A paz que queremos

Terça feira da Vigésima Oitava Semana do Tempo Comum. O outubro missionário vai adentrando as nossas vidas, cobrando de nós uma postura e ação missionaria diante dos fatos da vida que nos rodeiam. Sermos missionários em sintonia com a Igreja que nesta terça-feira, 17 de outubro, em cumprimento ao desejo do Papa Francisco, estamos rezando pela paz. Uma iniciativa do papa, que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) nos propõe, um dia de oração e jejum pela paz e a reconciliação dos que estão vivendo em contextos de guerra, especialmente judeus e palestinos. Cada um, de sua casa, terá a missão de reservar um pouco de seu tempo para este momento de oração. “Tudo o que pedirem em oração, se crerem, vocês receberão”. (Mt 21,22)

Enquanto isso, em Roma, a Assembleia Sinodal sobre Sinodalidade, segue aprofundando na dimensão essencial do caminhar de uma Igreja sinodal. Na Sala Paulo VI, iniciada em 04 de outubro, indo até o dia 29. A questão que nos desafia à todos, é a escuta atenta, no intuito de responder à pergunta: “Como podemos compartilhar dons e tarefas a serviço do Evangelho?”. Atitude de escuta das vozes e clamores que brotam no meio de nossa caminhada eclesial, como definiu uma das participantes da Assembleia, a irmã Patrícia Murray: “escutar o sopro da vontade de Deus entre diferentes vozes”. Falar é fácil! Difícil é escutar. Os púlpitos de nossas igrejas que o digam.

Assembleia Sinodal em Roma e festa em toda a Igreja. No dia de hoje, celebramos a Festa de Santo Inácio de Antioquia – bispo e mártir. O terceiro bispo da metrópole da Síria, Antioquia, sucedendo a Pedro e Evódio. O nome Inácio já diz tudo: Ignis, que quer dizer “fogo”. Um homem de Deus, que é lembrado pelas expressões de intenso amor a Jesus Cristo, por ele escritas durante a viagem de Antioquia a Roma, nas sete cartas dirigidas às igrejas. Suas palavras inflamadas de amor a Jesus e à Igreja ficaram marcadas na lembrança de muitas gerações futuras. Em contexto de guerra, invocamos uma de suas frases: “Nada é mais excelente do que a paz, que desarma todo inimigo espiritual e carnal”.

A paz que queremos é fruto da justiça. A prática da justiça é o traje principal da festa, como Jesus mesmo mencionou no texto do Evangelho que refletimos no domingo passado. “O amor e a fidelidade se encontrarão; justiça e paz se abraçarão”. (Sl 85,11) Apesar dos corações carrancudos, rancorosos e belicosos das lideranças políticas e econômicas, Deus anuncia a paz, como plenitude e prosperidade das condições de vida. Para tanto, as pessoas precisam se converterem ao projeto d’Ele. A glória da presença divina de Deus, volta à terra, acompanhada pelo amor, fidelidade, justiça e paz, que produzem prosperidade para todas as pessoas.

Que mundo maluco é este em que estamos vivendo? Crianças indefesas são mortas, ceifando vidas, sonhos e projetos, daqueles que serão o nosso futuro, sob este planeta tão castigado. Segundo dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), mais 700 crianças foram mortas na Faixa de Gaza e outras 2.450 foram feridas desde o último sábado, quando o conflito entre o Hamas e Israel começou. Quando matamos, permitimos, ou assistimos a morte das nossas crianças, significa que já estamos mortos há bastante tempo e não o percebemos. As crianças são o futuro que brilha no horizonte de esperança e de possibilidades infinitas. Devemos ver as nossas crianças como sementes de sonhos que florescerão em um futuro cheio de realizações. Nas crianças de hoje, nossos sonhos se eternizam como aquilo que não fomos capazes de alcançar.

Somente a Palavra de Deus pode nos confortar num momento tão triste, conturbado e angustiante como este. É o que tentamos fazer, buscando refúgio, e assim encontrarmos forças para continuar resistindo, indignando, na teimosia evangélica do seguimento a Jesus de Nazaré. No contexto bíblico de hoje, a liturgia nos coloca diante de um contexto, em que Jesus está desmascarando um fariseu, dentro de sua própria casa. Tudo, porque o Mestre não lavara as mãos antes de sentar-se à mesa para a refeição. Lembrando que os fariseus eram exímios cumpridores de regras, normas, leis e preceitos religiosos, deixando de lado o essencial: a justiça e o amor.

As aparências, geralmente escondem aquilo que as pessoas realmente são. Por trás de uma falsa vida religiosa, os fariseus escondiam roubos, maldades. Eram especialistas em leis, apossavam da chave da ciência, interpretando as leis de acordo com seus próprios interesses; exercendo assim controle ideológico sobre o povo, impedindo-o de ver as possibilidades de transformação. Além de produzirem as estruturas de morte e exploração do povo, não permitiam que houvesse qualquer possibilidade de manifestação contrária, no sentido de transformar esta realidade. Aliás, este foi um dos motivos pelos quais, os religiosos entregaram Jesus ao Império Romano. O que não é muito diferente nos dias de hoje, quando alguns dos nossos “religiosos”, entregam Jesus para ser crucificado, na pessoa dos pobres e marginalizados.

 


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.