Sexta feira da Sexta Semana do Tempo Comum. Depois de 27 horas para percorrer 1.200 km de estrada, encontro-me na sede do Sindicato dos Profissionais da Educação (SINTEP/MT), para participar do Conselho de Representantes desta entidade nos dias 18 e 19. Cansado, mas feliz por estar aqui, dando a minha parcela de contribuição, sobretudo para o bom funcionamento das escolas indígenas nas aldeias.
Rezei as minhas humildes preces desta manhã, ainda dentro do ônibus, parado na entrada da Chapada dos Guimarães, em virtude do acidente com uma carreta que tombou a frente do nosso ônibus. Certamente um pai de família numa situação complicada. Quantos deles não deixam as suas famílias em polvorosa, sem saberem se retornarão sãos e salvos? Nossas estrelas são um horror.
Estou vivendo ainda a repercussão positiva do dia de ontem, com o que seria o aniversário de Pedro. Estaria ele comemorando os seus 95 anos de sua presença vivaz no meio de nós. Lembro-me de quando morreu o seu grande amigo Dom Tomás Balduíno, bispo emérito da cidade de Goiás, em 2014. Pedro assim comentou: “quando vejo alguém morrendo como Tomás, lembro que eu também estou na fila”.
É impressionante como o ser de Pedro ainda dita o ritmo da vida das pessoas mais velhas da Prelazia. Volta e meia e algumas destas, comentam que sentem ainda muito viva a presença dele na vida delas. Dia desses uma senhora me disse que o bispo Pedro sempre visitava a sua família, mesmo sendo ela evangélica. Pedro tinha a convicção de que 80% da pastoral se resumia a visitas às famílias mais pobres.
Pedro que carregava consigo a cruz do seguimento de Jesus. Esta era a sua cruz de cada dia, mesclada com a cruz dos empobrecidos. Ele entendeu e levou a sério o recado dado por Jesus, no texto da liturgia do dia de hoje: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga”.(Mc 8,34). Este é também o recado dirigido à todos aqueles e aquelas que querem seguir nas mesmas pegadas de Jesus. Ser um com Ele.
O texto de Marcos nos diz que Jesus está em Cesaréia de Filipe, uma cidade pagã, muito conhecida por adorar deuses gregos. Entretanto, foi lá que Jesus foi reconhecido como Messias. O Mestre está falando com a multidão e também ensinando os seus discípulos. A temática da vez é a cruz. Cruz do escândalo, mas a cruz do seguimento. Quem abraça a cruz precisa estar disposto a passar pela perseguição e a ser marginalizado por aqueles que arquitetam uma sociedade injusta.
Não existe cristianismo sem cruz. Se antes ela era imposta como castigo aos subversivos, em Jesus ela se faz Redentora com a sua Ressurreição. Ao ressuscitar o Filho, Deus dá a última palavra de que a morte foi vencida pela vida. Portanto, a vida triunfou sobre a morte. Com a sua Ressurreição, Jesus nos arrastou para si nos possibilitando vivenciar o mesmo processo seu.
Tomar a cruz de cada dia e seguir os passos de Jesus. Cruz da entrega e doação pelo serviço ao Reino. Cruz da coerência na fé. Cruz da não ganância do querer tem sempre mais. Cruz da luta contra o preconceito, a discriminação, o racismo. Cruz da Igreja que se faz peregrina nas causas dos que mais sofrem. Cruz do Evangelho do poder serviço de quem não abre mão de estar sempre na luta. Cruz de quem se faz amigo de Jesus, pois Ele assim o quer: “Eu vos chamo meus amigos, pois, vos dei a conhecer o que o Pai me revelou”. (Jo 15,15)
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.