A máscara da indiferença

Caminhamos para mais um final de semana. Nosso horizonte ainda aparece obscuro e sem perspectiva. A tristeza e a melancolia ainda continuam sendo hospedes em nossas vidas. O Povo Iny (Karajá) segue sendo castigado pela pandemia. Está vivendo o epicentro. Muitos infectados nas aldeias. Esta noite, mais uma grande liderança, foi ao encontro dos seus ancestrais. Hawakati não resistiu. Só da mesma família já foram três: Kuaxiru, Issarire e agora por último Hawakati. Tristeza não tem fim! Os Aruanãs estão de luto mais uma vez. Não cantam e nem dançam.

Apesar do sofrimento deste povo, a política de atendimento à saúde dos povos indígenas, segue na mesma toada, como se nada estivesse acontecendo. É muito descaso e indiferença para com este povo que já sofreu tanto, ao longo de sua luta de resistência e resilência para sobreviver. Um povo guerreiro, que não se entrega, mas vai à luta, mesmo com todas as condições adversas. O povo Iny é exemplo vivo disso. Já são mais de quatro séculos de muita luta para defender o seu povo, sua cultura e seu território. Seus valores e saberes ancestrais milenares.

A máscara já faz parte do nosso cotidiano. No atual contexto, ela nos protege da infecção. Se bem que alguns do meio de nós já a usa faz algum tempo. Escondem-se atrás dela, e assim o fazem para não revelar quem são de fato. Fazem questão de nunca a retirar. Ela já faz parte de suas personalidades, seu caráter. A máscara da indiferença se tornou o adereço principal da vida de alguns destes. Não se importa que centenas de milhares de pessoas, estejam padecendo e pagando com as suas próprias vidas, sacrificadas no altar da indiferença e do descaso.

A indiferença está presente em nossas vidas. Omissão e indiferença são os dois maiores pecados que podemos estar cometendo nos nossos dias de hoje. Sem falar naqueles que ainda se gabam de dizer que não fazem mal a ninguém. É preciso saber se junto com este mal que não fazem, há o bem que poderia e deveria ser feito. Alguns até falam que precisamos exercer a caridade. Confesso que perdi a simpatia por esta palavra, que a meu ver, está mais do que desgastada. No seu lugar, penso que cabe mais a palavra solidariedade. Sim porque ser solidário é se colocar no lugar do outro e sentir a sua dor a partir deste lugar que ele se encontra, enquanto que a pseudo caridade, funciona mais como um desencargo de consciência. Neste sentido, acaba dando ao outro o que sobra, que nem sempre é aquilo que o outro mais está necessitando.

De incerteza em incerteza vamos construindo o nosso dia a dia. Ainda não conseguimos avistar o amanhã. Ele se coloca distante dos nossos olhares. Entretanto, dentro de nós há a força interior, infinitamente superior, que nos move em direção às nossas utopias. Sonhamos com o dia em que tudo isso não terá passado de um terrível pesadelo. Uma nova vida se apresenta no horizonte de nossos sonhos. Lá não haverá mais a angustia da morte a nos rondar. Ali, não teremos governos opressores, mancomunados com a morte. A verdade será nossa anfitriã, parceira de todas as horas. Como está descrito no sonho do profeta Isaías: “O lobo e o cordeiro juntos se apascentarão, o leão comerá palha como o boi; e o pó será a comida da serpente. Não farão mal nem dano algum em todo o meu santo monte, diz o Senhor.” (Is 65, 25)

Neste novo lugar, todas as máscaras cairão por terra, pois cada um haverá de ser aquilo que realmente sempre foi. A maldade, a falsidade e a indiferença não terão o espaço garantido neste novo amanhecer. Estaremos frente a frente com os nossos irmãos e irmãs. Aqueles que, por ventura, quiserem permanecer da mesma forma de antes, sem querer passar por estas mudanças profundas, serão banidos desta nova terra. Também os arquitetos da desilusão, terão o seu fim, pois não terão mais a última palavra. Que venha o teu Reino, Senhor! E que a tua palavra dada seja a confirmação de nossas certezas: “Eis que eu estarei com vocês todos os dias, até o fim dos tempos.” (Mt 28, 20)