria sido como um rio e tua justiça como as ondas do mar; tua descendência seria como a areia do mar e os filhos do teu ventre como os grãos de areia; este nome não teria desaparecido nem teria sido cancelado de minha presença”. (Is 48,17-19) Um Deus que é fiel sempre, mesmo diante da nossa rebeldia nas infidelidades. Apesar de tudo, Deus continua fiel e agirá novamente como redentor do seu povo.

Diante de um Deus que se faz sempre presente e fiel a nós e, vivenciando o dia Internacional dos Direitos Humanos, bem que poderíamos fazer também nossas as sábias palavras do jornalista e escritor brasileiro Carlos Heitor Cony (1926-2018): “Fica proibido o uso da palavra liberdade. A qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso das bocas. A partir deste instante a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo ou um rio, e a sua morada será sempre o coração do homem”. (Os Estatutos do Homem – Ato Institucional Permanente)


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.