Quarta feira da décima semana do tempo comum. Assim vamos adentrando o mês de junho, superando os desafios que a vida nos coloca. Um passo dado de cada vez, vivendo o momento presente, mas com um olhar no amanhã vindouro. O horizonte que se abre à nossa frente nos convida a posicionar diante dos obstáculos que vão sendo colocados. Superá-los é a nossa meta, caminhando de mãos dadas com todos aqueles e aquelas que seguem na mesma direção. O futuro é uma incógnita que nos virá de acordo com as sementes que fomos capazes de semear no hoje de nossa história. “Amanhã vai ser outro dia”.
Acordei muito cedo na manhã deste dia. O silencio de Deus se fazendo presente na sua obra criada. Como diz o padre Zezinho: “silêncio está cantando, uma canção de amor e paz”. A natureza toda contemplando a vida em Deus. A penumbra da noite que chegava ao fim, prenunciando o alvorecer de um novo dia. Deus sempre se fazendo presente no romper da aurora. Olhar para este descortinar e não senti-lo, mostra a nossa indiferença perante Aquele que nos renova a cada amanhecer. A vida pedindo passagem perante a mecanicidade daqueles que insistem em não perceber a ação de Deus em nós, que sempre acredita no potencial que cada um traz em si, em função de uma vida melhor para todos. https://www.youtube.com/watch?v=ajO9xqvOwAw
O dia 8 de junho é dedicado aos Oceanos. Um dia para ser lembrado da importância deles para o equilíbrio da vida no planeta Terra. Os Oceanos se constituem em dois terços (2/3) da superfície terrestre, cuja função principal é a regulação térmica do planeta. Apesar da sua importância vital para nós, este é um dia que nos provoca uma profunda reflexão acerca dos malefícios que a humanidade inteira faz, agredindo cruelmente a vida dos oceanos. Por incrível que possa parecer, os Oceanos são para nós uma grande depósito de lixo. A nossa loucura é tamanha que levamos a morte para aquele que nos traz vida. Como dizem os indígenas, “vocês sujam a água que vão beber depois”. Tem razão o nosso grande escritor Machado de Assis (1839-1908): “A loucura é uma ilha perdida no oceano da razão”.
Hoje é também o dia em que somos provocados a refletir sobre a função da lei em nossas vidas. Ela existe para dar consistência a nossa existência em sociedade. Regula a nossa vida, para que o nosso ser neste mundo seja compreendido como pessoas de direitos e deveres perante o todo da sociedade. Para tanto, não basta apenas uma lei escrita. Ela precisa ser regulamentada. Um exemplo disto é aquilo que está prescrito no Artigo 5º da CF de 1988: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade…”. Nossa Lei Maior diz desta forma, mas a prática cotidiana nos mostra que há alguns dentre nós que “são mais iguais que os demais”.
Liturgicamente seguimos refletindo com o Evangelho de Mateus. Nele, Jesus faz uma ponderação acerca da Lei e os Profetas. Evidentemente que Jesus está se referindo à Torá. Palavra de origem hebraica “tohráh”, podendo ser traduzida como “instrução”, “ensinamentos” ou “lei”. Quando nos referimos à Torá, estamos fazendo alusão ao “Pentateuco”, ou seja, aos cinco primeiros livros da Bíblia, quais sejam: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. É bom lembrarmos que a Torá foi escrita por Moisés, por isso é também chamada de “livro da Lei de Moisés”. Jesus vem dar corporeidade a esta Lei, sendo partidário dos pobres e marginalizados.
No contexto do evangelista Mateus no Evangelho de hoje, Jesus está dizendo para os seus ouvintes que Ele “não veio para abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento”. (Mt 5,17) Ou seja, Jesus está afirmando que a Lei tem a sua validade enquanto diretriz para a ação humana, mas que precisa ser atualizada para a realidade em que estamos hoje. Na compreensão de Jesus, a Lei não deve ser observada simplesmente por ser Lei, mas por aquilo que ela realiza de justiça. Talvez por este motivo, Ele traz presente à figura dos profetas, que primam pelo cumprimento da justiça. Desta forma, a Lei não pode ser dissociada do amor, da justiça, da misericórdia, da compaixão, da solidariedade, das relações de fraternidade.
Ser “discípulo da Lei” com Jesus é ser partidário da justiça. É ser defensor da vida para todos. É ser instrumento de transformação da realidade em favor dos pequenos. É fazer-se presente nas lutas da história, incorporando o profetismo do sangue dos mártires da caminhada. É ter uma espiritualidade que provoca à ação libertadora, na superação de uma fé alienante e desencarnada da realidade. É ser Igreja viva na luta com e para os pobres, indo até onde eles se encontram. Mais do que cumpridores de preceitos morais e religiosos, somos chamados a sermos instrumentos da justiça que há na Lei em favor da vida plena para todos. Como bem nos alerta o Livro de provérbios: “Os que abandonam a Lei elogiam o injusto; os que observam a Lei rompem com ele”. (Pr 28,4) A Lei é o amor e a justiça na liberdade de ser vida.
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.