Segunda feira da Trigésima Terceira Semana do Tempo Comum. Penúltima semana deste período litúrgico. Entramos na semana fazendo história. Hoje é um dia especial para a população brasileira. 20 de novembro é o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. Este dia foi instituído pela Lei 12.519 de 2011. Uma data que faz referência ao dia em que Zumbi teria sido capturado e morto em 1695. Zumbi foi o líder do Quilombo dos Palmares, o maior da história do Brasil. Ele é considerado como símbolo da luta e da resistência dos negros ao regime escravocrata e ao racismo. O Quilombo dos Palmares surgiu no final do século XVI, no território da capitania de Pernambuco (uma das 14 Capitanias Hereditárias), mais precisamente em uma região em que hoje está localizado o estado de Alagoas.
Se a História Oficial celebra o dia 13 de maio como o dia em que foi decretada a Lei Áurea, em 1888, determinando a “abolição da escravatura”, para o povo negro, o Dia da Consciência Negra é a data que faz maior sentido, já que traz a memória de seu líder maior, Zumbi. O Dia da Consciência Negra quer chamar a atenção da sociedade como um todo, para o racismo estrutural institucionalizado e propor a reflexão das suas consequências para a população negra. Neste dia também se busca o reconhecimento da influência e da presença da cultura de origem africana no Brasil.
Segundo o último senso realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 56,1% da população brasileira é autodeclarada pessoas pretas e pardas, o que corresponde a mais de 119 milhões de pessoas. Portanto, ter a consciência de que somos afrodescendentes, é lutar pela equidade e a igualdade de oportunidades no contexto institucional, considerando, entre outras, as identidades de raça, etnia e cor. Olhar para o passado e ver a história como suporte para o conhecimento de onde viemos para saber para onde iremos. Como nos dizia o filósofo e escritor italiano Cícero: “A história é testemunha do passado, luz da verdade, vida da memória, mestra da vida, anunciadora dos tempos antigos”. Olhar a história pelo retrovisor é construir o presente, superando os erros do passado.
Iniciei a minha semana visitando o “campo santo”, como se costuma chamá-lo por aqui. Fui rezar e beber, me inspirando na sabedoria, simplicidade e austeridade deste nosso eterno pastor, Pedro. A energia que emana daquele lugar sagrado é algo que nos encanta. Força ancestral. Pedro me fez ver a vida sob outro prisma, determinando todo o meu jeito de ser e viver pelas causas maiores. Dentre elas, a causa indígena. Ele fez-me ver muito além do simples enxergar. Filosoficamente passei a enxergar como pensa a filosofia que estabelece a diferença entre ver e enxergar como questão de conhecimento e consciência. As pessoas podem enxergar tudo, mas a capacidade de ver está reservada às pessoas que têm consciência do que desejam ver (consciência).
Ver, mais do que enxergar, como desejou aquele pobre homem, sentado à beira do caminho, sentindo Jesus que passava. Passando por Jericó, Jesus estava a caminho de Jerusalém Na época, a cidade de Jericó era uma importante cidade da região da Palestina, no Oriente Médio. Era considerada uma cidade estratégica por causa da sua localização, próxima do Rio Jordão e do Mar Morto, e era um importante centro comercial e religioso. Um mendicante, com deficiência visual, pede que Jesus o cure: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim! (…) eu quero enxergar de novo” (Lc 18,38.41). Ao ser curado por Jesus, o texto de Lucas diz que aquele homem imediatamente passou a seguir Jesus. Enxergou com consciência.
O texto do Evangelho de hoje nos ensina que a cura do cego simboliza a fé, que é a visão do compromisso com Jesus. De olhos abertos para nova maneira de ver e agir, aquele pobre homem segue os passos de Jesus, que vai dar a vida plena, na mais absoluta gratuidade e amorosidade. Importante salientar que os discípulos de Jesus tentam fazer aquele homem calar-se e não importunar Jesus. Como alguns padres, bispos e lideranças de nossas comunidades de hoje, não entenderam ainda que Jesus se encarnou em nossa realidade histórica humana como “enviado, senão às ovelhas perdidas da casa de Israel”. (Mt 10,6) Como aos discípulos, enxergam a realidade mas não a veem, demostrando assim o seu descompromisso com as causas dos pobres e, consequentemente com o Reino e com Jesus. Concluí a minha oração, lembrando que Pedro viu, sentiu e viveu na opção pelos pobres contra a pobreza e em favor da vida e da liberdade. Que o nosso compromisso com Jesus nos ajude a ver, mais do que enxergar a realidade dos mais pobres, que clamam por justiça e vida digna.
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.