A missão de Jesus e da Igreja é salvar a pessoa na sua totalidade

Reflexão litúrgica: Terça-feira, 12/09/2023
23ª Semana do Tempo Comum

 Na Liturgia desta terça-feira da XXIII Semana do Tempo Comum, vemos, na 1a Leitura (Cl 2,6-15), que assim como a árvore depende da raiz e a casa depende do alicerce, os cristãos dependem da fé em Cristo, transmitida pelo anúncio do Evangelho. O cristão deve estar vigilante para não ser influenciado por ideias que não sirvam para conhecer e viver com mais profundidade a pessoa de Cristo.

O Apóstolo Paulo afirma: se Cristo é a Plenitude de Deus, nele se encontra tudo o que é preciso para nos relacionarmos com Deus. Cristo está acima de qualquer poder visível ou invisível. O batismo, que substituiu a circuncisão, leva o cristão a participar da morte e ressurreição de Cristo, isto é, a passar da morte para vida em Cristo. Por meio da morte de Cristo na cruz, Deus anulou o registro dos pecados e venceu todas as potências que poderiam escravizar o ser humano. Portanto, os cristãos agora são livres e não devem se submeter a nada ou a ninguém que não seja Cristo.

No Evangelho (Lc 6,12-19), afirma-se que a missão nasce da visão da realidade: ‘uma necessidade, um chamado’. Jesus constata a situação de sofrimento do povo e compadece-se, chama mais pessoas para lutar pela causa da libertação. Jesus estava comprometido com um projeto de libertação integral do ser humano, por isso ia ao encontro dos mais excluídos: povoados, periferias, margem. Lá, Ele vê melhor a realidade, isto é, a condição das pessoas: cansadas, abatidas, como ovelhas sem pastor, sem rumo, sem horizontes etc. Então, Ele chama mais pessoas para este projeto. A Igreja, como continuadora de sua missão, tem aqui sua orientação, lugar social para a atuação política.

A missão de Jesus e da Igreja é salvar a pessoa na sua totalidade. Sua atuação na política é sempre profética, quando seu compromisso é com os empobrecidos, não se atrela aos poderes deste mundo. A Doutrina Social da Igreja nos diz que a missão da Igreja não se reduz a salvar almas, mas à pessoa na sua totalidade.

“A tarefa da evangelização implica e exige uma promoção integral de cada ser humano. Já não se pode afirmar que a religião deve limitar-se ao âmbito privado e serve apenas para preparar as almas para o céu. Sabemos que Deus deseja a felicidade dos seus filhos também nesta terra… Por isso, a conversão cristã exige rever especialmente tudo o que diz respeito à ordem social e consecução do bem comum” (Papa Francisco, Evangelli Gaudium, 182).

Para que esse Projeto libertador se concretize na América Latina e no Caribe, o Documento de Aparecida afirma:

“Os discípulos e missionários de Cristo devem iluminar, com a luz do Evangelho, todos os âmbitos da vida social. A opção preferencial pelos pobres, de raiz evangélica, exige atenção pastoral voltada aos construtores da sociedade. Se muitas das estruturas atuais geram pobreza, em parte, é devido à falta de fidelidade a compromissos evangélicos de muitos cristãos com especiais responsabilidades políticas, econômicas e culturais”. (501).

Neste mesmo documento, também, lemos: “Nossa pátria é grande, mas será realmente grande quando o for para todos, com maior justiça. Na verdade, é uma contradição dolorosa que o Continente com o maior número de católicos seja, também, o de maior iniquidade social” (527). Fala-se também de estruturas justas, valores morais, políticas públicas, bem comuns e o exercício de uma ‘imaginação da caridade’ que permita soluções eficazes para o problema da iniquidade (537).

Também no Evangelho de hoje, vemos que Jesus envia os doze discípulos, isto é, a totalidade. Todos somos chamados para a missão de resgatar a dignidade das pessoas que foram e são atingidas pela doença, violência, pobreza, ou foram privadas de saúde, moradia, terra, educação, cidadania e tantos outros obstáculos. Jesus recomenda uma missão de gratuidade, “de graça recebeste, de graça deveis dar”. Para a missão de tirar as desgraças e devolver a esperança, Jesus alerta que, para instaurar o seu Reino, devemos usar os meios corretos e oferecer a nossa participação e contribuição. Os discípulos recebem o mesmo poder de Jesus: desalienar as pessoas (expulsar demônios) e libertá-los de todos os males (curar doenças).

Os enviados são portadores da libertação, rejeitá-los é rejeitar a salvação e atrair sobre si o julgamento de Deus. Se não tivermos a graça de ir “às ovelhas perdidas da casa de Israel”, se pelo menos não criticarmos os que lá foram já será um grande avanço; caso contrário, combatê-los, seria combater o próprio Deus que tocou o coração deles para que lá fossem em seu nome. “Eu vim ver vocês e como estão tratando vocês aqui no Egito. Eu decidi tirar vocês da opressão egípcia e levá-los para uma terra onde corre leite e mel” (Ex 3,16-17). “Eu vi a miséria do meu povo… ouvi seu clamor… conheço seus sofrimentos… desci para libertá-lo” (Ex 3,7-10).

Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.

 


Padre Leomar Antonio Montagna é presbítero da Arquidiocese de Maringá, Paraná. Doutorando em Teologia e mestrado em Filosofia, ambos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR – Câmpus de Curitiba. Foi professor de Teologia na Faculdade Missioneira do Paraná – FAMIPAR – Cascavel, do Curso de Filosofia da PUCPR – Câmpus Maringá. Atualmente é Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças em Sarandi PR.