Reflexão litúrgica: Quarta-feira, 21/06/2023
11ª Semana do Tempo Comum
Na Liturgia desta quarta-feira da XI Semana do Tempo Comum, vemos, na 1a Leitura (2Cor 9,6-11), que o apóstolo Paulo continua a exortação aos coríntios sobre a coleta em favor da comunidade de Jerusalém. Deem como determinaram em seu íntimo, isto é, livremente e com alegria. Deus será generoso para com os doadores. Além disso, a coleta provocará uma oração de agradecimento naqueles que dela se beneficiarem. Assim vemos que a coleta não é simples ato de esmola, mas de comunhão entre as igrejas, um sinal de graça divina e de consequente gratidão.
Deus ama quem é generoso, quem partilha, não só algo externo, mas o seu próprio ser, pois se assemelha ao próprio Deus que não cessa de nos doar a sua graça, seu amor e seu perdão.
A doutrina da Igreja nos ensina que as coisas, os bens materiais, as estruturas sociais, as próprias leis existem em função do bem das pessoas. O fim da sociedade é a realização de todos os seres humanos, colaborando uns com os outros. A pessoa humana é autor, centro e fim de toda vida econômica, social e política. O Papa São João Paulo II, assim nos alerta sobre o dever da partilha não só do que nos sobra, mas do que é necessário aos mais carentes:
“Assim, faz parte do ensinamento e da prática mais antiga da Igreja a convicção de estar obrigada, por vocação – ela própria, os seus ministros e cada um dos seus membros – a aliviar a miséria dos que sofrem, próximos e distantes, não só com o supérfluo, mas também com o necessário. Nos casos de necessidade, não se pode preferir os ornamentos supérfluos das igrejas e os objetos preciosos do culto divino; ao contrário, poderia ser obrigatório alienar esses bens para dar de comer, de beber, de vestir e casa a quem disso está carente” (SRS, 31).
No Evangelho (Mt 6,1-6.16-18), Jesus nos convida à conversão e à prática da justiça e nos apresenta três atitudes importantes que os cristãos são chamados a viver: a caridade, a oração e o jejum. Estas três práticas religiosas e sociais devem visar ao agrado de Deus e não, necessariamente, aos aplausos humanos; devem ser realizadas com autenticidade, sem exibicionismo, este é o conselho de Jesus aos seus discípulos e a todos nós: que, se possível, só o Pai veja e saiba o bem que é realizado.
Jesus não nega o valor dessas práticas em relação ao próximo (caridade), a Deus (oração) e a si mesmo (jejum), mas ele mostra como devem ser feitas para que se tornem autênticas.
– A Caridade: deve expressar o compromisso com a vida do outro. Qualquer outra motivação transforma esse gesto em promoção de quem oferece, desvirtuando seu sentido. Deve ser em segredo e não uma ocasião para se exibir, para ser elogiado ou tirar vantagens publicamente. Ela não se reduz à oferta de dinheiro, alimentos, roupas e outros objetos: “Misericórdia, eu quero e não sacrifícios”. Deus espera que tiremos algo de nós mesmos para Lhe oferecer. A oferta exterior precisa simbolizar e significar essa doação interior: tiramos algo de nós, um pedaço mesmo, para oferecer a Deus que vive em nossos irmãos. A caridade deve nos levar a um gesto de doação aos nossos irmãos, no serviço fraterno, na solidariedade e na partilha.
O Papa Francisco nos propõe quinze simples atos de caridade como manifestações concretas de amor:
- Sorrir, um cristão é sempre alegre!
- Agradecer (embora não precise fazê-lo).
- Lembrar ao outro o quanto o amamos.
- Cumprimentar com alegria as pessoas que você vê todos os dias.
- Ouvir a história do outro, sem julgamento, com amor.
- Parar para ajudar. Estar atento a quem precisa de você.
- Animar a alguém.
- Reconhecer os sucessos e qualidades dos outros.
- Separar o que você não usa e dar a quem precisa.
- Ajudar a alguém para que ele possa descansar.
- Corrigir com amor; não calar por medo.
- Ter delicadezas com os que estão perto de você.
- Limpar o que sujou, em casa.
- Ajudar os outros a superar os obstáculos.
- Telefonar ou visitar mais seus familiares, parentes e amigos.
– A Oração: deve nos levar a uma experiência pessoal com Deus, não deve ser uma repetição monótona de fórmulas, nem mesmo uma lista de petições. Deve ser um diálogo com Deus para entender e aceitar o seu projeto. Essa oração é escuta e abertura do coração para nos dispor a acolher os planos de Deus em nós. Requer tempo e ambientes adequados.
– O Jejum: vai muito além da abstenção de alimentos, deve nos levar a um gesto concreto de conversão: privar-se de algo para uma maior liberdade interior. Não é expressão de luto e de dor, mas sim expressão de alegria pela presença do Reino de Deus no mundo. Jejuar é criar espaço em nós para que a graça de Deus nos refaça e nos preencha.
Qual é, então, o melhor jejum? Algumas dicas:
- Jejum de palavras negativas; dizer palavras bondosas.
- Jejum de descontentamento; encher-se de gratidão.
- Jejum de raiva; encher-se com mansidão e paciência.
- Jejum de pessimismo; encher-se de esperança e otimismo.
- Jejum de preocupações; encher-se de confiança em Deus.
- Jejum de queixas; encher-se com as coisas simples da vida.
- Jejum de tensões; encher-se com orações.
- Jejum de amargura e tristeza; encher o coração de alegria.
- Jejum de egoísmo; encher-se com compaixão pelos outros.
- Jejum de falta de perdão; encher-se de reconciliação.
- Jejum de palavras; encher-se de silêncio para ouvir os outros.
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.
Padre Leomar Antonio Montagna é presbítero da Arquidiocese de Maringá, Paraná. Doutorando em Teologia e mestrado em Filosofia, ambos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR – Câmpus de Curitiba. Foi professor de Teologia na Faculdade Missioneira do Paraná – FAMIPAR – Cascavel, do Curso de Filosofia da PUCPR – Câmpus Maringá. Atualmente é Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças em Sarandi PR.