Queremos aqui conversar sobre a importância extrema que a catequese tem, embora não só ela, neste novo cenário da evangelização, que tem na iniciação à vida cristã a sua inspiração primordial: “fazer da Igreja, uma casa da Iniciação à vida Cristã é um caminho necessário para a evangelização no contexto atual” (cf. Papa Francisco. Iniciação à vida cristã: itinerário para formar discípulos missionários). Doc. 107, n. 61 2017.
Um novo modelo de evangelização é necessário
“Em 2013, o Papa Francisco, fazendo eco ao Sínodo sobre a Nova Evangelização para a Transmissão da Fé Cristã, afirmou que nos encontramos em uma nova etapa da evangelização que deve ser marcada pela alegria e deve indicar rumos novos para a Igreja. Disse mais, é urgente a revisão de nosso processo de transmissão da fé” (Ibid, n. 1).
Depois de um início de história da Igreja assinalado pela conversão e pela busca pessoal para tornar-se cristão, passou-se à família a função de iniciar seus filhos na fé. A Igreja passou a atribuir aos pais e padrinhos a formação da fé e o aprendizado da vida cristã, conforme os compromissos batismais. Com o passar do tempo, a sociedade toda respirando ares cristãos e sociologicamente unida à Igreja, desempenhava de modo espontâneo a função do chamado catecumenato social que integrava todos num mesmo horizonte de compreensão e de sentido. Por fim, nos últimos tempos, influenciados secularmente pela era do catecismo à partir do Século 16, delega-se aos chamados “catequistas” a função de instruir e educar na fé, tarefa esta, não obstante toda boa vontade existente, muitas vezes insuficiente e de pouca eficácia para a formação do fiel adulto e maduro na fé cristã.
Em nossos dias, contudo, onde a família, juntamente com a Igreja e a escola, são instituições que já não dão conta de comunicar suas vivências e saberes para as novas gerações, haja vista, a concorrência “desleal” até, de tantos meios mais versáteis em termos de comunicação e que tanto influenciam e alimentam as pessoas com uma pluralidade de informações que de modo relativista são simplesmente colocados na rede, encontramo-nos numa encruzilhada onde novas opções precisam ser assumidas se queremos ser uma Igreja que ainda dê conta de sua missão.
“Cristão não se nasce, torna-se” (Tertuliano)
Hoje não é possível pensar em uma iniciação à vida cristã, realizada de modo espontâneo. A nova situação social e cultural apresenta perfis de forte secularização que determina, em muitos casos, o enfraquecimento e até o abandono da fé. Situação que leva muitos membros da igreja a ter consciência de diáspora a respeito do mundo e aos pastores a necessidade de impulsionar ação pastoral missionária, que mova os batizados à conversão e a adesão consciente e responsável a Deus.
Estamos diante de um quadro onde temos muitas pessoas sacramentalizadas e poucas evangelizadas, ou seja, os sacramentos continuam sendo recebidos, mas a expressão viva do que eles significam não é sentida no cotidiano da vida. E é exatamente aqui que um novo jeito de fazer catequese precisa ser vivenciado de modo urgente. A Igreja sente a necessidade urgente de revisar em profundidade o seu jeito de evangelizar.
Nossa prática catequética favorece o processo de iniciar na vida de Cristo?
Nossa catequese, precisa encaminhar-se com urgência para uma prática que se distancie do excesso de doutrinação, mas que conduza para uma vivência, um estilo ou um modo de ser. Precisamos responder: a minha prática catequética favorece o processo de incorporação a Cristo na Igreja para que alguém se torne concretamente cristão, outro Cristo? O que a comunidade eclesial precisa fazer para constituir o cristão e configurar a sua personalidade como tal?
“Iniciação à vida cristã! Ser iniciado na vida de Cristo, no modo de viver de Cristo. Conhecer e seguir seus passos…Um caminho de pertencimento…Conformar-se a Cristo, uma vida em conformidade com Ele…Uma vida toda para ser revestido de Cristo, até Ele se tornar tudo em todos…A vida cristã é um novo viver”…(Ibid. p. 11 e 12).
O desafio está lançado, e as oportunidades que se vislumbram são muitas. O que não podemos é permanecer imóveis e temerosos. Precisamos avançar para a outra margem como Jesus muitas vezes o fez. Vamos juntos fazer esse itinerário, assumindo a iniciação à vida cristã como compromisso de vida pessoal e eclesial.