Estamos no penúltimo sábado do mês de novembro (22). Eu aqui triste e acabrunhado. Ainda impactados com as ultimas noticias a respeito do assassinato do pai de família João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, nesta quinta-feira (19), véspera do Dia Nacional da Consciência Negra, por seguranças da rede de supermercados Carrefour, no bairro Passo D’Areia, na zona norte de Porto Alegre/RS. A responsável pela fiscalização da segurança do estabelecimento, limitou-se a filmar o episódio, impendido que aquele homem negro fosse espancado até a morte.
Este é o país que vivemos. No mesmo dia, a candidata, Leila Maria dos Santos, de 49 anos, que havia concorrido às eleições para o cargo de prefeita do município de Curralinho, em Belém, nas eleições municipais deste ano, foi esfaqueada e morta no bairro do Tenoné, pelo seu ex-marido. Mais um crime de feminicídio, entre tantos outros que ocorrem por estas Terras Brasilis.
Também faço aqui o registro das ameaças de morte, contra a primeira vereadora negra da cidade de Joinville (SC), eleita para o cargo de suplente de um branco. Ana Lucia Martins registrou boletim de ocorrência e prestará depoimento na delegacia. Ela foi eleita no domingo (15) com 3.126 votos, sendo a sétima candidata mais votada na cidade.
Situações como estas citadas acima, fazem parte do cotidiano das vidas de pessoas pretas por este Brasil afora. Mesmo em situações como estas, ainda não foram suficientes e impedisse que um dos navegantes da nau errante do desgoverno que assola o nosso país, viesse a público dizer que “NÃO EXISTE RACISMO NO BRASIL”. As vidas dos jovens negros assassinados a cada 23 minutos no país, não importam para este senhor negro, mas uma jabuticaba a mais no cenário da luta do povo negro, pois é mais um daqueles que é preto por fora, mas branco por dentro, como define o Movimento Negro Unificado do Brasil. Certamente não conhece a realidade das comunidades pobres das periferias das nossas cidades, em que as pessoas pretas são suspeitas só por causa da cor de suas peles.
Também não é para menos! Para quem negou a Pandemia e o poder letal do vírus. Negou a corrupção. Negou os benefícios da Ciência e da comunidade científica. Negou o fogo e o desmatamento da Amazônia. Negar o racismo já era esperado. É a negação do óbvio, ululante. Somos o objeto de chacota mundial. As piadas se sucedem mundo afora.
Mais vergonha passamos, frente à opinião publica mundial. De chacota em chacota, vamos vivendo por aqui. De sorte que a Organização das Nações Unidas (ONU) tratou de desmentir o incauto, afirmando que o debate sobre racismo é urgente. Segundo a instituição internacional, a morte do senhor negro João Alberto Silveira Freitas “é um ato que evidencia as diversas dimensões do racismo e as desigualdades encontradas na estrutura social brasileira”.
Perdeu a grande chance de ficar calado, já que não consegue enxergar o racismo estrutural e institucionalizado, apesar dos seus longos anos de vivência na carreira militar, tendo acesso talvez a bibliografias que pouco contribuíssem para uma consciência crítica, acerca do tema em questão. Provavelmente deve ter usado como livros de cabeceira as obras de Benjamin Constant e Augusto Comte.
Como tentativa de ajudá-lo a adquirir conhecimentos mais condizentes com a realidade do racismo estrutural presente em nossa sociedade, sugiro que leia urgentemente as seguintes obras: Laurentino Gomes – ESCRAVIDÃO; Gilberto Freire – CASA-GRANDE & SENZALA; Josué de Castro e a Geografia da Fome no Brasil; e, se nada disso adiantar, quem sabe não possa ler Jessé Souza e A elite do atraso: da escravidão a Bolsonaro. Se nada disso adiantar, sou obrigado a concordar com a negra, mulher, ativista, marxista, feminista Americana Ângela Davis quando diz: “Numa sociedade racista, não basta não ser racista. É necessário ser antirracista.” Ou com o eterno bispo Pedro que me disse certa feita: “Chicão, militar para é apenas um verbo.”