A fé diminuta

Sábado da Terceira Semana do Tempo Comum. Um sábado que vem trazendo para nós o último final de semana deste primeiro mês do ano. Felizmente, as chuvas que não caíram meses atrás, vieram agora em profusão, aqui na nossa região. Devagar, os muitos lagos que formam a bacia do Araguaia, vão recuperando a sua formosura. Como Deus é bom, apesar de todas as tragédias e maldades que o bicho homem promove contra a natureza. “É triste pensar que a natureza fala e que o gênero humano não a ouve”, afirmava o romancista, poeta e dramaturgo francês Victor Hugo (1802-1885)

Um sábado que não podemos perder de vista em relação à história. A data de 27 de janeiro é lembrada como o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. Este dia foi implementado através da Resolução 60/7 da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), a primeiro de novembro de 2005. Holocausto é conhecido como um dos piores massacres de toda a história da humanidade. Este foi o termo utilizado para descrever a tentativa de extermínio dos judeus na Europa nazista. O propósito deste dia é que a humanidade não se esqueça do genocídio em massa de pelo menos seis milhões de judeus pelos Nazistas. Um dos maiores crimes já cometidos contra a humanidade.

A esperança é a força que move as ações de quem acredita em Deus e tem Jesus como o seu Mestre-guia. Movido por este espírito, rezei nesta manhã na companhia dos poucos irmãos da Mãe Natureza, que atreveram enfrentar a chuva miúda, que caia acordando o dia, respingando nas folhagens de meu quintal. Como estamos todos interligados, um não existe sem o outro, e cada um é importante, segundo o plano de Deus para a criação. Como diz o Papa Francisco na sua CARTA ENCÍCLICA LAUDATO SI: “Quando o coração está verdadeiramente aberto a uma comunhão universal, nada e ninguém fica excluído desta fraternidade”. (LS 92)

“Penso que a fé é a extensão do espírito. É a chave que abre a porta do impossível”, dizia o cineasta inglês Charles Chaplin (1889-1977). A fé é o componente principal na vida daqueles que acreditam em algo. Fé que no dia de hoje está sendo questionada por Jesus, diante de seus discípulos, demonstrando a sua fé diminuta. Mesmo estando e convivendo com Ele, os discípulos manifestam medo e insegurança diante das ondas revoltas do mar: “Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?” (Mc 4,38) Sentem-se como se Jesus os houvesse abandonado, e dormia o seu sono tranquilo, ao fundo da embarcação.

É importante salientar que Jesus havia atravessado com os seus discípulos para a terra dos pagãos. Ele que vai aonde o povo sofrido está. “O povo que vivia nas trevas viu uma grande luz, e para os que viviam na região escura da morte brilhou uma luz”. (Mt 4,16) Jesus exercendo sua atividade messiânica na Galileia, região distante do centro econômico, político e religioso de seu país. A esperança da salvação se inicia justamente numa região da qual nada se espera. Os discípulos passando pelo primeiro teste e sucumbindo por causa de sua fé sem ser fundamentada na esperança e na certeza da presença d’Ele ali com eles.

Segundo a análise teológica dos exegetas, o mar agitado representa as nações pagãs que ameaçam destruir a comunidade cristã. Entretanto, a luz da fé de Jesus não conhece barreiras ou fronteiras. Sua presença revela que o Reino de Deus está sempre próximo a quem se abre em amorosidade, generosamente a Ele. Essa proximidade coloca-nos diante de uma exigência amorosa constante: a conversão. Converter é sempre o primeiro passo de um grande chamado. O Senhor não só ilumina as nossas trevas, mas chama-nos para o serviço do Reino no mundo. O chamado de Deus sempre comporta uma decisão e uma partida. Devemos deixar nossas seguranças e apoios e, na Palavra d’Ele, apoiar-nos para construirmos um novo tempo em nossas vidas. Jesus é o Senhor da história e das nossas vidas. O medo dos discípulos, e também os nossos medos, são sinais da nossa falta de fé, ou uma fé diminuta. Como eles, nós também não conseguimos ver que a ação de Jesus transforma as situações. Com Ele estamos seguros. Você também possui uma fé diminuta e se deixa vencer pelas inseguranças e pelos medos? Como diria Sêneca: “A coragem conduz às estrelas, e o medo à morte”.


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.