O Messianismo de Jesus

Quarta feira da terceira semana do Advento. Dez dias nos separam da festa que estamos aguardando. Celebrar o aniversário daquele menino pobre que veio inaugurar um novo tempo histórico para a humanidade. Através d’Ele, é Deus mesmo se fazendo presente entre nós. Celebramos o Natal sem nos esquecermos que a nossa festa maior é a da Páscoa do Filho. Mas tudo se inicia com a vinda do pequeno Jesus, que nasce no meio dos pobres, como não poderia deixar de ser. Deus escolhe o lugar social para fazer-se morada entre nós. Deus sendo pobre com os pobres,

A primeira ideia que temos historicamente do presépio nos veio de São Francisco de Assis. Lá no século XIII, em 1223, três anos antes da sua páscoa definitiva, ele quis recriar o nascimento de Jesus. Sua intenção era a de destacar e reviver a dimensão histórica e humana do nascimento de Jesus. Isso aconteceu na pequena cidade de Greccio, há 90 km da cidade de Roma. Para ele, o Natal era “a festa das festas”. Ele tinha uma profunda devoção pelo Natal. Não que desprezasse a festa maior da Páscoa do Ressuscitado. Foi através de São Francisco de Assis, que deu início então, à tradição das famílias representarem a cena do nascimento de Jesus em forma de presépios, trazendo a experiência da encarnação do Verbo para mais próximo destas.

Os grandes místicos da história da Igreja, também tiveram no presépio à sua inspiração maior para a sua vivência de fé. Nosso bispo Pedro é um destes. Por sua casa sempre havia um lugarzinho para colocar os presépios que fora ganhando por onde passava. Com uma diferença, seus presépios sempre fiaram expostos ao longo de todo o ano e não especificamente no período das festas natalinas. O que ficava na capela de sua casa era o mais bonito deles.

Como estamos nos preparativos para o nascimento de Jesus, a liturgia nos coloca em sintonia com esta realidade. O texto do evangelho que nos é proposto para o dia de hoje é bastante emblemático neste sentido. A preocupação maior é conhecer, de fato, a este Jesus e de saber se Ele é ou não o enviado de Deus. Foi por este motivo que “o precursor”, manda alguns de seus discípulos perguntarem a Jesus se Ele era ou não o Messias enviado. O mais interessante é que Jesus não responde aos discípulos do Batista de forma teórica, mas passa para eles a descrição de seu programa messiânico: “Ide contar a João o que vistes e ouvistes: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, e a boa nova é anunciada aos pobres. (Lc 7,22)

Jesus não nasce por acaso no meio dos pobres. Eles são os destinatários primeiros do projeto messiânico de Jesus. É a eles que a Boa Nova é anunciada e vivida em toda a sua intensidade. Neste sentido, Jesus encarna em si aquilo que fora anunciado pelo Profeta Isaías, que teria vivido entre os anos de 765 a.C. e 681 a.C., durante os reinados de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias: “O Espírito do Senhor do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu. Me enviou para dar a boa notícia aos pobres, para curar os corações feridos, para proclamar a libertação dos escravos e pôr em liberdade os prisioneiros, para promulgar o ano da graça do Senhor, o dia da vingança do nosso Deus, e para consolar todos os aflitos”. (Is 61,1-2),

A liberdade está presente no DNA do Projeto messiânico de Jesus. Somos filhos e filhas da liberdade! A liberdade é o princípio fundante da mossa vida. Ela é a característica precípuas de toda pessoa humana, criada à imagem e semelhança do próprio Deus em pessoa. É através da liberdade que as pessoas se orientam para o bem, na busca incessante pela sua plena felicidade. Como bem elucida a Doutrina Social da Igreja: “Uma sociedade justa pode ser realizada somente no respeito pela dignidade transcendente da pessoa humana. […] Em nenhum caso a pessoa humana pode ser instrumentalizada para fins alheios ao seu mesmo progresso, que pode encontrar cumprimento pleno e definitivo somente em Deus e em Seu projeto salvífico” (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 132-133).

O evangelho termina com Jesus afirmando: “Feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim!”. (Lc 7,23) Fazer parte do discipulado de Jesus é ter clara esta compreensão, sobretudo para o enfrentamento da problemática que estamos vivendo no nosso dia a dia. Lembrando que o projeto messiânico trazido por Jesus não é uma simples ideia ou mera teoria. É uma ação libertadora concreta, que faz de todo aquele e aquela que abraça esta causa, ter as mesmas atitudes d’Ele. Se assim o fizermos, o Senhor mesmo nos conduzirá como cantamos nesta canção que foi muito utilizada na Campanha da Fraternidade de 2014: “Dizei aos cativos saí”.


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.