A oração que agrada a Deus

Sábado da terceira semana da quaresma. Seguimos fazendo a nossa caminhada rumo à Páscoa. Dentro de pouco mais de três semanas, estaremos lado a lado com Ele, celebrando a sua Páscoa. A quaresma nos prepara para lá chegar. Tempo oportuno para exercermos a nossa conversão. Mudança de vida no mais profundo de nosso ser. Conversão esta fundamentada pelo exercício diário da oração. Na intimidade do nosso estar a sós com o Senhor, vamos reconhecendo a nossa limitação e pequenez, num diálogo aberto, franco e sincero, diante da grandeza d’Ele que nos criou.

O mês de março vai chegando ao seu final. Um mês que teve de tudo um pouco. Começamos lembrando a luta das mulheres para fazer valer os seus direitos, frente a uma sociedade predominantemente machista e patriarcal; lembramos também do dia 13 de março, em que o nosso Papa Francisco completou nove anos de seu pontificado. Ele que foi eleito à Cátedra de Pedro em 2013, pelos 115 cardeais que integravam o conclave, para ocupar o trono de Pedro, que estava vago desde a renúncia do papa anterior, Bento XVI. O argentino Jorge Mario Bergoglio, primeiro latino-americano a ser eleito como o 266º papa, que já chegou causando: recusou viver no luxo do Palácio Episcopal e preferiu morar na casa Santa Marta, refazendo assim o seu compromisso com os mais pobres e com a justiça social. Esse Chicão é o cara!

Papa Francisco um homem de Deus, como tantos outros que temos entre nós. Aliás, a Igreja dos pobres tem alguns expoentes que marcaram positivamente a caminhada desta Igreja. Homens e mulheres que fizeram a diferença no seu seguimento a Jesus de Nazaré. Deram as suas vidas pelas causas do Reino, como Santa Dulce dos pobres (1914-1992), da mesma forma que São Romero de América (1917-1980). Vidas pela vida! Vidas pelo Reino! Pessoas de profunda vida de oração. Oração que alimentava os seus sonhos na esperança de construir o Reino entre nós. Num mundo dilacerado pelo horror da guerra, Santa Dulce assim dizia: “Se houvesse mais amor, o mundo seria outro; se nós amássemos mais, haveria menos guerra. Tudo está resumido nisso: Dê o máximo de si em favor do seu irmão, e, assim sendo, haverá paz na terra”

Oração na ação. Oração para a ação. Oração que deve fazer parte intrínseca da vida do cristão seguidor de Jesus. Oração que é a grande temática proposta pela liturgia deste sábado. No texto proposto para este dia (Lc 18,9-14), Jesus está mais uma vez, ensinando os seus a rezar. Se em Mateus, Ele aconselha: “Quando você rezar, entre no seu quarto, feche a porta, e reze ao seu Pai ocultamente; e o seu Pai, que vê o escondido, recompensará você”, em Lucas, o Mestre vai dizer que a oração não pode ser algo que realce a prepotência, a arrogância e a auto-suficiência da pessoa orante diante de Deus. Também não pode ser algo que diminua ou menospreze a pessoa do outro, como fez o fariseu da parábola, contada hoje por Jesus.

Rezar é entrar em sintonia com Deus. É deixar-se ser preenchido pela presença e ação d’Ele em nós. É deixar ser consumido pela força do Espírito: “Eis que faço novas todas as coisas” (Apoc 21,5) Diante do Deus onipotente e onisciente, reconhecemos a nossa fragilidade e do quanto necessitamos d’Ele em nossas vidas. Quanto mais próximos nos sentirmos de Deus, mais reconhecemos a sua grandeza e magnitude. Quanto mais distantes d’Ele estarmos, mais arrogantes e prepotentes nos sentimos. Como fez o fariseu diante do publicano da parábola. Na oração confiante e sincera, reconhecemos e confessamos a nossa pequenez, recorrendo sempre à misericórdia e a amorosidade de Deus. Deus é amor, misericórdia, compaixão e perdão! Ele sabe tudo que precisamos, mas quer contar com a nossa humildade em reconhecer aquilo de necessitamos, para crescer mais e mais, pois o próprio Jesus assim conclui: “Quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado”. (Lc 18,14) Simples assim.

Oração que se faz na ação cotidiana de nossas vidas. É necessário reservar sempre um momento em nosso dia a dia para estar à sós com o Senhor. Afonso Maria de Ligório (1696-1787), fundador da Congregação do Santíssimo Redentor (Redentoristas) costumava afirmar: “Quem reza se salva, quem não reza se condena”. Na oração adentramos o nosso interior e sentimos lá no mais intimo de nosso ser a presença amorosa de um Deus que muito nos ama. Através da oração nos revelamos quem nós de fato somos, já que o coração não se engana, até porque, “A boca fala do que o coração está cheio”. (Mt 12, 34) Como estamos no tempo da quaresma, e precisamos cuidar da nossa conversão, a oração é uma ferramenta indispensável para alcançarmos este objetivo. Que possamos fazer sintonia com o pensamento do filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard (1813-1855) que dizia: “A função da oração não é influenciar Deus, mas especialmente mudar a natureza daquele que ora”.

 


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.