A Campanha da discrepância

Segundo domingo (28) da quaresma. Fevereiro já vai dando o seu adeus. Vivemos mais um mês da pandemia. Já é o segundo fevereiro dela. As coisas se agravando mais e mais. Quando pensávamos que iríamos caminhando para o fim dela, nos enganamos. A travessia deste deserto em que estamos parece que não tem mais fim. Sentimos um aperto tão grande no coração, ao ver a morte cada vez mais próxima, rondando as famílias das pessoas que mais amamos. E a salvação que nos viria pela vacina, não chega, tampouco pessoas preocupadas em trazê-la até nós. Tristeza que não tem fim.

Aproveitei deste final de semana para fazer uma incursão pelas várias celebrações eucarísticas, disponíveis pelas mídias, para ver até que ponto a Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2021, iria fazer parte das reflexões homiléticas. Me decepcionei com a surpresa negativa, pois até mesmo na celebração da Catedral de São Félix do Araguaia, a referida campanha não passou por ali. Definitivamente, além de trazer a temática da campanha, teremos que também trabalhar na evangelização daqueles que fazem a campanha do contra. Além de refletir sobre as temáticas propostas, teremos que incluir os inconsequentes como objeto de nossa evangelização.

Ainda repercuto em mim os três verbos fundamentais que foram utilizados na Campanha da Fraternidade de 2020: “VER”, “SENTIR” e “CUIDAR”. “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10, 33-34) Numa alusão à parábola do “bom Samaritano”. Aquele que agiu através da prática do amor concreto, em que o próximo é aquele que se aproxima dele para dar-lhe uma resposta às suas necessidades. Neste sentido, a tarefa prática do amor não leva em conta nenhum tipo de barreira, seja de raça, gênero, religião, nação ou classe social. O próximo se torna aquele que encontramos necessitado no nosso caminho.

Exatamente é o que está sendo também proposto na atual campanha da fraternidade. Uma campanha que nos traz uma temática bastante atual, que clama aos nossos ouvidos. Inadmissível que em plena pandemia, cresceu enormemente os índices de feminicídio. O fato das mulheres terem que ficar cumprindo o distanciamento social dentro das suas próprias casas e os seus parceiros também, elas estão sofrendo toda forma de violência doméstica, de onde não se esperava que viesse. Como pode uma pessoa que se diz cristã, católica, ser contrária a este grito de dor delas? Como ser contrário à morte de pessoas trans, LDBTQI+, uma vez que o Brasil é um dos países que mais mata estas pessoas? Como ser contrário a homofobia, a transfobia e o feminicídio?

O exemplo clássico a ser seguido por nós é o de Jesus diante da mulher adultera. (Jo 8, 1-11) Jesus é o nosso modelo de conduta. O que mais chama a nossa atenção é que, mediante uma sociedade extremamente machista como aquela, eles trazem somente a mulher que foi surpreendida em adultério. O homem adúltero, que estava com ela, certamente estava ali na roda, pronto para apedrejá-la, já que era assim que a lei recomendava. E Jesus surpreende a todos e todas, mostrando-lhes que a pessoa humana está acima de qualquer lei. Ou seja, nenhuma daquelas pessoas podia julgar e condenar, porque nenhum deles está isento de cometer também os seus erros, o seu pecado. Ainda mais alem, pois o próprio Jesus se coloca como aquele que não veio para julgar, uma vez que o Pai não quer a morte do pecador, e sim que ele se converta e viva (Ez 18,23.32)

Portanto, somos todos e todas, inclusive os negacionistas da CFE, desafiados a fazer o enfrentamento das situações propostas pela Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2021. Esta chaga aberta de nossa sociedade, não pode passar despercebida dos cristãos e cristãs, que professam a sua fé neste mesmo Jesus de Nazaré, que veio não para nos julgar, mas para que pudéssemos ter vida em plenitude (Jo 10, 10. Seguindo nesta mesma lógica, estas pessoas das quais se refere a CFE, não estão tendo oportunidade de terem a sua vida na mesma plenitude da qual fala Jesus. Portanto, celebrar esta campanha é fazer também uso dos três verbos que foram utilizados na campanha passada: ver a realidade, sentir o mesmo sentimento que estas pessoas estão sentido e cuidar delas com o mesmo carinho que Jesus cuida. Simples assim

Esta, sem dúvida, vai ser uma das campanhas da fraternidade de maior repercussão e de maior interesse das pessoas. Tudo por causa das críticas infundadas daqueles cristãos de conveniência. Graças às suas críticas acirradas, várias pessoas que não conheciam o texto base da campanha, se interessaram em conhecê-lo mais a fundo. Eu mesmo já repassei à várias pessoas, este texto em PDF. Alguns daqueles a quem, enviei, acharam-no muito rico e estão utilizando-o a fim de esclarecer outras pessoas sobre a temática em curso.