A fé que cura

Quinta feira da Oitava Semana do Tempo Comum. O mês de maio se foi e já estamos dando os primeiros passos dentro do mês de junho. Se o mês anterior é importante por ser dedicado à Mãe de Jesus, junho não fica atrás. Um mês especial para a Igreja, que dedica o mês de junho ao Sagrado Coração de Jesus. Sem nos esquecermos que no dia 08 próximo, estaremos celebrando a Festa de Corpus Christi, em que fazemos a memória do “corpo de Cristo”, que na Quinta Feira Santa, véspera da morte de Jesus, quando ceou com os seus discípulos, e ao partir o pão e partilhar o vinho, disse: “Tomai e comei, isto é o meu corpo. Tomai e bebei, isto é o meu sangue.”

Primeiro de junho. Neste dia a Igreja nos traz a memória de São Justino. Justino nasceu em Siquém, na Palestina. De origem pagã, não conheceu pessoalmente Jesus. Apesar de ter adentrado pelo campo da filosofia, sobretudo de um conhecimento mais aprofundado de Platão, Justino dedicou-se à sua fé, sendo um seguidor fiel de Jesus de Nazaré. Tornou-se um grande filosofo e sacerdote cristão, aproveitando-se dos conhecimentos filosóficos de Aristóteles, Sócrates, Heráclito, para defender as ideias do cristianismo. Foi martirizado no ano de 165 aos 65 anos, por causa de seu seguimento às ideias de Jesus.

As manhãs têm sido mais frescas aqui pelas bandas do Araguaia. Uma brisa suave sopra nas manhãs, como reflexo das madrugadas mais frias. Inesperado e imprevisivelmente, choveu na manhã do dia de ontem. Nestes dias, o sol não tem sido tão impositivo como de costume. Aproveitei para rezar nesta manhã na calmaria de meu quintal, trazendo presente na memória as pessoas amigas que estão distantes. Recorri a uma frase dita por São Justino, direcionando as minhas preces: “Cativar o amor das pessoas ainda é a melhor forma de mantê-las verdadeiramente por perto ainda que estejam longe”.

Rezei meditando o belo texto que a liturgia desta quinta feira nos proporciona refletir: (Mc 10,46-52). No texto, Marcos situa Jesus saindo de Jericó, uma pequena cidade localizada na Palestina, às margens do Rio Jordão e a menos de 30 km de distância de Jerusalém. Jesus está a caminho de Jerusalém com os seus discípulos, onde ali ocorrerá o desfecho final de sua vida pública. Eis que a beira da estrada está um pobre homem, clamando pela cura de sua cegueira: “Quando ouviu dizer que Jesus, o Nazareno, estava passando, começou a gritar: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!”. (Mc 10,47)

A situação daquele homem desesperado, pedindo ajuda, incomoda os discípulos de Jesus que o tentam fazer calar, pois estava “atrapalhando” a trajetória do Mestre. Ou seja, não entenderam nada daquilo que Jesus lhes havia ensinado: não é fugindo das pessoas e dos problemas que se lhes resolvem. Os discípulos agindo de forma indiferente e cômoda, assumindo uma atitude desprovida de compromisso com as causas dos pequenos. Sendo que foi por eles e para eles que Jesus veio se fazer presente no meio de nós.

Jesus vai ao encontro daquele homem. Jesus que vem ao encontro de todos aqueles e aquelas que necessitam de sua presença e de seus cuidados. A insistência daquele pobre cego o fez entrar em sintonia com Jesus. Isto nos mostra que a insistência e a persistência nas nossas orações, nos nossos pedidos, chega aos ouvidos de nosso Deus. Um Deus que desde sempre ouve o clamor de seu povo: “Eu vi muito bem a miséria do meu povo que está no Egito. Ouvi o seu clamor contra seus opressores, e conheço os seus sofrimentos”. (Ex 3,7)

Marcos que narra para nós o último (sinal) milagre de Jesus. Uma cura que tem uma perspectiva pedagógica por parte de Jesus. Ao devolver a visão àquele homem, Ele não somente abre os olhos do cego, mas também o coração. Ao ser curado e de coração aberto, o cego reconhece Jesus como o Messias (filho de Davi). Reconhece e se faz seguidor de Jesus pelo caminho. O cego Bartimeu se transforma no modelo do discipulado de Jesus. Alguém que acreditou, insistiu e persistiu, fazendo de sua vida uma entrega confiante no seguimento de Jesus. Que as nossas cegueiras também sejam curadas, para que assim, possamos abrir o nosso coração para enxergar a realidade que está a nossa volta e fazermos o seguimento de Jesus, dedicando as nossas vidas às causas dos mais necessitados.


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.