Vivemos um período de agonia e de profunda escuridão. Não sabemos ainda do dia de amanhã. Parece que vivemos numa noite sem fim, onde as incertezas fazem parte do nosso cotidiano. Por mais que possamos acreditar em algo novo, a realidade está a nos dizer que precisamos esperar mais um pouco para ver acontecer o dia de amanhã. É como me disse esta semana, um professor indígena, numa de nossas conversas pelo whatsapp: “Chicão, parece que a noite não quer amanhecer.”
Em meio a esta escuridão, a liturgia no texto do evangelho de hoje, vemos Jesus se apresentando como a luz do mundo. No capitulo oitavo do evangelista João, Jesus já sinalizava esta possibilidade: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas possuirá a luz da vida.” (Jo 8, 12). ELE não só se propõe como a LUZ, mas assegura-nos de que, quem o segue, não andará nas TREVAS. Um texto que nos serve de conforto nesta hora de agonia pela qual passamos.
A ESCURIDÃO na vida de uma pessoa é algo muito trágico. Dada a complexidade que é o ser humano, nem sempre conseguimos mensurar o grau de escuridão que cada um de nós está vivendo. Neste contexto atual então, nem se fala. É como se vivêssemos um exílio prolongado, longe da luz. A NOITE ESCURA está presente no nosso horizonte possível, impedindo-nos de vislumbrar o sol que desponta.
ELE é a luz do MUNDO. O segundo passo desta sua exortação, é a de que, quem o segue, não andará nas trevas. Todavia, este seguimento DELE, não nos parece algo fácil de concretizar no nosso cotidiano. Na minha humilde compreensão, acredito que NÃO BASTA TER FÉ EM JESUS. Muitos de nós afirmamos, sem titubear, que acreditamos NELE. O desafio maior a meu ver, é TER A MESMA FÉ DE JESUS. E ter a mesma fé de Jesus, é se portar no dia a dia, tendo as mesmas atitudes que ele teria, se estivesse no nosso lugar. Portanto, devo responder a pergunta que intimamente eu me faço: Se fosse Jesus, o que ele faria SE ESTIVESSE AQUI NO MEU LUGAR?
Dia desses, estava eu numa agência bancária, na fila para ser atendido. De repente acende a luz do painel, chamando o próximo da fila. Um rapaz, forte e bonito, levantou-se e dirigiu ao caixa, para ser atendido. Todos percebemos que a sua senha era a de uma pessoa prioritária. Ao que o bancário lhe disse: você retirou a senha errada. Automaticamente, o rapaz retrucou dizendo que não era função dele, bancário fiscalizar sobre senhas. Você tem razão, mas quando as pessoas não se fiscalizam, ele precisava fazer aquilo ali, concluiu o bancário. Evidentemente que o rapaz voltou muito bravo para retirar outra senha apropriada.
SER e TER a luz de Jesus é isso. Fazer as coisas agindo de maneira correta, mesmo que o outro não me esteja vendo. Agir de acordo com uma CONSCIÊNCIA RETA. Quem assim age, nem precisa que o outro o corrija, mas a sua própria consciência lhe apontará o caminho certo a ser seguido. Antes de ser LUZ PARA OS OUTROS, eu preciso ser luz para eu mesmo. Esta luz interior que irradia de forma esplendorosa, atingindo a todos os que me rodeiam. Como estamos carentes de luzes assim!
Conheci o padre Alfredinho, quando estudava teologia em São Paulo (1985-1988). Alfredinho, nasceu em 1920, na Suíça. Trabalhava na capela de Nossa Senhora Aparecida, no interior da favela Lamartine, entre as Vilas Guaraciaba e Luzita, em Santo André. Um homem de Deus! Dele saía uma luz própria, que a gente percebia que era a própria luz de Jesus que irradiava para todos nós. Apesar de ter sofrido os horrores da guerra, num campo de concentração, vivia a sua vida numa fidelidade às causas de Jesus. Espelhei-me muito nele para seguir os passos da vida religiosa, pois aquele homem encarnou em si a proposta de Jesus de ser também luz para o mundo.
Que nestes tempos sombrios, em que nos falta a luz para clarear os nosso horizontes, busquemos a luz que vem do NAZARENO e, com ele não andemos nas trevas, sejam elas de ausência de luz ou nas trevas do ódio e da indiferença que cega e mata. Que a Sarça Ardente, vista por Moisés no Monte Horebe, nunca deixe de QUEIMAR dentro de nós, e que sejamos portadores de luz, sobretudo para os que mais precisam entre nós. Que não sigamos outras luzes, que tornam ainda mais obscuros o nosso existir.
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