Quinto domingo da páscoa. Seguimos refletindo os textos do quarto Evangelho. Uma narrativa linda e pra lá de significativa da Comunidade Joanina. (Jo 15,1-8) Um diálogo franco e aberto de Jesus com os seus seguidores. Uma linguagem direta, pois Jesus sabe que serão eles que darão sequência à missão de anunciar e testemunhar a presença d’Ele, pelas estradas da vida, numa forma de construir o Reino de Deus. Esta é a perspectiva que também devemos nos colocar, se quisermos fazer o mesmo caminho trilhado por Jesus. Sermos ramos que produzam bons frutos.
Seguimos ainda com a temática do dia de ontem, celebrando, comemorando o dia dos trabalhadores e trabalhadoras, tendo em São José o patrono de nossa caminhada. Este era o santo da devoção da nossa saudosa tia Irene, afinal ela era uma das religiosas da Congregação das Irmãs de São José de Chambérry. Por falar em José, Pedro escreveu um belo hino em homenagem a este santo, cujo refrão assim se expressa: “Senhor São José, defende a comunidade, que o povo sempre unido, conquiste a liberdade”. Esta é uma das canções do nosso Cancioneiro da Prelazia de São Félix, com as “Cantigas da Caminhada”, que Pedro fazia questão.
Infelizmente, algumas das nossas comunidades, sequer esperaram que o corpo de Pedro esfriasse e já estão substituindo as canções do nosso Cancioneiro, pelas medíocres canções da Renovação Carismática, desprovidas de letras de uma espiritualidade libertadora, típicas de uma Igreja martirial, como Pedro gostava de frisar. Estas últimas, quase sempre recheadas de equívocos, quando não eclesiais, mas também teológicos. Afinal, quem canta: “Quero amar somente a ti, Senhor”, dificilmente encontrará tempo, para amar o irmão caído à beira do caminho, como nos propõe Jesus. (Lc 10,25-37).
“O fruto não cai longe da árvore”, diz um ditado muito comum aqui pelas bandas de Mato Grosso. Jesus hoje se propõe aos seus, como uma árvore (videira). Arvore esta, cujo cuidador (agricultor) é o próprio Deus. Como toda árvore possui os seus ramos, todos nós somos estes ramos ligados a Jesus. Por diversas vezes, Jesus repete o verbo “permanecer”. Ou seja, se quisermos dar os frutos de acordo com a arvore, precisamos permanecer unidos a Ele, para que os frutos produzidos por nós não caiam longe desta árvore.
Este é o desafio que nos é posto, enquanto seguidores e seguidoras de Jesus: fazer a experiência de caminhada em comunidade. Fazer a experiência de fé, não se trata de algo egoísta, em que vivamos voltados para nós mesmos. Ser parte desta videira que é Jesus faz com que caminhemos com aqueles e aquelas que também fazem parte desta árvore. Desta forma, a comunidade cristã não é uma mera instituição, mas a participação efetiva na vida de e com Jesus. Unidos a Ele, cada um de nós é chamado a testemunhá-lo, fazendo desta comunidade, um espaço de vivência do Reino em contínuo crescimento.
Deus nos ama apaixonadamente. Amor incondicional. Ele nos ama não porque somos perfeitos, mas simplesmente pela sua gratuidade em querer nos amar primeiro. Nos ama com amorosidade, nos diria Paulo Freire. Já o nosso amar a Deus pressupõe, intrinsecamente, o amor aos nossos irmãos e irmãs. Trata-se antes de tudo de uma via de mão dupla. Neste sentido, João, em uma de suas cartas, chama de “mentiroso” a quem trafega apenas num dos sentidos desta via: “Se alguém diz: Eu amo a Deus, e no entanto odeia o seu irmão, esse tal é mentiroso; pois quem não ama o seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê”. (1Jo 4,20). Ou seja, na compreensão deste texto, o critério para o discernimento, está no Projeto de Deus revelado por Jesus. Toda a sua prédica e prática Ele promovia a vida e a liberdade das pessoas. Os frutos que estiverem distantes desta realidade, não são os frutos da videira que é Jesus.
Somos os galhos da árvore e somos interpelados a produzir bons frutos. O fruto principal que a comunidade é chamada a produzir é o amor. Amor incondicional, absoluto. Como membros da árvore, fazemos adesão à proposta de Jesus. Todavia, Ele não quer uma adesão de servos que obedeçam a um senhor, mas uma adesão opcionalmente livre. Jesus é a árvore que dá a vida pelos seus. Esta é a experiência que somos desafiados a desenvolver em nós na comunidade. A missão da comunidade não nasce da obediência a uma lei, mas do dom livre que participa com alegria da tarefa comum, que é testemunhar o amor de Deus que quer dar vida.