A coragem de amar

Décimo Nono Domingo do Tempo Comum. Como estamos no mês de agosto, que a Igreja dedica às vocações, celebramos neste domingo (13), o “Dia dos Pais”. No mês vocacional, cada domingo é dedicado a uma destas quatro vocações específicas: sacerdotal, matrimonial, religiosa e leiga. No Brasil, o “Dia dos Pais” é comemorado sempre no segundo domingo de agosto. Uma data para reforçar os laços entre pais e filhos, lembrando da importância do papel paterno na vida familiar, que ocorre há mais de quatro mil anos. Reza a história que certo jovem Elmesu, na antiga Babilônia, durante os milênios II e I a.C., esculpiu em argila o que seria considerado o primeiro cartão de “Dia dos Pais”. Feliz “Dia dos Pais!”

Segundo dizem, dia 13 de agosto é também comemorado o “Dia Internacional do Canhoto”. É o meu dia, portanto! Perdi a conta de quantas vezes fui importunado no meu processo de alfabetização, quando a professora queria por todo custo, demover-me da ideia de escrever com a mão esquerda. Algumas reguadas doidas na cabeça, pois assim que ela virava de costas, lá estava eu com o lápis na “mão boa”. Eu era “contra Deus”, dizia ela. O meu lado direito é só complemento, como a mão que lava o rosto e o pé para “subir no ônibus”. A esquerda predomina em mim. Será por que?

O dia 13 de agosto nos traz presente também a memória de uma grande mulher brasileira: Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes (1914-1992), mais conhecida como Irmã Dulce. Irmã “Dulce dos Pobres”, o “anjo bom da Bahia”. Uma freira brasileira baiana, que foi canonizada no dia 13 de outubro de 2019, em cerimônia celebrada pelo Papa Francisco. A primeira santa genuinamente brasileira, já que os demais foram importados da Itália, Espanha ou Portugal. A irmã Dulce foi a primeira mulher brasileira a receber esta honraria. Dedicou a sua vida às causas dos pobres, destinatários primeiros do Projeto de Deus. Amou e se entregou confiante nestas palavras: “Só com amor, fé e dedicação é possível transformar a realidade em que vivemos”.

Como Jesus, Dulce amou incondicionalmente os pequenos. Deus é amor e misericórdia, sempre! Jesus veio nos ensinar o caminho que conduz ao amor de plenitude. Amou até o fim e até as últimas consequências. Não de um amor de sentimentalismo, mas amor serviço e entrega gratuita pelas causas do Reino. Enfrentando as estruturas do poder, da ganância e do egoísmo, Jesus teve a coragem de amar. A amorosidade de Deus personificou em si, fazendo nele morada da ternura, compaixão e misericórdia. Deus não se cansa de amar e nem descuida de todos aqueles e aquelas que criou, infundindo em seus corações o mesmo amor que o Filho veio nos trazer. O Filho é a Imagem do Pai, e o Pai se vê totalmente no Filho, ambos num eterno diálogo de mútua amorosidade, ternura e compaixão.

Na liturgia de hoje, seguimos refletindo e dando continuidade ao texto da comunidade de Mateus. Nele, Jesus despede as multidões e sobe ao monte para rezar. Ele que tinha uma profunda sintonia sinérgica com o Pai, ainda assim, reserva momentos para estar a sós com Deus e rezar, o que demonstra que também nós, precisamos encontrar tempo e espaço na nossa atribulada agenda diária, para dialogar com Deus em forma de oração. Falar com Deus, mas também escutar o que Ele diz ao nosso coração. Enxergar nos fatos da vida, Deus se manifestando na história. Depois de dialogar com o Pai, Jesus aproxima-se dos seus discípulos, andando sobre as águas, atemorizando-os. O medo dando lugar à coragem de amar.

Não é sem razão que Jesus repete várias vezes a frase: coragem! Quem se entrega ao amor não encontrará tempo para temer, pois o amor verdadeiro tomará conta de si. O medo inibe as ações e intimida os atos dos que fraquejam. A fé fortalecida ama com coragem e faz com que os que amam, saiam de si. A fé amadurecida faz a pessoa confiar em Deus. Quem inventou o amor, desde o Antigo Testamento, vem encorajando o seu povo para que não perca a coragem de amar sem limites e de lutar, como o Livro do Deuteronômio assim nos diz: “Sejam fortes e corajosos! Não tenham medo, nem fiquem apavorados diante deles, porque o Senhor seu Deus é quem vai com você. Ele não o deixará, e jamais o abandonará”. (Dt 31,6) Quem ama com coragem não temerá jamais as águas agitadas dos conflitos do mundo. A coragem não é ausência do medo, mas a persistência de quem ama, apesar do medo.

 


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.