Terça feira da décima primeira semana do tempo comum. Nossa vida que vai acontecendo no compasso das horas da pandemia. Não há como ignorar que mais de 500 mil pessoas, perderam as suas vidas para o vírus maldito. Vidas que não as recuperamos jamais. Muitas destas vidas, bem que poderiam ter sido evitadas, se aqueles que nos governam, tivessem atitudes mais sérias. Um clamor que chega aos ouvidos do nosso Deus. Misericórdia! Clamamos ao Senhor da vida. Os mais pobres são os mais atingidos por esta pandemia. Muitos deles passam fome. Até quando, Senhor!?
Sigo daqui deste meu quarto, me recuperando e contando os dias e as horas para o retorno à Goiânia, quando então passarei pela avaliação médica da cirurgia. Só depois disto, estarei liberado para o retorno ao meu Araguaia. Sonho dia e noite com esta possibilidade. Não vejo a hora deste momento acontecer. Não saberia viver sem estar ligado àquela realidade. Que saudades sinto das nossas comunidades e das aldeias indígenas! Somente quem passa por esta experiência, sabe do que estou falando. As aldeias indígenas, são cheias de vida e transmite uma energia própria que me revitaliza a cada dia que lá estou. Deus foi muito generoso para comigo ao permitir que estes povos fizessem parte da minha história de vida. Um longo caminho percorrido.
Caminho que todos nós fazemos em nossas vidas. Cada um de nós desenvolve o seu modo próprio de caminhar. Caminho feito de escolhas pessoais, decisões tomadas, atitudes. Cada um faz o seu caminho, de acordo com os seus valores e convicções. Estar nesta vida é estar pronto para caminhar em direção às realizações. Toda a nossa vida é definida pelos caminhos que escolhemos fazer. Para aqueles que são cristãos e escolhem o seguimento de Jesus de Nazaré, optam pelos valores do Reino propostos pelo mestre. Um caminho que passa pela porta estreita, como nos propõem Jesus no evangelho do dia de hoje: “Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso é o caminho que leva à perdição, e muitos são os que entram por ele! (Mt 7, 13)
O caminho faz parte da nossa vida de cristãs seguidores de Jesus de Nazaré. Aliás, “o caminho”, foi o primeiro nome dado a Igreja que se reunia nas primeiras comunidades primitivas. Tal nome se deve a uma das falas do próprio Jesus: “Eu sou o caminho a verdade e a vida.” (Jo 14,6) Daí decorre a experiência dos primeiros cristãos, que se definiam “caminhantes”, como seguidores e seguidoras deste Jesus, percorrendo o caminho d’Ele. Caminho que também se concretiza na prática do projeto de vida descrito nas Bem aventuranças (Mt 5, 3-12)
Caminhos que também somos convidados e desafiados a percorrer. Não se trata de algo muito simples de se fazer, sobretudo porque muitos de nós ainda estamos apegados ao nosso mundinho de interesses pessoais, muitas vezes egocêntricos. Neste caminho que fazemos com Jesus, Ele nos pede algo mais. Ir mais além. E nesta sua perspectiva, não basta contentar-nos com o mínimo necessário para viver, como aquele que adota para si a famosa frase: “eu não faço mal a ninguém.” Para estes, resta a pergunta: e o bem, faz?
No texto do evangelho de hoje, Ele também nos propõe uma filosofia de vida bastante prática: «Tudo o que vocês desejam que os outros façam a vocês, façam vocês também a eles”. (Mt 7, 12) A lei da reciprocidade, tão difícil de ser vivenciada no nosso dia a dia. Uma verdadeira “regra de ouro”, a moldar o nosso jeito de ser, a nossa existência, tendo a mesma preocupação com os outros da mesma forma que adotando para nós mesmos como regra de vida. É a lei do amor que somente quem se deixa mover pelo amor é capaz de caminhar nesta mesma pedagogia que Jesus nos traçou.
Todavia, para dar conta desta grande tarefa, não basta ter o conhecimento de quem foi Jesus e o que Ele fez. É necessário ter a sabedoria de fazer do que Ele nos revelou e nos ensinou, o nosso projeto de vida. Adequar o nosso projeto de vida ao projeto do Reino revelado por Ele. Sem nos esquecermos de que o Projeto de Jesus passa necessariamente pelos “deserdados filhos de Eva”. Os pequenos que são a predileção do próprio Deus. Portanto, é necessário que tenhamos a sabedoria do discernimento para acolher o Reino querido por Deus. Quiçá possamos fazer como Cora Coralina: “O saber a gente aprende com os mestres e os livros. A sabedoria se aprende é com a vida e com os humildes.” Neste sentido, como forma de saber fazer o discernimento correto, para percorrer o caminho de Jesus, possamos rezar com salmista: “Feliz a pessoa que não vai ao conselho dos injustos, não pára no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos zombadores. Pelo contrário: seu prazer está na lei do Senhor e medita sua lei, dia e noite.” (Sl 1, 1-2)