A criança mais santa do mundo

Apontar o nome de uma criança, como a mais santa do mundo, soa como uma afirmação pretensiosa. Isso se deve a dois motivos. Primeiro, porque toda criança traz consigo a inocência e a falta de consciência sobre o bem e o mal. Em segundo lugar, porque para os genitores seus filhos são imaculados e os mais especiais do mundo.

De fato, a inocência infantil foi exaltada ao longo da história do cristianismo, de modo que o calendário da igreja conserva o dia 28 de dezembro como data dos Santos Inocentes; dia em que se faz recordação de todas as crianças de Belém e região, assassinadas por mando do rei Herodes, no intuito de ceifar a vida do Menino Jesus. Todos esses pequeninos que sofreram infanticídio tinham menos de dois anos, segundo o relato bíblico (Mt 2, 13-19). São crianças, das quais nada sabemos, a não ser que foram vítimas inocentes de um pérfido monarca, que as feriu com morte.

Não obstante a suspeita de pretensão mencionada alhures, sem ser prolixo, me atrevo a redigir a trajetória de uma criança, cuja lição de vida é capaz de encantar a alma mais sequiosa deste mundo, despertando as emoções mais profundas. Com efeito, entre alguns nomes infantis registrados na história, o nome de uma criança do século XX é digno da nossa atenção. Trata-se da pequena Antonieta Meo. E você vai acabar concordando comigo, que essa criatura angelical pode ser tida como uma das crianças mais santas do mundo.

Antonieta Meo nasceu na cidade italiana de Roma, em 1930, numa família abastada. Entre outros traços marcantes do seu comportamento pueril destaca-se: a extroversão, a amabilidade, a facilidade de comunicação e o espírito infantil de travessuras. Mas o que de fato mais chamou atenção na vida dessa gaiata foi sua intimidade com Jesus e a Virgem Maria. Esse amor ficou muito evidente durante a enfermidade que teve de enfrentar ainda muito cedo, como veremos.

Quando aquela fadinha feérica completava quatro aninhos, queixando-se de dores no joelho, os pais levaram-na até o médico, o qual lhes deu o diagnóstico de osteossarcoma (uma espécie de câncer que ataca os ossos, comumente atingindo crianças). Aquela notícia sinistra caiu como uma bomba no lar da pequenina garota, exigindo dos pais uma postura de fé e coragem para enfrentar as intempéries da vida.

A mãe da criatura tão amável passou a orientá-la para que diante da dor que começou a sentir diariamente, olhasse a paixão de Jesus e percebesse que o seu maior amigo também sofreu muito durante o calvário. E foi justamente esse o caminho adotado pela pequena Antonieta para suportar suas dores diárias e manter a alegria de viver.

Entretanto, a doença ia avançando gradativamente. Quando a menina tinha apenas seis anos, os pais tiveram que levá-la até o médico que dessa feita não tinha outra saída a não ser amputar uma das pernas. Rios de lágrimas inundavam o rosto do pai e da mãe. E como não inundar o rosto com lágrimas, se a luz que irradiava dos olhos daquela criatura celestial pouco a pouco parecia se apagar para este mundo?

Já alfabetizada e agora sem um das pernas, Antonieta adotou como entretenimento escrever diariamente cartinhas, cujos destinatários eram Jesus, Maria e alguns santos da devoção familiar. Essas ao anoitecer eram deixadas aos pés da imagem do Menino Jesus, pois a pequena julgava que durante a noite os destinatários celestes desciam do céu para lê-las. Carinhosamente chamava suas cartas de poesias, e sempre as concluía mandando beijos e abraços, tratando Jesus e a Virgem Maria como amigos íntimos. Entre outras coisas costumava escrever: “Meu amigo Jesus, venha brincar comigo…” “Querido Jesus, ajude a mamãe, eu te envio beijos carinhosos…“Meu amigo Jesus, cuide sempre de mim…” “Virgem Maria, cuide sempre minha mãe…” “Meu amigo Jesus, eu quero estar ao seu lado no calvário e te oferecer muitas florzinhas…”. 

Enquanto a doença definhava o seu corpo, Antonieta passava horas e horas do dia escrevendo suas cartinhas aos destinatários celestiais. E assim redigiu mais cem cartas, conservando dessa forma sua alegria infantil e a sua inocência, até o dia em que a morte a levou definitivamente, aos sete anos de idade.

Logo após sua partida para eternidade, as famosas cartinhas começaram a ser conhecidas na Itália, levando muita gente às lágrimas. E foi assim que algumas cartas acabaram indo parar nas mãos de Pio XI, o papa naquela época. Com isso a pequena garota ganhou notoriedade, e granjeou a fama de ser uma das crianças mais santas do mundo. Atualmente o seu processo de santificação está em andamento na Igreja.

Para Antonieta Meo aquelas cartinhas constituíam-se o seu mais singelo gesto de amor e de amizade com os destinatários celestiais, nos quais a sua inocência infantil encontrava força e sentido para os seus dias, apesar da sina cruel que enfrentava.

Diante do exposto comovente, cabe a nós a pergunta: qual é o gesto de amor diário que torna nossos dias mais significativos? Sussurrava o poeta, com voz plácida: “Não é tanto o amor que se busca no outro o que torna uma pessoa feliz, mas sim o amor que se oferece ao outro, através de pequenos gestos singelos”.

 


Padre Gilson José Dembinski, é graduado em Teologia, Filosofia. Especialista em Psicologia Pastoral, Teologia Bíblica e Ensino Religioso, Orientação Espiritual, Parapsicologia Clínica e Hipnoterapia. Formação profissionalizante: Introdução à mágica.