A fé da mudança radical

Segunda feira da Segunda Semana do Tempo Comum. A segunda quinzena apontou à nossa frente. Cada manhã é um novo dia que temos a oportunidade de recomeçar. A nova semana também nos traz esta perspectiva. Deus sempre acreditando de que vamos dar o melhor de nós para que a vida seja leve. O mundo precisa de pessoas que estejam dispostas a reconstruí-lo. Fomos projetados por Deus para alcançar a nossa plenitude e o seu sonho é que a alcancemos. Amando, servindo, resistindo e lutando, na linha do pensamento de Abraham Lincoln, que dizia: “A melhor coisa do futuro é que ele chega à razão de um dia de cada vez”.

A semana começando, e eu ainda aqui, em Barra do Garças, visitando as famílias amigas. Estar com os amigos é uma dádiva de Deus. Amizade não tem preço! Os amigos que fui colecionando ao longo do tempo, fazem a diferença na minha história. Sem eles, eu jamais seria quem sou e como sou. Sou partidário do pensamento do filósofo Aristóteles que, ao ser perguntado respondia: “O que é um amigo? Uma única alma habitando dois corpos”. Reencontrar cada um deles e delas, sinto um reflorestar de minha alma. O coração rejubila em festa. Na presença deles sinto a presença amorosa de Deus, e não há como duvidar de que Ele está no aqui e agora de nossa história.

Deus que se faz presença viva na pessoa de seu Filho Jesus. Esta revelação de Deus perpassa o belo texto que João nos traz no início de seu evangelho: “No começo a Palavra já existia: a Palavra estava voltada para Deus, e a Palavra era Deus. No começo ela estava voltada para Deus. Tudo foi feito por meio dela, e, de tudo o que existe, nada foi feito sem ela”. (Jo 1,1-3) Deus mesmo se faz presente em seu Filho. Transcendência e imanência se fundindo em nossa existência. A divindade, se fazendo humanidade, nos dando a oportunidade de alcançar o ser divino de Deus na pessoa de seu Filho: “Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo o meu agrado. Escutai-o!”. (Mt 17,5)

Como estamos no Ano Litúrgico B, retomamos a leitura do Evangelho de Marcos, como é de praxe acontecer. No dia de hoje, ele nos traz a temática do fazer ou não o jejum, conforme prescrevia a Lei. Incomodados com os discípulos de Jesus, que não estavam cumprindo a Lei, ao não jejuarem, fariseus e seguidores de João Batista, questionaram Jesus por causa desta falha de seus discípulos.

Lembrando que, segundo a concepção do Antigo Testamento, o jejum caracterizava o tempo de espera daquele que viria. Deus está cumprindo a promessa que havia feito aos antepassados. Mas esse tempo de espera já terminou. Jesus já chegou! Chegou a hora da festa do casamento, isto é, da nova e alegre relação entre Deus e a humanidade. Ele já está no meio de nós!

Aceitar esta nova realidade requer que passemos por uma mudança radical de vida, que os gregos se referem à “metanoein”, originando a palavra metanoia, que quer dizer, mudar o próprio pensamento, a mentalidade, o intelecto. Ter uma fé de mudança radical, das atitudes, do modo de ser e pensar, tendo como foco principal a ação de Deus em nós, através da pessoa de Jesus. Procurar a Deus é praticar o direito e a justiça, por uma sociedade justa, fraterna e igualitária.

Não basta jejuar por jejuar. Jejuar não é apenas deixar de comer algo, mas assumir uma atitude radical de viver a fé, comprometida com a proposta de Jesus. Neste sentido, o profeta Isaías nos faz entender qual o jejum que agrada a Deus: “O jejum que me agrada é que vocês repartam a sua comida com os famintos, que recebam em casa os pobres que estão desabrigados, que deem roupas aos que não têm e que nunca deixem de socorrer os que passam necessidades”. (Is 58,7) Fé de mudança radical. Jesus não veio para reformar; ele exige mudança radical.

 


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.