A oração que agrada a Deus

Trigésimo domingo do tempo comum. Estando findando o mês missionário, a Igreja Católica reserva este domingo para o Dia Mundial das Missões. É de praxe acontecer que no penúltimo domingo de outubro, se comemora como o Dia das Missões. Um domingo de oração e de evangelização dos povos, no intuito de incentivar a cooperação missionária pelo mundo e agradecer a grande contribuição dos missionários e missionárias, espalhados pelo mundo na construção de outro mundo possível, mais justo, fraterno, digno e gratificante, onde todos tenham aquilo que precisam para viver com dignidade de filhos e filhas de Deus. Lembrando que esta data foi criada pelo Papa Pio XI, em 1926.

Todo dia é dia de oração! Toda hora é hora de rezar! O dia de hoje é especial. Oração que é o encontro pessoal e comunitário com Deus. Momento para estar a sós com Ele e dialogar de maneira direta, franca e sincera, numa relação de comunhão: Pai e filho. Ele que nos conhece profundamente, sabe de tudo o que necessitamos, mas quer que nos apresentemos a Ele em forma de oração. Nosso maior modelo e referência de oração é o próprio Jesus. Ele rezava sempre, sobretudo nos momentos de suas maiores decisões. Na oração não há espaço para a falsidade, hipocrisia e soberba. Deus exige do ser orante, humildade, sinceridade, consciência do ser limitado que somos e o entendimento acerca da grandeza e da amorosidade de Deus. Na nossa relação filial com Deus, manifestamos quem realmente nós somos. Ser o que se é, nem mais, nem menos.

Os dias são difíceis. A hora escura da noite das trevas se faz presente no meio de nós. Os valores foram invertidos e as pessoas se manifestam com os motivos mais torpes, revelando as suas entranhas cavernosas e obscuras. Os ataques enfurecidos se sucedem numa proporção assustadora, fazendo corar de vergonha os fariseus do tempo de Jesus. Até mesmo a autoridade máxima dos católicos, tem experimentado da força desproporcional das “pessoas de bem”. No domingo passado (16), por exemplo, o Sumo Pontífice foi atacado por causa de uma de suas postagens em que assim se manifesta: “Deus Todo-Poderoso abençoe abundantemente aqueles que dividem o pão com os famintos”. O “comunista” de Roma fazendo valer aquilo que está no Evangelho. Simples assim!

A grande temática deste domingo é a oração. Não de qualquer oração, mas a oração que agrada a Deus. Um Deus que se manifesta sempre do lado dos pobres, pequenos e marginalizados. Foi assim desde os tempos mais antigos. Isaías que profetizou em Judá entre os séculos 8 e 7 a.C., assim dizia acerca do jejum que agradava a Deus: “O jejum que eu quero é este: acabar com as prisões injustas, desfazer as correntes do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e despedaçar qualquer jugo; repartir a comida com quem passa fome, hospedar em sua casa os pobres sem abrigo, vestir aquele que se encontra nu, e não se fechar à sua própria gente”. (Is 58,5-7) O profeta fala do jejum, mas bem que poderíamos estar falando sobre a oração com este mesmo texto.

Oração que a liturgia deste domingo nos faz refletir. Mais uma vez, nos ensinamentos de Jesus aos seus, Ele fala de como deve ser a nossa oração, se quisermos estar em sintonia com o Projeto do Pai. Para isto Ele conta uma das parábolas mais conhecidas de todos nós: a parábola do fariseu e o publicano. Duas formas distintas de se rezar. Dois jeitos de encarar a experiência de fé. Dois modos de ser e de comportar diante de Deus. O fariseu mostrando a sua mesquinhez, todo arrogante na sua prepotência e auto-suficiência, se achando o máximo, julgando e desprezando o outro diferente de si; de outro a humildade do publicano (cobrador de impostos) que, à distância reconhecia sua limitação e pequenez diante da grandeza do Deus da vida. E Jesus conclui: “Este último voltou para casa justificado, o outro não. Pois quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado”. (Lc 18, 14)

Duas realidades completamente distintas também presente hoje em nossa sociedade: aqueles que se acham os tais, gananciosos poderosos, influentes, cheios de riquezas e poder; e de outro os pobres, desvalidos e que vivem com as migalhas que caem da mesa dos ricos. Uma realidade que clama aos céus e que precisa ter fim, não porque sejamos “comunistas”, mas porque devemos preservar os valores cristãos do Evangelho da partilha, da solidariedade, da igualdade, do bem comum para todos e todas. Rezar é trazer diante dos olhos esta realidade gritante que afronta o sonho de Deus. A cabeça pensa a partir do chão que os pés estão pisando. Rezar dialogando com Deus a partir do chão que estamos pisando. Neste sentido, não basta ser perseverantes e insistentes na oração se não trazemos dentro de nós este olhar para a realidade. Um olho na Bíblia e outro na realidade, reconhecendo a nossa pequenez, recorrendo à misericórdia e a amorosidade de Deus.


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.