Quarta feira da trigésima primeira semana do Tempo Comum. Dia de finados. Momento de recordar os nossos entes que já nos deixaram, fazendo assim a sua Páscoa definitiva. O encontro com o Pai, depois de labutar tanto nesta vida. Momento de recordação, tristezas e lembranças boas, mas também de muita esperança, afinal a morte não tem a última palavra. Ao Ressuscitar o Filho, o Pai nos dá a garantia de que a vida venceu a morte e que n’Ele, alcançaremos também a vitória. Quiçá, ao final de nossa jornada, possamos repetir com alegria e convicção, aquilo que nos fora dito pelo apóstolo Paulo: “Combati o bom combate, terminei a minha jornada, conservei a fé”. (2 tm 4,7)
Páscoa definitiva! Páscoa da vida nova! A palavra “Páscoa” está no itinerário da vida cristã. Desde os primórdios que ela se faz presente com um significado muito forte e específico. Ela se origina da expressão latina “Pascha” e também do hebraico “Pessach” ou “Pesach”, ambas as origens significando “passagem”. Primeiramente significando a libertação do povo israelita dos 400 anos de escravidão no Egito, descrita no Antigo Testamento. Assim, a Páscoa era celebrada pelos judeus no intuito de rememorar a liberdade conquistada pelo povo hebreu, tendo em Moisés o enviado especial de Deus para esta magistral conquista.
Dia de relembrarmos os fieis defuntos, mas também dia de esperança de vida nova. Páscoa da Vida Nova em Cristo. Viver é projetar o nosso existir rumo à pátria definitiva. Foi assim que o Novo Testamento quis nos trazer presente a Páscoa, que é a celebração da passagem da morte para a vida, através da Ressurreição de Jesus Cristo. É por este motivo que o Calendário Litúrgico estabelece a Páscoa como a Principal Festa do Cristianismo. Este memorial do dia da Páscoa foi estabelecido por um decreto do Primeiro Concílio de Niceia no ano de 325 d.C., quando então é celebrada sempre no domingo após a primeira lua cheia do equinócio da primavera (no Hemisfério Norte) e outono (no Hemisfério Sul).
Somos discípulos e discípulas de um prisioneiro político que foi preso, torturado e assassinado pelas estruturas de poder da Palestina: religiosos em conluio com as lideranças políticas romanas. Jesus é para nós o símbolo de todos aqueles inocentes que foram mortos injustamente. Tudo o que Ele queria era trazer presente para nós o Reino de Deus: paz, justiça, amor, compaixão, solidariedade, partilha, misericórdia, vida plena para todos. A crueldade como mataram Jesus, continua presente em nossa história, quando muitos dos nossos, continuam sendo crucificados ainda hoje, fruto da terrível maldade humana.
A morte não é o fim. A vida é a nossa esperança maior. A vida triunfou. Viver sem ter a perspectiva de que ao término desta nossa jornada não existirá mais nada, seria muito melancólico e frustrante. Deus nos chama para a vida e não para a morte. A Ressurreição é este encontro definitivo que teremos com o Pai, onde o veremos face a face. Não acreditar na Ressurreição seria muito trágico para nós. A esperança viva está em Deus e o seu sonho é o de que estejamos todos junto d’Ele na glória. Apeguemos-nos, portanto, aquilo que Paulo nos diz: “Se Cristo não ressuscitou, inútil é a nossa fé” (1 Cor 15,14) O núcleo da fé cristã é a Ressurreição de Jesus que abre-nos a porta da esperança de que todos poderemos lá chegar.
Como a liturgia de hoje nos propõe, devemos estar sempre vigilantes e confiantes no Senhor. Celebrar a morte dos que partiram é estar atentos à vida que segue o seu curso. A memória dos que partiram deve estar sempre presente em nossa caminhada histórica, sobretudo dos seus feitos grandiosos. Lembrar dos que partiram é trazer presente tudo aquilo que eles representaram e ainda representam para cada um de nós. A tristeza nos invade o coração, mas a esperança brota no sonho que acalentamos de um dia estar usufruindo da vida plena em Deus. As pessoas são lembradas por aquilo que elas foram de significância para nós. Diante deste contexto, resta-nos perguntar: como seremos lembrados após a nossa partida? O que de bom deixaremos para que os outros possam se lembrar com carinho de nós? Com quais frutos seremos lembrados? As pessoas sentirão saudades de nós por aquilo que fomos para elas? Que epitáfio elas escreverão em nossas despedidas delas? Viva como a semente, sempre preparada para se transformar em fruto! E que estes frutos sejam grávidos de amor!
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.