Quinta feira da Décima Quarta Semana do Tempo Comum. O frio pelas bandas de cá é muito diferente do clima que reina no nosso caloroso Araguaia. Como lá, o sol se faz absoluto, os ares são outros. Estou penando nestes dias que aqui estou no Sudeste. O vento gelado que sopra sobre Campinas, arrepia até as esquinas da alma.
Dormi o sono dos justos nesta noite fria, acalentado pelo cobertor aconchegante. Impossível não pensar naqueles e naquelas que têm a rua como sua casa, sua moradia. Dói só de pensar que algumas das pessoas destas cidades, os vêem como marginais, que tornam feias as ruas da cidade. “Pessoas de bem”, que dizem trazer dentro de si um certo “deus”, mas que não sabem acolher e cuidar do Deus verdadeiro, que se faz presente naqueles corpos sofridos, nos fazendo lembrar da dica de Jesus em Mateus: “tudo o que fizerdes ao menor dos pequeninos, foi a mim que o fizestes”. (MT 25.40)
“O Reino de Deus está no meio de vós”. Incontáveis foram as vezes em que Jesus fez esta afirmativa aos seus discípulos, muito embora eles demorassem para entender. Proximidade não apenas como temporalidade, mas como algo que se faz presente no âmago daqueles que amam e se dão em gratuidade de amorosidade. Reino de Deus que é a verdade de Deus, traduzida em justiça, paz, fraternidade, solidariedade, igualdade, ternura e compaixão.
“Convertei-vos e crede no Evangelho, pois, o Reino de Deus está chegando!” (Mc 1,15) Esse é o alerta de Jesus feito aos seus discípulos e também a cada um de nós. Aceitar adentrar e caminhar por este caminho é deixar-se invadir pela gratuidade de quem é capaz de dar-se por inteiro, como dádiva pelo Reino: “De graça recebestes, de graça deveis dar!” (Mt 10,8) Aquilo que recebemos não é para nós, como posse egoísta, mas que deve ser compartilhado entre todos. Gratuidade que se faz na gratuidade pelo Reino.
Tudo pelo Reino! Gratuidade na entrega total pelas causas do Reino, como traduziu assim o nosso bispo Pedro em um de seus poemas: “Não ter nada. Não levar nada. Não poder nada. Não pedir nada. E, de passagem, não matar nada; não calar nada. Somente o Evangelho, como uma faca afiada.”
O Reino sendo gerido e compartilhado na história. Fazer o seguimento de Jesus é ser instrumento de transformação nas mãos de Deus. Levar apenas o essencial em nós que é ser um com e como Jesus que se deu por inteiro à nós. Fazer o Reino acontecer com o nosso jeito de ser com Ele. Uma missão a ser realizada na gratuidade como dom, pobreza e confiança total n’Ele. Encontrar o Bem Viver na paz, como realização plena do humano que há em nós. Libertar-nos de todas as amarras que impede o Reino acontecer, inclusive daqueles desejos mais ocultos que nos aprisionam em nós mesmos. “Buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.” (Mt 6,33)
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.